- Vocês estão convidados! – Eu falei, feliz enquanto conversava com Tnt, Millie e Alice.
- Convidados para o que?! – Millie perguntou, porém já curiosa.
- A Formatura dos meus irmãos está chegando, então semana que vem a família vai dar uma festa em homenagem a eles, reuniremos todos os membros da família! E vocês são meus convidados.
- Ah, AJ, que maravilha! Obrigada pelo convite. – Alice falou, abraçada a mim. Nossa relação era engraçada e, como alguns diziam, moderna. Nós às vezes saíamos juntos para namorar, às vezes apenas para conversar, sem nenhum compromisso fixo, mas eu gostava da companhia dela. – Mas não vou poder ir, meus pais marcaram uma viagem para visitar meus primos na Suécia.
- Ah, Alice! Você vai perder uma festança dos Chronos?! Eu não acredito! – Tnt falou chocado, encarando-a como se fosse quase um insulto. – Eu irei com certeza, AJ!
- Eu verei com minha irmã, mas não vejo mal algum e vou adorar participar da festa! Seus irmãos merecem. – Millie falou, sorrindo pra mim.
- A Isa merece, o Procyon não. – Eu falei categórico.
- Ah vai começar de novo, Alderan? – Millie falou um pouco cansada.
- É sério, Millie! Eu concordo com ele, a Isa merece e muito, agora ele não! – Tristan falou me apoiando e ganhou um sorriso meu.
- Vocês não estão exagerando não? Não me olhe com essa cara Alderan James! Eu concordo que ele é estranho, mas daí dizer que ele não merece é demais! – Alice falou, ainda abraçada a mim.
- Não estamos exagerando! Eu conheço o suficiente para saber que ele não merece! – Eu falei teimoso.
- Mas AJ, você já não falou com seus pais e eles também acharam que você poderia estar exagerando? – Millie me lembrou.
- Sim, mas os Chronos passaram a vigiar o filho também, pra ver como a Sra. Rigel também suspeita dele. – Tristan me apoiou novamente, lembrando que desde que falei com meus pais, eles ordenaram que Procyon fosse vigiado sempre que saísse da escola, mas até hoje não houve nada.
- E isso só serve para aumentar minhas suspeitas! Ele continua a andar com pessoas estranhas e sequer tem saído da escola. Ainda acho muito estranho. Na verdade, até a Isa disse que ele parece distante, porém determinado com algo...Eu estou ficando preocupado, eu tenho um péssimo pressentimento. – Eu falei, enquanto deixava meus olhos fora de foco e encarava um nó na madeira da mesa da biblioteca onde conversávamos. Todos ficaram calados, pois notaram que eu não estava brincando.
- AJ, não fica assim, vai ficar tudo bem. – Millie falou, sentando-se do meu lado e me abraçando. Alice também me abraçou mais forte e deitou a cabeça em meu ombro.
- Eu sinto que tem algo errado. Eu estou com um péssimo pressentimento, sinto que algo ruim pode acontecer a qualquer momento. – Eu falei lentamente, a voz marcada com uma dor que eu não sabia explicar, enquanto tentava manter as lágrimas presas.
- Vai dar tudo certo, você só ta imaginando coisas, AJ. – Alice falou, me dando um beijo na bochecha. – E seja lá o que for, nós estamos aqui com você, lembra?
- É AJ, nós sempre estaremos com você, somos seus amigos certo? E cara, pode falar, isso tudo é só cena pra ficar abraçado à Millie e à Alice, né? – Tristan falou rindo, me fazendo ficar vermelho e jogar uma bola de papel nele. Alice e Millie riram também e começamos uma guerra de bolinhas de papel usando as varinhas para catapultar as bolinhas. Obviamente fomos expulsos pela bibliotecária e fomos nos sentar nos jardins da escola, que naquela época do ano estavam cheios dos alunos mais novos que não tinham N.O.M’s ou N.I.E.M’ s, aproveitando o sol e a beleza do lugar.
*****
- Procyon, eu quero falar com você. – Eu o chamei, correndo atrás dele nos corredores da escola. Eu decidi tentar conversar com ele, convencido por Millie que talvez eu estivesse exagerando.
- Não tenho nada para conversar com você, Alderan. – Ele falou, virando-se para mim e encarando-me por alguns segundos, antes de virar as costas novamente. Era um dos raros momentos em que ele estava sozinho, e alguns alunos já nos olhavam como se esperassem uma briga, conhecendo a minha fama e a dele.
- Proc, por favor, somos irmãos. – Eu falei, segurando-o pelo braço. Ele virou-se para mim lentamente, como se tivesse uma guerra em sua cabeça, mas logo soltou o braço.
- O que eu teria para conversar com você, irmão. – Ele falou, dando ênfase a última palavra.
