Sunday, July 13, 2008
Saturday, July 12, 2008
Tre Graduation, Final
A festa de formatura já estava na metade quando Madame Máxime finalmente pediu para pararem a música.
- Convidamos todos os presentes a se sentarem, pois agora vamos anunciar os vencedores de Rei e Rainha do Baile de Formatura. – quando a pista de dança foi se esvaziando, ela tornou a falar. – A mesa de jurados foi composta por: Henri Renoir, Enrico Beltoise, Charlie Babineaux, Elena Bourque (nossos convidados especiais para esta festa, ex-alunos da escola da década de 60), pelas professoras Emily McGregor e Françoise Dekeuwer-Defossez e por mim, Olímpia Máxime. Os casais candidatos são: Anabel Damulakis McCallister e Bernard Lestel, Beatrice...
Uma explosão de gritos e palmas deu-se início ali perto. Bernard (que estava vestido com uma grossa jaqueta de couro e um enorme topete nos cabelos) acenou para nossos amigos em resposta. O avô dele, Edmond Lestel, e a avó de Ian, Danielle Renoir, comandavam a bagunça. Senti minhas pernas amolecerem de vergonha, ansiedade, e raiva. Raiva sim. Estava me sentindo um verdadeiro holofote humano com aquele vestido de cetim prateado enquanto as outras candidatas se vestiam tão adequadamente discretas. Enquanto tentava me acalmar, apertava a mão de Bernard com tanta força que meus dedos estavam ficando em câimbras e fazia uma nota mental de esganar a Isabel no fim de tudo. Uma nova explosão de palmas, mas dessa vez generalizada, anunciou que Madame Máxime tinha finalmente terminado de ler a lista dos candidatos. Ela ocupou seu lugar no centro da mesa de jurados e Emily se levantou, indo até o microfone.
- Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer em meu nome e em nome de toda a comissão de formatura e todos os formandos, a presença da nossa “vanguarda”. Vocês estão dando um toque especial à nossa festa. – todos recomeçaram a aplaudir. O avô de Ian parecia muito à vontade, e até se levantou de seu lugar fazendo reverências. – Quero parabenizar também todos os casais candidatos do concurso e dizer que foi muito difícil para todos nós escolhermos somente um. Todos são ótimos.
Novas palmas, gritos, assovios e um coro estrondoso “Bê&Be”. Meu estômago não parava de dar voltas e apertei ainda mais a mão de Bernard, que pareceu já estar familiarizado com a dor, pois não reclamou, apenas sussurrou no meu ouvido:
- Fique calma. Nós temos dois aliados na mesa de jurados. Teríamos três, mas meu avô decidiu ficar de fora, pois seria muito injusto. – ele riu irônico e falou ainda mais baixo: - como se os avôs de Ian e Clarie fossem completamente imparciais no julgamento...
- Clarie... Clarisse? – perguntei com um nó na garganta.
- Sim. Essa é a prova real de que ela não “brotou do chão” como você disse. Nossos avôs já eram muito amigos naquela época.
- É assim que você pretende me acalmar, Bernard? Primeiro me contando que a sua ligação com a Clarie é jurássica e que eu nunca vou poder mudar isso, e depois me dizendo que o avô dela é um dos jurados desse maldito concurso? Não tenho mais dúvidas de que não vamos ganhar. Eu estou mais iluminada que o globo de luz, e o avô da sua amiguinha está prontinho pra me julgar...
Bernard começou a rir, o que me irritou ainda mais. Abriu a boca para dizer qualquer coisa, mas a voz de Emily soou muito mais alta e empolgada do palco.
- Finalmente, os vencedores e Rei e Rainha do Baile de Formatura da turma de 1999 são: - ela deu uma pausa proposital e todos prenderam a respiração. Meu estômago despencou. – ANABEL DAMULAKIS MCCALLISTER E BERNARD LESTEL!!!
Foi bom Bernard estar preparado, pois minhas pernas amoleceram e eu teria caído. Mas ele me apoiou com força pela cintura, me puxando para um forte abraço seguido de um beijo. Ao nosso redor, a barulheira era tanta que estava me deixando surda. Apoiada por ele, subimos até o palco onde nos coroaram, colocaram faixas, entregaram cetros e ramos de flores. Nunca em minha vida eu me imaginava no meio de uma cena daquelas, mas era oficial: eu era a rainha do meu baile de formatura.
