Sunday, August 09, 2009

- Como ele está? Viemos assim que o Diretor nos contou!
- O que aconteceu com eles?!
- Procyon!? Não posso acreditar!
- Todos mortos? Isso é horrível...É assustador!
- Só permitirei que os enterremos quando ele acordar, ele não me perdoará se não der o último adeus a eles.
- Ele é forte, ele vai ficar bem.
- Você também está em condições ruins!
- Mas já estou melhor, o choque para ele foi muito maior...Mas tenho certeza que meu amigo vai ficar bem!
- Ele é teimoso, ele não vai se entregar facilmente.
- E ele tem pessoas que quer rever, e coisas que quer fazer...
- Devemos mantê-lo afastado de qualquer coisa que possa desestabilizar suas emoções, pois isso pode acarretar um fluxo excessivo de magia, e caso isso ocorra, ele pode perder o controle de suas ações e colocar em risco a todos. Inclusive ele.

Eu não sabia por quanto tempo estava desacordado.
Mas não queria acordar.
Eu ouvia as conversas de todos ao meu redor, mas não tinha ânimo, nem forças, para abrir os olhos e vê-los. Eu simplesmente queria esquecer que tudo aquilo havia acontecido. Mas era impossível

“- Adeus, querido. Sempre amarei você.”

Suas últimas palavras ardiam em meu peito e em minha memória e sentia vontade de chorar e de gritar.

- Rápido! Ele está tendo algum tipo de ataque! Tire todos daqui.
- Alderan...Que tipos de pesadelos ele está tendo para gritar assim mesmo desacordado.
- O que podemos fazer por ele?!


Eu sabia que gritava inconscientemente, porém sem acordar. Lágrimas ardiam em meus olhos e escorriam pela minha face, mas não conseguia abrir meus olhos. Eu mergulhava cada vez mais na escuridão do esquecimento, querendo me afogar e esquecer de tudo, de toda a traição e toda a dor.
Mas então ouvi uma voz. Era a voz dela, de minha irmã Gomeisa. Eu praticamente a podia ouvir rindo para mim, enquanto sua voz se aproximava de mim, salvando-me das trevas.

- Me perdoe, irmã!
- Não há o que perdoar, maninho.
- Eu não pude te salvar.
- Não havia nada o que pudesse se fazer e foi uma escolha minha. Um dia você entenderá, e nos encontraremos de novo.
- Quero estar com você novamente, Isa, quero esquecer toda a dor. – Eu senti me afogando mais, mergulhando ainda mais nas trevas. Porém senti que Isa me segurava, estendendo-me a mão.
- Não, não é sua hora. Não é a hora de estarmos juntos novamente. Você tem muito o que viver, há muito a se fazer. Enquanto o dia de ficarmos novamente juntos não chegar, eu o aguardarei, junto de papai e de toda a família, aguardando seu retorno triunfal. Mas este não é o momento.
- Acorde, Alderan James Asteris Chronos. – Uma voz poderosa me comandou, enquanto ao fundo ouvia o som gentil da risada de minha irmã. Era a voz dele, do homem que estivera conosco naqueles momentos.