- Eu quero te ajudar, conversar com você. – Eu falei cansado.
- Me ajudar? Por que você acha que preciso de sua ajuda? – Ele falou, os olhos brilhando de raiva.
- Eu sinto que precisa! Você não é mais o mesmo! Está muito mudado! – Eu falei, os olhos brilhando também.
- Ah, agora nota minha presença? – Eu ouvi ele falando entre os dentes, com raiva.
- Como assim? – Eu perguntei sem entender.
- Não interessa a você. – Ele falou, porém sem me virar as costas, ainda me encarando.
- Proc, você sabe com quem tem andado? São pessoas de péssima fama na escola....Eu não quero nem falar as coisas que eu penso.
- Você não sabe de nada, Alderan. Eu pelo menos não ando com uma órfã e um sangue-ruim! Você só anda com eles para se sentir superior, para poder mostrar que é melhor que eles! Enquanto eu escolhi pessoas do meu nível, iguais a mim!!
- Não fale assim deles! Eles ao contrário de seus “amigos” são pessoas boas e decentes! Essa escória que você tem andado não se compara a eles! E sim você deve ter escolhido pessoas do mesmo nível: escória! – Eu falei, agora completamente enraivecido. Nós dois sacamos as varinhas e apontamos um para o outro, e as pessoas já começaram a abrir uma roda, se afastando.
- Escória?! Eles são a elite dessa escolazinha, a elite do mundo mágico, a que eu tenho o direito de pertencer!! – Ele falou enraivecido também, enquanto sua varinha soltava faíscas.
- Elite?! Esses idiotas que só sabem maltratar os outros e pensarem no próprio umbigo? – Eu gritei, a varinha soltando faíscas também.
- Eles pelo menos me entendem e me apóiam, ao contrário de vocês! – Ele gritou também.
- Te entendem? Te apóiam?! Você é idiota?! Eles só estão com você porque você pode lhes servir de algo! Eles não dão a mínima para você! – Eu gritei, completamente furioso. Notei que minhas palavras tocaram em algum lugar de seu coração ou de sua mente, pois a varinha tremeu, e notei que no fundo ele pensava a mesma coisa. Parecia que ele brigava consigo próprio e até mesmo seus olhos pareciam fora de foco. Por fim, ele baixou a varinha lentamente e eu o imitei.
- Venha comigo, aqui não é lugar para discutirmos assim. – Ele falou, os olhos tristes.
- Vamos para alguma sala de aula. – Eu falei, andando ao lado dele.
Nós dois saímos andando pelo corredor, que por muito pouco não virou uma cena de batalha, enquanto ganhávamos olhares de todos os alunos. Alguns tentaram nos seguir, achando que iríamos duelar em outro lugar, mas nós dois os olhamos juntos e os fizemos desistir. Eu notei também que ele queria falar sozinho comigo, pois em breve, tanto os companheiros deles quanto os meus, assim como monitores e professores, chegariam no local atraídos pela confusão. Nós escolhemos uma sala vazia do quinto andar, e sem que ninguém nos notasse, entramos escondidos. Procyon andou pela sala, parando do lado do quadro-negro, enquanto rabiscava com a varinha riscos sem nexo. Eu me aproximei dele e aguardei, apoiado na mesa do professor.
- Procyon.... – Eu comecei, mas ele levantou a mão para me interromper.
- Sejamos adultos, Alderan. Não é certo brigarmos daquele jeito na frente de todos.
- Eu concordo, eu queria realmente conversar a sós com você. – Eu falei, enquanto ele se sentava do meu lado, apoiado na mesa também. Assim próximos um do outro qualquer poderia ver como nos parecíamos fisicamente, se não fosse meu cabelo fora do normal.
- Às vezes eu também sinto que eles só estão comigo pelo que posso fazer para eles. – Ele começou, lembrando de seus amigos.
- Isso é óbvio, eles são interesseiros, e não companheiros! – Eu falei meio exaltado.
- Mas eles me dão valor, e isso é algo que eu sempre quis. – Ele falou um pouco ríspido.
- Procyon, nós sempre te demos valor, sempre estivemos do seu lado!
- Não! Você não entende, sempre foi o filho preferido, o irmão favorito! Mamãe sempre preferiu você, sendo que é algo que eu tenho por direito! Isa sempre o considerou o melhor irmão! – Ele falou, jogando tudo que ele sentia.
- Mamãe gosta de todos nós do mesmo jeito! Ela não tem favoritos! Ela ama você como ama a mim, Procyon. – Eu falei, segurando-o pelo ombro. Ele me encarou e notei que parecia brigar com emoções.
- Não. Eu sempre fui excluído, por não me interessar em caçar, em treinar. Agora você, sempre foi o filho que ela sempre quis: corajoso, forte, gosta de caçar e treinar.