°°°
Após Bê&Be serem consagrados como Rei e Rainha do Baile, o avô de Ian e os outros da vanguarda falaram um pouco sobre a escola nos anos em que estudaram e contaram histórias engraçadas sobre uma professora maluca sobrevivente da guerra, sobre as aulas de etiqueta com a avó da Defossez e as tediosas aulas de História da Magia na França com uma senhora que nas palavras de Henri Renoir: já estava fazendo horas extras há muitos anos.
A música voltou e a pista tornou a se encher. Henrique me arrastou até nossa mesa para recobrarmos a energia por um tempo. Rebecca e papai estavam sentados lado a lado e pareciam estarem se divertindo muito, pois suas taças de whisky de fogo jaziam pela metade e eles riam abertamente. Quando nos viram sentados do outro lado, pararam de conversar, sorridentes. Bernard e Bel chegaram um minuto depois, também parecendo exaustos. Ela usava a jaqueta de couro dele por cima do vestido. Estava sem sandálias, com os cabelos soltos, a maquiagem borrada, e claro, sem coroa, faixa, cetro e tudo o mais. A Cinderela havia se tornado Gata Borralheira. Sentaram-se do meu lado.
- A festa está muito divertida. Estava agora mesmo comentando com Richard o quanto essas músicas dos anos 60 são animadas! – Rebecca disse alto tomando mais uma boa dose de whisky. Papai concordou. – A propósito, parabéns Anabel. Sabia que você e Bernard ganhariam esse concurso! Então... uma semana na Itália, ham? – ela disse sorrindo e Bel corou. Bernard passou o braço por seus ombros, concordando satisfeito. – Quando vão?
- Vamos marcar para agosto, quando eu tirar férias do trabalho. – Bernard respondeu. Bel continuou em silêncio. Eu e Henrique nos entreolhamos e sufocamos a risada.
- Isabel, porque você nunca me levou uma garrafa de whisky de fogo para provar? É delicioso! – papai falou tomando todo o resto de sua taça parecendo impressionado. Ri.
- Porque é viciante também, papai. Não queremos que você se torne um engenheiro alcoólatra, não é? A NASA não iria gostar nada disso. – Henrique riu. – Amanhã eu te apresento à famosa “cerveja amanteigada”.
Ele sacudiu os ombros apanhando mais um copo de whisky de fogo de um elfo que passava na mesa. Rebecca logo começou a contar a história do whisky de fogo e os dois se fecharam para o mundo. Henrique se levantou.
- Vamos voltar a dançar! – ele olhou expressivo pra Bernard, que também puxou uma Bel muito contrariada de volta para a pista.
- Meus pés estão cheios de bolha! – ela disse resmungando.
- Eu te carrego, minha rainha. – Bernard disse simpático e segurou-a no colo, levando-a até a pista de dança. Ela pareceu constrangida de início, mas envolveu os dois braços no pescoço dele e se deixou levar. Acho até que dormiu.
Nos juntamos com o restante de nossos amigos e esquecemos a hora passar. Só saímos da pista de dança quando o sol já estava alto no céu de Beauxbatons.
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No dia seguinte as conseqüências da festa se mostraram bem evidentes no café da manhã. Os convidados haviam passado a noite no castelo e a maior parte deles exibia expressões exaustas e de ressaca. Sentei-me em uma das grandes mesas (que agora já não mostravam traços das quatro casas), onde meus amigos se aglomeravam. Samuel e Anne, Sávio e Dora, Brenda e Chris, Bel e Bernard, Ian e Marie, Manu e Viera, papai e mamãe (que também pareciam sonolentos, mas continuavam conversando entre si), os avôs de Bernard, Ian e Enrico Beltoise. Dominique, Gabriel e Mad, Miyako, Ty. Henrique. Tomamos café da manhã com calma repassando os melhores momentos da noite anterior e quando chegou a hora de partirmos, me deu um aperto no coração. Subi uma última vez até o Salão Comunal da Fidei para apanhar todas as minhas malas mas não queria me despedir. Dora também estava muito silenciosa enquanto juntava todas as suas coisas na porta.
- Não vou me acostumar tão cedo com a idéia de não voltar para cá em setembro.
- Nem eu... Mas não vão se livrar de mim tão fácil. Vou só esperar começar meus estudos e vou sugerir à Máxime que me contrate para reformar os uniformes desse colégio. Acho que são os mesmos desde 1920. – Dora riu reprimindo as lágrimas que queriam saltar dos olhos dela. – Você disse aos seus pais que iria morar com Sávio, ontem?