Eu senti mais do que ouvi primeiramente, mas após poucos segundos eu podia ouvir a voz de todos com clareza. Mesmo sem abrir os olhos, eu conseguia saber onde cada um deles estava. Alice e mamãe estavam do meu lado direito, Alice segurava minha mão, enquanto chorava com a cabeça mergulhada na fronha da cama onde estava deitado. Millie segurava minha outra mão e também chorava, o rosto mergulhado no ombro de Tristan, que me olhava preocupado. Perto da cama estavam vários curandeiros, os McGregors, o Diretor Charleston, e todos os meus amigos, Penélope, Marcel, Philipe, Derek, Noah, Kwon, Andreas, Bianca e Anabela.... Todos pareciam preocupados e tensos e eu não entendia o porquê, até Kyle falar:
- Tem certeza? Mesmo estando desacordado por tanto tempo, ainda há como ele acordar?
- Não podemos afirmar, fizemos tudo ao nosso alcance, mas ele não reage aos nossos cuidados. – Ouvi Alice fungar alto, enquanto apertava minha mão com mais força. – Parece que ele não quer acordar.
- Deve haver algo para se tentar! Devemos tentar tudo! – Connor falou, dirigindo-se ao curandeiro.
- Eu pedirei ajuda a todos que forem necessários, esse jovem não deve perecer, ele não merece depois de tudo que passou. – Ouvi o Diretor falando.
- Ele voltará, eu tenho certeza disso. Meu filho é forte, então não perderei as esperanças até o dia em que ele se levantar. – Mamãe falou, mas notei o tom triste de sua voz, que tremia. Isso, junto da presença de todos eles, me deu mais forças para tentar acordar e com dificuldades tentei me mover um pouco. Soltei um suspiro alto, como se ele estivesse preso e todos se assustaram. Eu então abri os olhos lentamente, tossindo muito, e tal tosse me causava uma forte dor de cabeça, na verdade meu corpo inteiro doía.
Todos exclamaram surpresos, mas repletos de alegria e me vi abraçado por dezenas de braços, de todos meus amigos e de minha mãe, enquanto ouvia Kyle e o irmão comemorando felizes. Os curandeiros sorriam e após passar o primeiro susto de ao ver bem novamente, fizeram abrir espaço para eu respirar, e me ajudaram a me sentar, lançando feitiços e usando poções em mim.
- Só você mesmo para nos deixar ansiosos assim esperando sua melhora! – Derek falou, fingindo estar chateado, sendo ecoado por todos.
- Como é possível? Até pouco tempo ele sequer reagia aos nossos estímulos. – Um dos curandeiros falou, surpreso, mas feliz por eu ter acordado. Minha cabeça girava e eu tinha dificuldades de me manter sentado, usando o ombro de Alice como apoio. Ela chorava muito e me abraçava com força.
- Quanto....Quanto tempo fiquei desacordado? – Eu consegui perguntar, após algum tempo.
- Você esteve em coma por três dias, filho. – Mamãe falou, respirando aliviada.
- Já faz três dias que aquilo aconteceu... – Eu falei, os dentes trincando e os punhos fechando-se com raiva. Eu senti uma forte dor de cabeça e ainda mais tontura, caindo nos braços de Alice.
- Acalme-se jovem Chronos, você não está em condições de se exaltar. – o Diretor falou, preocupado comigo.
- Você entrou em coma não por causa dos ferimentos, mas por uso excessivo de magia. Seu corpo não agüentou tamanho fluxo de magia. – O curandeiro explicou calmamente.
- Por isso, deve evitar usar magia a qualquer momento por uns tempos, pois seu fluxo interno de magia encontra-se totalmente desregulado. – Outro curandeiro explicou.
- Vamos deixa-lo com seus amigos, vocês têm muito o que conversar. – Connor falou, retirando-se com o irmão e os curandeiros. Mamãe foi junto após beijar meu rosto e todos me deixaram junto de meus amigos, que estavam aliviados por eu estar bem. Eles me apoiaram e me deram forças e nunca me esquecerei o que fizeram por mim.
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- Aqui neste local, pereceram alguns dos bruxos mais poderosos e habilidosos do país, e sem dúvida os seres humanos mais puros e bondosos de todo o mundo mágico. Uma família que lutou por gerações pelo bem de todos, fossem eles trouxas, bruxos, elfos, centauros ou gigantes. Aqui, foi o túmulo de centenas de Chronos, centenas de guerreiros que deram suas vidas para defender o mundo das trevas. E o mundo sentirá, e muito a sua falta, pois perdemos poderosos guardiões... – O Ministro Britânico dizia seu discurso no funeral de minha família, porém eu começava prestar pouca atenção no que dizia.
Eu saí do hospital no dia seguinte que acordei, espantando a todos com minha recuperação rápida. Mamãe havia dito que só permitiria o funeral de minha família após eu revê-los uma última vez e foi o que fizemos. Foi doloroso rever os corpos de meus tios, primos e avós, mas mais doloroso ainda foi rever meu pai e minha irmã sem vida. É algo que não desejo a ninguém, pois a dor que senti seria capaz de me matar...Isa parecia mais bela do que nunca, mais calma e mais serena, como se dormisse...Seus lábios ainda pareciam sorrir, ao aceitar seu destino.
Decidimos que o funeral da família seria no local onde caíram, em nossa casa de campo, que a partir daquele dia se tornaria o Cemitério dos Chronos. Túmulos foram preparados para todos, com exceção de meus avós, meu pai e minha irmã, que teriam os corpos depositados em esquifes de mármore branco e descansariam nas ruínas da mansão.
O Ministro terminou de falar, porém não ouve palmas, todos ainda chocados e tristes pela tragédia. Mamãe falou então, agradecendo a todos pelos sentimentos e pelo apoio e dizendo que eles seriam lembrados para sempre como pessoas de fibra e força. Mesmo mamãe, com toda sua força, foi incapaz de não ser atingida por lágrimas e parou o discurso no meio, sendo amparada por mim. A cerimônia foi encerrada com faíscas de todas as varinhas dos convidados, que começaram a retirar-se um a um, pois todos viam que queríamos ficar a sós. Apenas nossos amigos mais próximos ficaram conosco e nos ajudaram a voltar para casa.
*********