- Ela ama você como eu e a Isa, Proc! Ela não tem preferidos. Ela gosta do seu jeito calmo, sereno e pensativo, ela aceitaria tudo que você decidisse fazer! Ela nunca o obrigaria a seguir o ramo de auror!
- Não! Ela tem vergonha pois não gosto de lutar e caçar, pois prefiro ficar em casa quieto, lendo. Não é a toa que quem ela indicará para substituí-la será a Isa.
- Como você quer que ela te indique se ela respeita sua vontade de não seguir nosso ramo? – Eu perguntei, perplexo.
- Ela não me escolhe pois tem vergonha de mim! Enquanto de você ela sente orgulho, e a mim despreza!
- Procyon, por favor, ouça o que esta falando! A mamãe te desprezar?! Nunca! Ela o ama com todas as forças dela, você é o primeiro filho dela, e ela tem orgulho de você! Isso é uma das coisas que não gosto em você! Porque tem que se menosprezar tanto?! Seja forte!
- Viu! Você também me acha fraco!
- Não coloque palavras na minha boca! Você não é fraco! Para estar resistindo assim você é muito forte, mas você deve confiar mais em si mesmo! Se quer seguir outro ramo, nós apoiaremos você! O que você quer fazer depois da formatura, Proc? – Eu perguntei, e notei que seus olhos ficaram vermelhos, como se fossem chorar, e novamente vi uma disputa interna.
- Eu gostaria de ser botânico, estudar a vida selvagem. Não ria, Alderan, eu proíbo você. – Ele falou sério e notei o tom de raiva em sua voz. Algo me dizia que ele já confidenciara isso para alguém, seus amigos provavelmente, e eles riram dele.
- Eu não vou rir, Procyon. Eu sou seu irmão devo apóia-lo, no que decidir. Proc, mamãe e papai ficaram feliz em lhe ajudar!
- Não! Eles sentirão vergonha de mim!
- Não mesmo! Você já falou com eles?! Eu posso te ajudar!
- Eu não quero falar, quero distância deles. Não quero sua ajuda. – Sua voz mudou de tom levemente e eu notei.
- Proc eles vão te apoiar sempre, tenho certeza! Mamãe vai adorar te ajudar a pesquisar, e papai te adora.
- Chega, Alderan, não quero mais falar sobre isso. – Ele falou enquanto se levantava, ignorando-me e indo para a porta.
- Procyon, seja lá o que estiver prestes a fazer, ainda há volta. – Eu falei me levantando e olhando para ele que parou com a mão na maçaneta, e virou o rosto para me encarar.
- Não. Não há mais volta.
- Procyon a família sempre irá te ajudar e apoiar, somos Chronos! Estaremos sempre com você, há volta sim.
- Não, James, não há mais volta. Não há retorno.
Ele falou sério e saiu da sala. Eu me senti apreensivo e meu coração doía, e sai correndo atrás dele para obriga-lo a me ouvir, mas quando abri a porta, ele já havia descido as escadas, e não respondeu quando o chamei.
*****
- AJ, querido, vem cá. – Isa falou, quando eu entrei no salão comunal da Lux. O salão estava vazio, pois já começava a ficar um pouco tarde da noite. Depois da conversa com o Procyon eu vaguei pela escola, procurando-o, mas sem encontra-lo e provavelmente ele foi para o salão da Nox e não queria mais me ver. Eu passei a andar pela escola então pensativo, sem querer falar com ninguém ao certo, nem mesmo Tristan, Millie ou Alice.
- Isa... – Eu falei quando a vi sentada no sofá, lendo um livro. Ela claramente estava me esperando e tive quase certeza que a sala estava tão vazia assim por causa dela. Ela era muito respeitada na casa, ainda mais que era a Monitora Chefe.
- AJ, meu irmãozinho, precisamos conversar. – Ela falou, indicando o lugar ao lado dela, enquanto eu me encaminhava para ela. Eu sentei pesadamente no sofá e ela me puxou para um abraço, deitando minha cabeça em seu colo. – A Millie e a Alice me procuraram hoje a tarde, dizendo que você estava muito mal e triste. Eu não poderia deixar meu manihho assim, poderia? – Ela falou enquanto sorria para mim e acariciava meus cabelos lentamente.
- Elas estão certas, Isa....Maninha eu estou me sentindo muito mal, sinto que algo de muito ruim está pra acontecer. E estamos perdendo nosso irmão....
- Eu tentei achar o Procyon hoje também, mas não o encontrei. E ele tem se afastado de mim, mas sinto que ele está sofrendo muito.
- Estamos perdendo ele, Isa! Estamos perdendo o Proc pras trevas...Eu pude sentir as trevas no coração dele, pude sentir a angústia e tristeza dele... – Eu falei enquanto chorava, afundando o rosto no colo de Isa, que me abraçou mais forte, enquanto fazia carinho em minha cabeça e minhas costas.