- Disse. Esperei até me entregarem o diploma, para ao menos ver um último olhar de orgulho deles. Foram embora assim que a festa começou e vão me deserdar. – as lágrimas venceram a batalha e escorreram sem parar. Ela limpou rapidamente, sacudindo os ombros. – Não vou voltar atrás. Eu amo o Sávio e eles não podem mudar isso. – Concordei com a cabeça e ela sorriu. – Estamos parecendo duas comadres. Nem a senhora da vanguarda, como é mesmo o nome dela...? Elena Bourque! Nem ela parece tão antiquada. Vamos descer. O futuro nos aguarda.
- Isso aí. – incentivei e fiz todas as minhas coisas começarem a levitar com um aceno de varinha. Ela fez o mesmo e demos uma última olhada ao dormitório antes de sairmos fechando a porta.
°°°
A viagem até Paris nunca fora tão divertida. Henri Renoir, após um pedido de Ian, começou a relatar histórias ainda mais engraçadas sobre sua época de escola, sendo eventualmente lembrado de alguém ou algum detalhe por Edmond Lestel, Enrico Beltoise e Danielle Renoir. Escutávamos com atenção.
- O castelo era recheado de pessoas exóticas. A banda da escola “Le Bonnet-Blue” (Os barretes azuis) sempre tocava nas festas. Os amigos de Danielle então, eram muito excêntricos... Uma delas queria jogar quadribol no time da escola, mas naquela época não era permitido. Acho que se vocês, meninas, têm direito a jogarem quadribol hoje em dia, devem muito à Bianca. Um príncipe sem parafusos na cabeça. Os irmãos Perrineau, um africano, um asiático e outro havaiano, surfista, que nadava todos os dias no lago do castelo mesmo que estivesse congelado! Ah, e Olívia que escrevia contos e só descobrimos isso muito tempo depois, se lembra Danielle? – a avó de Ian concordou com a cabeça, saudosa.
- E vocês dois, que comeram o pão que o diabo amassou debaixo do braço para poderem ficar juntos! A história de vocês daria um bom livro... – o avô de Bernard comentou e Henri sorriu, segurando a mão da mulher.
- Vocês estão se esquecendo das rádio novelas! Eram muito divertidas! E aquele menino que tinha fama de “bad boy”, o rebelde sem causa, se lembram? – Enrico Beltoise sorriu. Henri, Edmond e Danielle também.
- Era amigo do menino que tinha uma fixação estranha em combater seres das trevas. Só falava disso. E falando em fixação, aquela outra garota que jurava que tinha azar no amor e que todos que se apaixonavam por ela acabavam morrendo! Acho que você saiu algumas vezes com ela, não saiu, Edmond? Me lembro de você contar às risadas quando se afastou que ela era doida e tinha pedido para que você não se apaixonasse por ela. – Henri contou rindo alto e Edmond concordou.
- Sim, me lembro. Acho que se chamava Penélope ou qualquer coisa assim. – Vocês se lembram das greves de fome que a professora de botânica começava, nos jantares com muitas carnes? Ela até nos obrigava a rezar pelas almas dos frangos, porcos, vacas ou o que quer que fosse.
- Só não eram mais engraçadas que as festas de despedida que a professora de adivinhação promovia, dizendo que o mundo ia acabar.
Eles recomeçaram a rir e nos entreolhamos quase sem entender nada.
- Vocês deveriam escrever um livro sobre aquela época! Assim nós poderíamos ler com detalhes sobre cada história dessas e não ficaríamos “boiando”. – Ian deu a idéia e concordamos. Henri falou pensativo.
- É, você tem razão. Deveríamos escrever um livro sobre aqueles “anos dourados”...
Ele completou sorrindo saudoso enquanto observávamos ao longe, a silhueta minúscula de Beauxbatons desaparecer no horizonte.
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N.A.: ACABOU! ACABOU! A-C-A-B-O-U! A C A B O U!!! *aos prantos* Desculpem a minha empolgação, mas é que depois de três anos sendo fiel a este blog (e a outro antes deste, mas que prefiro não me lembrar já que ele também acabou), eu ainda não consigo acreditar que finalmente consegui formar Isa e Bel.