A primeira coisa que fiz quando voltei para casa de Londres foi destruir o quarto de Procyon. Eu queimei cada coisa sua, com um certo prazer em cada feitiço lançado. Antes porém, eu vasculhei tudo, procurando indícios de onde ele poderia ter ido assim como seus comparsas, achando algumas cartas escondidas com diversos nomes, e as guardei. Mamãe não impediu o que fiz, pelo contrário, ela apoiava, pois queríamos apagar o nome do verme a qualquer custo da história da família.

*********

- Filho, venha cá. Tem muito que precisamos conversar. Eu iria aguardar sua formatura para lhe contar tudo isso. Mas agora você é meu sucessor, o líder do que restou de nós. Ou seja, você é meu líder.
- Mãe, não precisa, eu confio em você e em sua liderança.
- Não, Alderan. Você agora é o Patriarca da família e a liderança é sua por direito. Tenho algumas coisas para lhe revelar. – Mamãe falou, enquanto pegava uma caixa de madeira com o brasão da família, um escudo branco com um C negro em cima, enquanto ao fundo havia uma águia também branca. Ela a abriu e indicou seu conteúdo. O interior da caixa era composto por um veludo branco, a cor da família, e em seu interior havia uma pequena esfera perfeita. Dentro da esfera parecia haver um fluido azul flutuando no ar.
- Isso, filho, é uma profecia. A Profecia dos Chronos. Havia duas delas, uma sob minha guarda e outra sob a guarda do Ministério, mas a outra foi roubada.
- Pelos Comensais?
- Sim. E por causa dela que eles tentaram nos atacar. O que eles não sabem, é que a Profecia do Ministério, possuía apenas metade de todo o teor da profecia original. Toque-a com a varinha e a profecia revelará a você seu conteúdo.
Eu a obedecia e toquei a esfera com minha varinha. Houve uma pequena centelha azulada e a esfera começou a brilhar intensamente, com o fluido azul rodopiando velozmente. Então ouvi uma voz. Era a voz dele, daquele homem. Na verdade havia uma vozinha fraca e imatura misturada a voz forte, porém perceptível.

Há séculos lutam.
Há séculos caçam.
Há séculos destroem as trevas, sendo a luz na escuridão.
Avatares de seu Antepassado, alguns mais poderosos que os demais, os Chroni.
Dos Chroni surgirá o poder. Dos Chroni surgirá o exército.
De um deles, surgirão seres poderosos, nem vivos, nem mortos, mas poderosos.
Usarão as trevas como arma, usando-a para a guerra.
Mais poderosos que humanos, mais temidos que vampiros.
De um deles, surgirá a luz plena e pura, terna e destruidora.
Como o Sol, queimará os malignos, deixando apenas suas cinzas.
E o mal sucumbirá ao seu poder.
E o mundo não será o mesmo após sua chegada.
Pois eles são os Chronos.
A Fúria do Deus surgirá novamente, destruidora.
O Sangue de Luz brilhará intenso, dando novas energias a eles.
A Luz do Deus estará na Terra novamente, purificando-a.
Suas armas, a lança e a foice voltarão a cortar os céus.
Suas asas voltarão a bater.
Suas armaduras voltarão a resplandecer.
Seus olhos voltarão a brilhar em dourado e prata.
Terras tremerão, Céus brilharam.
O som de suas asas fará as trevas tremer.
O brilho de seus olhos fará os malignos perecer.
A força de sua bondade fará os bons se alegrarem.
Pois o Deus estará na Terra.
Mesmo que para isso, seus filhos amados devam antes perecer.
Mesmo que sua mais amada filha, sua Encarnação venha a sacrificar-se.
Porém, do pó eles ressurgirão, mais poderosos do que nunca.
E a justiça voltará à Terra, através de um de seus filhos..