- Fica calmo, amor, vai ficar tudo bem. Seja lá pelo que o Procyon está passando, ele vai nos procurar quando estiver mais calmo e pedir ajuda. Ele é nosso irmão acima de tudo, não quero você brigando com ele.
- Você soube então? – Eu perguntei ainda chorando em seu colo.
- Claro que soube. Eu sou monitora da Lux e Monitora Chefe, óbvio que iria saber. Mas como vocês pararam antes, não há o que reclamar. Fiquei feliz quando soube que foram conversar como adultos.
- Nós fomos para uma sala conversar. Eu nunca me senti tão próximo dele, trocando sentimentos e idéias...E queria que fossemos mais amigos.
- Vocês seriam excelentes amigos, mas é o Procyon que afasta vocês. Acho que ele tem medo de se aproximar demais e ver que tudo que ele acredita é apenas imaginação dele.
- Ele acha que mamãe tem vergonha dele, acha que eles me consideram o filho predileto, que você gosta mais de mim do que dele.
- Eu gosto de vocês do mesmo jeito, você são meus irmãos mais novos. Porém pareço ter mais ligação com você porque você é mais sentimental e se abre mais do que ele. Ele criou barreiras para ele próprio, quando éramos criança, estávamos sempre juntos, apenas quando cresceu é que parou. Sinto falta do pequeno Proc.
- Eu também....Por que ele mudou? O que aconteceu? Será que foram amizades?
- Pode ter sido...Ele se isolou de nós e tinha medo. Quando começou a crescer e se ligou a algumas pessoas, ele passou a tentar nos afastar.
- Eu já senti muita raiva dele. Pelas coisas que ele fala, pelas coisas que ele faz, pelo que ele pensa de meus amigos! – Eu falei, chorando novamente enquanto apertava o tecido de sua roupa.
- Não quero você sentindo esse tipo de coisa, meu querido. Ele é seu irmão, você nunca deve odiá-lo, apesar de tudo que ele faça.
- É difícil...E eu não aturo o modo como ele fala de você às vezes!
- Com ele eu me entendo, não quero que você tome minhas dores. AJ, querido, você é um irmão maravilhoso, se ele visse isso ele ficaria feliz. Tenho certeza que ele só se afastou de você hoje por causa disso, porque ele viu que você é uma ótima pessoa e isso poria a baixo todas as barreiras dele.
- Isa... – Eu falei, o coração apertado como nunca, uma angústia enorme.
- Que foi, maninho? – Ela perguntou, enquanto sorria pra mim e acariciava meus cabelos. Meu coração parou por alguns instantes e a dor foi enorme, como se me fosse arrancado o coração. Eu comecei a chorar desesperadamente, com soluços fortes e constantes e me agarrei a ela, abraçando-a como se minha vida dependesse disso. Ela me abraçou com força também, deitando minha cabeça em seu peito e notei que ela também chorava.
- Por favor, nunca me deixe, Isa. Eu não seria nada sem você, mana, você é a pessoa mais importante pra mim, minha base e minha força.
- Querido, eu estou aqui com você, não estou? Sempre estarei do seu lado, não importa o que aconteça. Sou sua irmã não sou?
- Você é minha irmã, Isa. Na verdade às vezes eu sinto como se fosse minha alma gêmea, a pessoa que eu primeiro amei e sempre amarei. Eu me sinto completo com você. – Eu falei, chorando enquanto afundava a cabeça em seu peito.
- Eu me sinto muito bem perto de você também, Alderan. Você é uma pessoa especial, eu sinto isso. Sei que será uma grande pessoa quando estiver mais velho e sinto que mudará o mundo. Quero estar ao seu lado nesses momentos, sempre ao seu lado para lhe apoiar e incentivar.
- Obrigado, Isa. Por favor esteja sempre comigo....Eu amo você, Isa. – Eu falei ainda chorando preso em seu abraço. Ela beijou minha testa e limpou minhas lágrimas com a própria roupa.
- Sempre estarei, Alderan. Sempre. E você sempre estará do meu lado, certo? Eu também te amo, Alderan. – Ela falou sorrindo pra mim, e seu sorriso e seus olhos brilhantes arrancaram o resto de dor que eu sentia, me fazendo bem.
- Sempre estarei com você, maninha. – Eu falei, deitando novamente a cabeça em seu peito, abraçando-a forte.
Nós não falamos mais nada, pois não precisávamos de palavras. Seu abraço e seu calor me diziam mais do que qualquer coisa, e seu carinho me acalmavam mais do que qualquer palavra. Eu acabei dormindo ali, abraçado em seu colo, e ela não me acordou e passamos a noite inteira assim, abraçados, como se nossas vidas fossem acabar se nos afastássemos...
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