Formadas estão, mas isso não quer dizer que elas acabaram por aqui. Muito pelo contrário. Acho que já deixei boas indiretas de que elas vão continuar contando suas histórias, não é? Claro que com menor freqüência, afinal, o fim do texto já mostra uma super DIRETA de que vááários novos personagens estão vindo por aí para contarem suas próprias histórias.
Caríssimos leitores, estamos fechando essa era de Beauxbatons para começarmos outra. Isso mesmo. A partir de agosto, nesta mesma página, voltaremos 50 anos no vira-tempo, para o ano de 1958. Entrará no ar a “Beauxbatons Retrô” ou “Anos Dourados”, como preferirem.
Mas para continuarem acompanhando as histórias das irmãs IsaBel Damulakis McCallister, a nova casa delas é: Pink&Brain. E para continuarem acompanhando as histórias de Seth e Griffon Chronos, Tyrone McGregor, Gabriel Storm, Rory Montpellier e Miyako Kinoshita (os integrantes dessa era “atual” do blog, que ainda estão a um ano de suas formaturas) o novo endereço é: Os renegados.
Este espaço ficará fechado por um mês e passará por manutenção para acomodarmos os novos integrantes, mas os outros blogs continuam com seus funcionamentos normais. Esperamos encontrar todos novamente, em breve.
Obrigada pela paciência, compreensão, tempo, etc. e tal. Malfeito feito!
I’m useless but not for long
The future is coming on, is coming on, is coming on ♪
Clint Eastwood – Gorillaz
Tuesday, July 08, 2008
The Graduation, parte I
A partida parecia durar dias. Já estava começando a anoitecer em Beauxbatons e ambos os times começavam a se entregar ao cansaço e exaustão. O placar acirrado: Fidei 230 X 200 Nox. Nem mesmo as torcidas se levantavam ou gritavam mais para comemorarem novos gols.
A goles estava na minha mão e eu esperava Brendan e Pacy se emparelharem aos meus lados para finalizarmos a jogada contra Bridget, que estava sozinha em frente aos gols. Quando Brendan apareceu do meu lado esquerdo, lancei a goles para ele, que se desviou de Jean Savoy e confundindo Bridget, afundou a goles no aro da direita com uma velocidade incrível. A torcida amarela mal se mexeu para comemorar os dez novos pontos. Mal a goles saiu do meio do campo, todos se levantaram na arquibancada ansiosos. Miyako e Tony voavam em direção ao pomo, na extremidade sul do campo. Eu e todos os outros artilheiros, tanto da Fidei, quanto da Nox, não começamos novas jogadas e também passamos a acompanhar os dois. Miyako estava alguns centímetros na frente e estendeu a mão. Ela fecharia o punho a qualquer momento e o jogo estaria acabado, dando a final para eles. Já estava me conformando com a idéia, quando um barulho opaco se espalhou pelo ar. Um balaço lançado com violência pelo Jacki atingiu Miyako no estômago e ela começou a despencar da vassoura de uma altura de aproximadamente 5 metros.
Depois aconteceu tudo muito rápido. Tony capturou o pomo e estendeu o braço, sorrindo vitorioso e fazendo toda a massa amarela saltar das arquibancadas e correr pelo campo. Brendan me cutucou radiante dizendo “vencemos” e descendo em direção ao restante do time, que já se misturava na torcida e comemoravam o título. Fiquei parada no ar uns minutos sem me convencer da situação. Observei Miyako se levantar e sair andando em direção ao castelo sendo ajudada pelo professor e pelo restante do time da Nox. Estava um pouco pálida, mas bem.
- ISA, VOCÊ VAI DESCER OU NÃO VAI? A TAÇA É NOSSA! – Danilo gritou lá embaixo e eu me dei conta de que era a única da casa que ainda não se misturava no gramado para receber a grande taça dourada que Madame Máxime trazia.
Sorri e segundos depois, saltei no chão. Várias mãos me levaram até onde o restante do time estava e quando Tony passou a taça para nós eu soube: estava encerrando a minha “quase carreira” no quadribol com bastante estilo.
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Era véspera da festa de formatura. Os alunos que não participariam dela já estavam ocupando o barco da escola em direção a Paris para as férias de verão. Os jardins e salões do castelo já estavam completamente decorados com discos vinis, pisos quadriculados, fotos em preto e branco de bandas e celebridades da década de 60 e diversos outros objetos.
Mal abri os olhos e Dora se exaltou na cama ao lado, empolgada.