- Entende agora, filho? – Mamãe perguntou.
- Quem proferiu essa profecia? – Foi a primeira coisa que consegui perguntar, tentando reconhecer a voz.
- Isa...
- Isa?!
- A primeira palavra de sua irmã foi “mãe”. – Mamãe falou, com lágrimas nos olhos enquanto passava a mão por uma sorridente foto de Isa. – Porém, logo em seguida ela enunciou essa profecia completa, sua voz misturada a uma poderosa voz masculina, seus olhos com um intenso brilho dourado.
- Isso é possível? Uma criança enunciar uma profecia?
- Sim, e é algo muito comum, pois as crianças estão mais ligadas ao Invisível do que nós.
- Mas o que essa profecia significa de verdade? – Eu perguntei, ainda muito confuso.
- Não tenho certeza, mas penso que ela diz que de nossa família surgirá algo que purificará o mundo do mal no futuro. E por isso os Comensais quiseram nos destruir.
- Se sabíamos da profecia, porque não tomamos cuidados? Por que Isa não me contou antes?!
- Porque sua irmã o amava demais e não queria preocupá-lo ou machuca-lo. Foi uma decisão dela, ela decidiu que daria sua vida por nós, acreditando em um futuro que acho que apenas ela conhecia com certeza... – Mamãe falou, lágrimas escorrendo lentamente de seus olhos verdes. – Quanto a nós... Foi por pura fraqueza. Não imaginávamos que a traição viria de nosso próprio sangue. Por isso eu e seu pai preparávamos algo às escondidas.
Ela então pegou um pergaminho de dentro da caixa e o tocou com a varinha. Letras negras começaram a surgir por todo o papel antes em branco, tomando a forma de frases completas. Aos poucos pude ler o que havia escrito ali, surpreendendo-me ao ler o título: “Clã Chronos”. Tal nome fez meu coração saltar e senti uma energia tremenda apenas do nome.
- Começamos a organizar o Clã Chronos. Este pergaminho, é a autorização do Ministro para organizarmos uma instituição antitrevas, com mesmo papel que a Divisão de Aurores. Ou seja, teríamos o direito de treinar novos aurores, além de organizarmos nós mesmo nossas investigações e caçadas. Esse documento nos dá total autonomia em relação ao Ministério, contanto que também nos coloquemos ao seu dispor. – Ela falou, entregando-me o documento para lê-lo com atenção. Eu o li rapidamente, meu coração batendo cada vez mais rápido. Eu sentia como se esse momento fosse um dos mais importantes de minha vida.
- Tem a assinatura do Ministro...E de outras pessoas...
- Sim, tem a assinatura minha, de seu pai, do Ministro, não apenas do Ministro Britânico, mas também a de todos os Ministros da Europa. Sim, filho, nosso Clã recebe autonomia de toda a Europa e pretendo que depois de todo o mundo. – Eu ainda estava surpreso, mas feliz por tal notícia. Aquele documento dava a nós o poder de criar um “exército” antitrevas com direito a agir em qualquer lugar da Europa...Era algo que eu nunca sonhei ver em minha vida. – É seu dever, como meu sucessor levar estes planos a frente. E é a razão também de meu outro assunto.
- Estou todo ouvidos, mãe.
- Quero que viaje comigo pelo mundo e apresentarei você a todos os bruxos importantes dessa época, preparando-o para me suceder e fundar o Clã. E para isso você precisa ser treinado. Deseja iniciar seu treinamento desde já?
- Com certeza, mãe. – Apesar da tristeza, aquela conversa acendera em mim um espírito de vontade e poder que me fez sentir-me orgulhoso.
- Muito bem, seu treinamento começará amanhã. Eu começarei a organizar essa viagem, que ocorrerá ainda em suas férias, portanto não poderei ministrar suas aulas. Os McGregors aceitaram dar aulas a você enquanto eu não puder, e estarão ensinando-lhe a partir de amanhã. Não apenas a você, mas a todos os seus amigos.
- Meus amigos também!?
- Sim, eu convidei a todos eles e mostraram-se muito interessados e acho excelente, pois assim vocês poderão se ajudar.
Eu a abracei feliz pela primeira vez desde que a Traição ocorrera, pois teria a chance de vingar a todos. Eu começaria a treinar com meus amigos para que juntos pudéssemos construir o futuro que Isa e papai sonharam.
Pensando nela, antes de me deitar, pois o dia seguinte seria cheio, entrei em seu quarto, que continuava o mesmo desde a última vez que ela viera ali. Eu sentei-me em sua cama e deitei em seu travesseiro, lembrando-me das vezes em que ela contara histórias para mim ali, das vezes que me consolara e me animara naquele mesmo quarto. Lágrimas vieram aos meus olhos e não pude conte-las, mergulhando o roso no travesseiro e chorando como nunca chorei. Então notei que havia algo debaixo do travesseiro, e com os olhos ainda molhados, retirei um diário debaixo dele. O diário tinha o tamanho de um livro comum e sua capa era de couro, e escrito com uma tina branca, havia “Diário de Gomeisa” no topo da capa. Eu abracei o diário com força, chorando novamente. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e afastei o diário de mim, com medo de danificá-lo, só então reparei que ele brilhava. Surpreso, abri o diário e olhei a primeira página, que estava em branco. Porém, diante dos meus olhos, palavras douradas começaram a surgir e reconheci a letra de Isa, começando a ler o recado:

“Alderan, meu irmão querido.
Se está lendo essas palavras é porque não estou mais em seu mundo, pois cumpri minha parte da profecia. Há muito tempo eu sabia da tragédia que poderia acontecer a nossa família, eu repito, que poderia. Tudo que podia ser feito para impedir a tragédia foi feito, mas o destino quis que Procyon fosse corrompido, tramando nossa destruição. Porém somos mais fortes do que ele, ou do que seu Mestre das Trevas, pensam. Somos os filhos do Deus Chronos, possuímos seu sangue, sua alma e seu poder, sendo seus representantes mortais.
Chronos, o homem que você viu em meu derradeiro momento, fundou nossa família a milhares de anos, em datas imemoriáveis. Nossa família cresceu sempre sob sua benção e poder, sempre guiados por ele, através de seus Avatares e Encarnações. Eu fui sua Encarnação na Terra, guardando sua alma, tendo sua proteção e sua luz. Você, e sei que mamãe também, são seus Avatares, possuindo o poder do Deus. Vocês são seus instrumentos para guiar-nos para um mundo melhor. Não apenas os Chronos, mas também o mundo em si. Ele sabe do passado e do presente, e sabe que nos reergueremos, mais fortes do que nunca, voltando ao apogeu, e derrotando a destruição.
Mas esse apogeu não será alcançado por mim, por você ou por seus filhos. Serão seus bisnetos os responsáveis por terminar de erguer os Chronos, marque minhas palavras, querido irmão. Você é a melhor pessoa que eu conheci, dono de uma força como poucos e uma determinação ainda maior. É de seu sangue que nascerão os responsáveis por reerguer os Chronos de vez, e por participarem da mudança do mundo.
Tempos negros virão. Você passará por provações tremendas, e temo dizer que Destino foi especialmente cruel com você. Mas quero que guarde sempre em seu coração a sua força e sua visão de mundo, para salvar o máximo de pessoas que for capaz. Nada vem sem sacrifícios, isso foi um dos maiores ensinamentos dele. Eu fiz o meu, sacrifiquei minha existência em prol de um bem maior, em prol de um sonho, em prol de um mundo novo, e não me arrependo de forma alguma. Ele tentou me impedir, tentou a todo custo mudar o Destino, mas eu decidi que era minha vez de fazer sacrifícios. Sinto-me triste apenas por você e mamãe, pois sei que a dor de vocês foi enorme e inimaginável, e não o culparei se me odiar. Mas nunca se esqueça de quanto eu o amo, assim como amo mamãe, assim como papai ama vocês. Nós demos nossas vidas acreditando no futuro que vocês dois construiriam, um sonho nosso e de todos de nossa família.
Este diário contem minhas lembranças desde o momento em que o vi pela primeira vez, desde o momento que vi pela primeira vez aqueles poderosos olhos dourados, as asas brancas e a armadura dourada. Tentarei contar tudo que eu puder e sei, mas há coisas que não podem ser expressas em palavras, apenas pode-se sentir. Ele é uma dessas coisas. Ele está acima de tudo que se possa imaginar, sua bondade é maior que de qualquer outro, mas sua fúria também é a maior de todas. Não é a toa que ele é tão temido, mas também tão amado.
Espero que minhas lembranças possam guiá-lo nos caminhos negros que haverá de trilhar. E espero do fundo do meu coração que seja feliz meu irmão, e enfrente todos os tortuosos caminhos a sua frente, sempre acreditando em si mesmo e em sua luz.
Com eterno amor, de sua
Gomeisa Asteris Chronos.”


Eu terminei de ler sua última carta com lágrimas ainda mais grossas em meus olhos, emocionado por suas palavras. Tais palavras animaram meu espírito de certa forma e abracei o diário novamente, enquanto apertava os punhos. Não, Isa, eu nunca odiaria você, eu apenas odiaria para sempre o Traidor Procyon.
Comecei a ler o diário, cujo conteúdo era muito vasto. O diário era encantado magicamente, de modo que as letras surgiam no papel sempre que eu virava uma página, e o diário parecia interminável. Passei a noite inteira lendo-o, surpreendendo-me a cada linha, porém sabendo que seriam informações muito valiosas para mim e para muitos no futuro...

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