- Finalmente você acordou, Isa! As encomendas chegaram! – ela disse apontando para três grandes caixas ao pé da minha cama. - Já experimentei meu vestido, ficou ótimo! – ela abriu um grande sorriso e me sentei depressa, abrindo a primeira caixa. Um lindo vestido de cetim prateado e com a saia plissada passou entre meus dedos.
- É perfeito! – falei admirada e Dora concordou. – Vou à Sapientai entregar a encomenda. Vai comigo?
- Claro. Quero ver como ficaram os de Brenda e Anne!
Alguns minutos depois, entramos no quarto que Bel e Brenda dividiam, na Sapientai. Anne também estava lá, sentada na beirada da cama da Bel. Ela e Brenda conversavam empolgadas, cada uma segurando uma caixa do mesmo tamanho das que eu e Dora carregávamos nos braços. Bel olhava de uma a outra sem muita animação.
- Bom dia! – falei animada descarregando as três caixas que trazia na cama de Brenda. – Chegaram bem em tempo, não?
- Sim! Já experimentaram? – Anne perguntou apontando com a cabeça para as caixas. – O meu ficou maravilhoso. O da Brenda também.
- Eu já. Ficou perfeito também.
- Ainda não. Antes vim trazer as encomendas... – pisquei para as três que sorriram. Peguei uma das caixas e levei até Bel, estendendo a ela. Ela ficou me encarando sem entender.
- O que é isto, Isabel?
- Não é óbvio? Seu vestido para o Baile, claro. – insisti para ela pegar a caixa, mas a única reação que ela tomou foi rir.
- Obrigada, mas já tenho um. É ótimo. Um típico vestido de gala dos anos 60. Inclusive, era da nossa avó, Isabel. – ela disse ainda rindo e afastando a caixa dela.
- Tem, é? E eu posso ver esse vestido?
- Claro que pode. – Bel disse sacudindo os ombros e indo até o armário. Voltou um segundo depois trazendo um cabide nas mãos.
O vestido que vinha pendurado era de linha, verde musgo e com horrorosas estampas de flores amarelas. Dora começou uma exagerada crise de tosse e eu olhava a peça com o máximo desprezo que consegui juntar.
- Esse é o seu vestido? – perguntei enojada e Bel confirmou com a cabeça, estendendo-o cuidadosamente na cama.
- Sim. Chegou há um par de semanas atrás. Os elfos já lavaram, passaram e engomaram. E ahh... – ela abriu a gaveta de cabeceira e puxou um lenço amarelo. – ele ainda veio com um lenço para os cabelos. Está ótimo, não está?
Encarei Dora, Anne e Brenda (ambas com caretas desgostosas na cara) antes de responder.
- Está sim, está ótimo! – sorri e Bel pareceu levemente surpresa por eu ter concordado. – Ótimo para voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído! Essa coisa ainda está cheirando a naftalina! Era com esse vestido que você pretendia ganhar as eleições de Rei e Rainha do Baile de Formatura???
- Não é você mesma que diz que esse concurso já está ganho? – ela revidou azeda, levando o vestido de volta ao armário, como se estivesse com medo de que eu colocasse fogo nele a qualquer momento.
- Disse e repito. Mas só está ganho se você e Bernard estiverem realmente vestidos como candidatos a RAINHA e REI. Não como se fossem da plebe!
- Tudo bem. Não estou mesmo com vontade de ganhar esse concurso besta. – ela sacudiu os ombros e ri alto.
- Pra cima de mim, Anabel Damulakis McCallister? Eu sei que você está adorando essa idéia de ganhar o concurso e viajar com Bernard, mas nunca vai admitir isso. Por favor, será que uma vez na vida você é capaz de dar o braço a torcer? Olhe o vestido que mandei fazer pra você... Será a mais linda de todas as candidatas!
Sem dar tempo suficiente para que ela retrucasse, puxei o vestido prateado da caixa e estendi encostando-o em meu próprio corpo. O cetim brilhava de maneira suave a cada movimento. Anne e Brenda assoviaram aprovações e um brilho diferente passou pelo olhar da Bel. Ela ficou encarando a roupa vários segundos, até se recompor.
- É muito bonito sim. – ela admitiu, embora parecesse contrariada. – Mas muito exagerado.
- Era essa a intenção. Quanto mais exagerado, melhor. Vocês têm que se destacar em todos os sentidos. Se você for mesmo usar aquele vestido da vovó, faça-me o favor, finja que não me conhece! – falei impaciente dobrando novamente o vestido e colocando-o com cuidado na caixa. – Aqui dentro também estão os sapatos e as jóias para usar amanhã.
- Quando vocês encomendaram esses vestidos e tudo o mais? – Bel perguntou desconfiada.
- Na última visita à Paris, é claro. Enquanto você e o Bernard discutiam se iriam ou não participar do concurso, nós cuidávamos de todo o resto. Encomendamos todas as nossas roupas para uma costureira que conheci, muito competente. São modelos únicos. – respondi sorrindo orgulhosa. As três concordaram atrás de mim. – Não mude de assunto, Anabel. Você vai ou não usar esse vestido?
Ela encarou a caixa sem responder e Anne e Brenda logo começaram a falar sem parar sobre o quanto este novo era melhor do que o velho. Após algum tempo, ela finalmente puxou a caixa para perto.
- Tudo bem, vocês venceram. Vou usar este. Mas tem uma coisa: Bernard também providenciou roupas dos avôs para usar.
- Cuidamos de Bernard também. Já coloquei as roupas dele, de papai e de Henrique nos correios.
- É claro que você já providenciou... Você nunca se esquece desses detalhes. – ela disse mais como um pensamento alto e ri.
- Uma irmã prevenida vale mais do que quinze, Bel. E eu sou essa irmã para você. – falei convencida e ela sacudiu a cabeça, entediada.
- Quanta humildade! Brenda, me ajuda a experimentar o vestido?
Brenda concordou com a cabeça e seguiu com ela até o banheiro. Larguei-me satisfeita na cama.
- Uma já foi. Agora preciso convencer Rebecca. Vou mandar o vestido e um bilhete suplicando para ela usá-lo amanhã, por pó-de-flú. Espero que ela se dê por vencida. A intuição que tenho é que ela já está preparando um vestido pior que aquele no armário da Anabel. – Dora e Anne riram.
- Se você convenceu Anabel, convencer Rebecca vai ser moleza. Aliás, tenha certeza de citar no bilhete que Bel vai usar o vestido que você encomendou também. – Dora aconselhou e sorrimos.
- Desejem-me sorte. – falei, antes de sair do quarto com uma caixa fechada na mão.
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Durante a entrega dos diplomas, Ian, Samuel, Bernard, Sávio, Dominique, Mad, Manu, Viera e companhia ilimitada, lideraram coros sincronizados gritando nossos nomes e agitando o restante dos convidados. Bel, que foi a primeira do "grupo" a ser chamada, recebeu seu diploma das mãos de Máxime com os olhos baixos e as bochechas roxas de tanta vergonha, o que provocou ainda maior rebuliço quando eles perceberam que haviam atingido-a. Após todos receberem seus respectivos canudos, Brenda e Wentworth começaram o discurso.
- Em Beauxbatons vivemos os melhores sete anos de nossas vidas. Este castelo foi nosso abrigo nos momentos mais difíceis e nos melhores que já passamos. A formatura é uma conquista, mas estaremos para sempre ligados com esses corredores, salas, torres, masmorras e gramados. Aos familiares, professores, diretora, e demais funcionários deste castelo, os nossos mais sinceros agradecimentos e pedidos de desculpas pelas tantas detenções, notas baixas, falta de compreensão, irresponsabilidades, blá blá blá. – Brenda discursou deixando a voz ir morrendo irônica e todos riram. Wentworth pegou o microfone, também sorrindo. - Ao restante da turma de 1999 desejamos muita sorte e sucesso. A formatura não significa o fim da amizade. Os laços que fizemos aqui dentro, ninguém desata. Nos vemos por aí, muito em breve. – ele parou propositalmente, encarando todos nós, de becas azuis celeste impecavelmente lisas e chapéus cônicos. – Enfim. Agradecemos a todos pela presença esta noite, mas tenho certeza que não foi só para ouvir nosso discurso que vocês vieram. Então... à festa! – ele disse animado e Brenda novamente pegou o microfone. – E não se preocupem: a nossa querida professora Françoise Defossez não vai gritar com ninguém se por acaso comer a carne com garfo para peixe. Tenham uma boa noite!
Dezenas de chapéus cônicos voaram no ar e os formandos bem como os diversos convidados começaram a se abraçar e comemorar. Rocks agitados dos anos 60 estouraram por todos os lados e várias pessoas já se encaminhavam para a pista de dança. Todos os nossos amigos logo nos fecharam em um grande círculo para nos cumprimentarem. Avistei papai e Henrique e fui até eles, que me abraçaram com força. Papai tinha os olhos molhados de lágrimas. Mais adiante vi Bel e para a minha grande surpresa e satisfação Rebecca, vestida com um bonito conjunto de saia e blusa lilás e um lenço mais escuro no pescoço. Acenei para que elas se aproximassem. Rebecca me abraçou, enquanto papai abraçava Bel. Os dois se encararam longamente.
- Rebecca. – papai disse um pouco confuso e ela sorriu. – Como vai?
- Bem. E você, Richard?
- Orgulhoso. – ele disse sorrindo aberto e ela retribuiu. Eu e Bel nos entreolhamos.
- Venham, vou mostrar a mesa de vocês. – eu disse puxando Henrique pela mão e Bel nos seguiu, obrigando nossos pais a virem atrás. As surpresas de formatura estavam só começando...
All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I’ve loved them all
N.A.: In my life – The Beatles
Wednesday, July 02, 2008
A outra Anabel McCallister
- Simples. Não me preocupando com os exames. Eu vou ser designer de moda, Anabel. Não preciso de notas altas em exames de Poções, Feitiços e outras coisas desse tipo, para ser famosa nas vitrines e passarelas. Me dê mais alguns anos e a marca “Isabel McCallister” vai estourar nos melhores e maiores points fashions do mundo! – ela falou empolgada e Anne riu.
- Não duvido disso, Isa. Ainda vou comprar muitas roupas com sua assinatura e me gabar: 'ah, essa bolsa? Isa McCallister fez exclusivamente para mim. Somos amigas de muitos anos!' – as duas riram alto, e soltei um suspiro de impaciência.
- Quem dera eu tivesse um mínimo de talento para desenhar roupas. – Brenda falou também se descontraindo e virando uma página do pesado livro de ‘Animagos: Uma transfiguração perigosa’. – Quem dera não ter que depender dos resultados desses exames para conseguir emprego em um bom jornal!
- Ah, vocês vão se sair bem. Não se preocupem. – Isa comentou voltando sua atenção às unhas. Dora passou andando pelo corredor, as mãos carregadas de livros.
- Dora! – Anne chamou e ela parou de andar, se virando para nossa direção. Quando nos reconheceu, sorriu e largou os livros em cima da mesa, fazendo uma careta e massageando as mãos. – Onde você estava indo, com tanta pressa? E tantos livros...
- Procurar um lugar para estudar. Posso me sentar com vocês? – ela perguntou incerta e logo começamos a abrir um espaço. Ela se sentou na ponta e ficou de frente pra Isabel, que quando levantou o olho para observá-la, sufocou um grito de horror.
- Você se lembra de que cor era o hipógrifo que te destruiu? Está acabada! – Isa disse em choque e Dora sacudiu os ombros, desanimada.
- Não durmo direito há quatro noites! Fico estudando até o dia quase amanhecer, e acordo quando o sol está nascendo.
- Suas olheiras te denunciam. E seu cabelo... – Isa se levantou indo até Dora e passando a mão nos cabelos dela. – Andam sofrendo vários abusos nos últimos dias, mas eu acho que se você prender ele assim... é, melhorou. – Isa se afastou para observar o resultado da trança que fez em Dora e pareceu chegar à conclusão de que era o máximo. Sentou-se novamente.
- Porque está estudando tanto assim? – Brenda perguntou curiosa e Dora exibiu seu pior olhar de cansaço.
- Tenho que conseguir um trabalho no Departamento de Cooperação Internacional da Magia, de qualquer jeito! Ser advogada bruxa é mais do que meu sonho, agora. É uma necessidade. Sávio e eu vamos nos mudar para um apartamento nosso um dia depois que eu me formar, e uma vez que eu sair de casa é definitivo. Meus pais nunca mais vão me deixar entrar lá. Sávio fica tentando fazer a coisa toda parecer fácil, mas não é. Só o emprego dele no Ministério não conseguiria nos sustentar, entendem? E eu sei que ele também está preocupado com isso, mas não quer deixar transparecer, para que eu não fique ainda mais estressada. Sem contar que trabalharíamos juntos no Departamento... – ela deixou a voz ir morrendo, sonhadora, e Anne, Brenda e Isa sorriram.
- Eu também tenho que estudar e muito se quiser mesmo entrar para a Academia de Aurores. Então, se vocês forem continuar com essa conversinha, me avisem que vou procurar um lugar mais silencioso. – falei séria e elas se calaram. Dora logo abriu um livro e começou a lê-lo, e Anne e Brenda se afundaram novamente atrás dos seus. Isa sacudiu a cabeça.
- Sempre azeda, Anabel. – ela comentou secando os dedos e fazendo a tigela de água desaparecer da mesa. Levantou. – Vocês estão me entediando. Vou treinar quadribol, porque esse ano a taça é da Fidei e ninguém tira! – ela falou determinada e Dora bateu seu punho fechado no peito, em cima do brasão da casa, sorrindo pra ela.
- Ela é mesmo minha irmã gêmea? – perguntei mais como um pensamento alto e em tom de descrença e todas riram. – Quadribol! Os NIEM’s batendo na nossa porta, e ela se preocupando com a taça de quadribol e as unhas. Inacreditável. – completei, antes de voltar todas as minhas atenções para o livro de Runas.
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Assim como vieram, os NIEM’s se foram. Embora tivessem me sufocado por uma semana inteira, no fim de tudo eu percebi que havia feito o meu melhor e estava confiante quanto aos resultados.
Agora, não se falava em outra coisa no castelo se não as férias de verão. E para nós, os formandos, a festa de formatura. Isa e o restante da comissão de formatura andavam de um lado para o outro fechando os últimos detalhes da comemoração e os jardins já haviam adquirido um bonito toque de anos 60. Poucos dias antes da festa, Bernard veio me visitar depois de sair do Ministério. Estávamos andando pelos corredores enquanto conversávamos, e quando passamos em frente à sala onde funcionava a rádio, Isa saiu sorridente para a porta.
- Já arrumaram as malas? O concurso é de vocês. – ela disse animada.
- Como você tem tanta certeza, Isabel?
- Vocês não viram a quantidade de pessoas que está andando por aí com uma camiseta: Votem Bê&Be para Rei e Rainha do Baile? Vocês cativaram os alunos, irmãzinha.
- Camisetas não provam nada. Não são eles os jurados. – Bernard falou sensatamente e concordei com a cabeça. Isa sorriu.
- Realmente, não são. Mas o carisma e a aceitação do “povo” é um dos quesitos mais pesados. Fora a afinidade entre vocês... – ela disse sonhadora e como eu e Bernard continuamos com expressões indiferentes, ela sorriu ainda mais. – Vocês não estão acreditando, não é? Então sentem-se e ouçam isso.
Ela fechou a porta da sala e eu e Bernard nos sentamos em um sofá que tinha no canto. Colocou o fone de ouvido, arrumou o microfone e colocou a rádio no ar.
- Boa tarde, Beauxbatons. Estamos começando mais um “Bate-papo com Isabel”, e vou começar o programa de hoje lendo algumas cartas de vocês.
‘Isa, eu sou Marta Depailler, do 4° ano da Lux. Infelizmente não vou poder participar da festa de formatura, mas estou torcendo para Bernard e Anabel ganharem o Concurso de Rei e Rainha do Baile. E para eles, eu quero dedicar a música Two Less Lonely People In the World da Celestina Warbeck. Felicidades ao casal!’
Isa terminou de ler mais cinco cartas desejando sorte ao casal “Bê&Be”, cada uma delas dedicando uma música diferente. Quando ela finalmente começou a rodar a lista de músicas para nós dois, e se virou para nos olhar, riu da nossa cara de surpresa.
- Agora vocês acreditam que são os preferidos da maioria? – ela perguntou sorrindo e me virei para Bernard, que tinha o queixo levemente caído. – Eu tentei avisar.
- Isso é loucura! Eles nem nos conhecem! – falei assombrada e Bernard apenas balançou os ombros.
- Acho que é melhor eu bater o pó das minhas malas. Nós vamos viajar. – ele falou se virando pra mim e sorrindo. Isa concordou com a cabeça, entusiasmada.
- Vocês são a sensação do momento. O casal mais popular de Beauxbatons, ou arrisco dizer, da França!
- Menos, Isabel. – falei séria e ela riu voltando-se novamente para a apresentação de seu programa. Encostei a cabeça no ombro de Bernard e uma onda gélida e furiosa invadia meu estômago enquanto eu constatava: eu era a McCallister popular do momento e o pior é que não estava achando isso tão ruim assim...