- Oi Kwon, não vi você ai. Não devia estar na radio? – A garota sorriu para o amigo.
- O salão está cheio mesmo, acho que a neve espantou todo mundo dos jardins – Ele ajeitou os livros na mão e sorriu de volta – E sim, deveria estar lá, mas precisava falar com você antes.
- Claro. O que é?
- Fico meio sem graça em te pedir isso, mas é que... – Marcel, que estava deitado na poltrona lendo um livro sobre quadribol, sentou atento – Bom, queria saber se você quer me ajudar na rádio.
- Como é? – Olívia, que havia ficado esperançosa, quase não conseguiu disfarçar a decepção.
- É que está faltando uma menina pra fechar o elenco da rádio novela e pensei que você talvez fosse gostar de ajudar. Tudo que tem que fazer é ler o texto no ar. Ensaiamos algumas vezes antes, mas nada demais.
- Ah Kwon, obrigada pelo convite, mas não dá – Olívia respondeu desanimada e Marcel arregalou os olhos no sofá – O jornal tem consumido demais o meu tempo, não vou me dedicar como deveria e acabar prejudicando vocês. Desculpe.
- Tudo bem, não precisa se desculpar – ele sorriu pra ela, sem parecer desapontado – Só ofereci a vaga pra você porque pensei que pudesse querer, mas vou encontrar outra pessoa então. Agora tenho que ir, Jude está sozinha lá.
Kwon se despediu da amiga sumindo pela multidão que ocupava o salão comunal e não viu quando Marcel levantou indignado do sofá e foi questionar Olívia, e tampouco quando a garota fez um gesto impaciente e repeliu o amigo, subindo as pressas para o dormitório.
*****
- E terminamos a transmissão de hoje atendendo ao pedido de alguns ouvintes, com a música I Wak the Line, do Johnny Cash. Boa noite e até amanha!
Kwon apertou o botão para colocar a música no ar e desligou o microfone, girando na cadeira e parando de frente para Jude, que arrumava o seu lado da mesa e desligava seu microfone. Ficaram conversando sobre a programação do dia seguinte e desligaram os aparelhos quando a música chegou ao fim, saindo da rádio. Jude voltou logo para o salão comunal da Sapientai e Kwon ficou para trás trancando a porta. Já as guardava no bolso quando saltou assustado ao sentir uma mão segurando seu braço, deixando cair o que tinha na mão. Nani recuou alguns passos, também assustada com a reação dele.
- Desculpa! – a garota falou arrependida de ter o abordado daquela forma – Não tinha a intenção de assustar você.
- Tudo bem, Nani, calma – ele riu dela – É que não é normal alguém além de Jude e eu estar fora dos dormitórios até essa hora. O que faz aqui tão tarde?
- Estava no escritório da diretora, conversando sobre minha adaptação aqui.
- E como está indo? – Kwon finalmente guardou as chaves no bolso e caminhava com a irmã adotiva pelo corredor – Não temos nos visto muito e até peço desculpas, porque é minha culpa. O quadribol e a rádio tomam todo o meu tempo, mas devia encontrar um espaço para ajudar você com o que precisasse.
- Ainda não me acostumei bem – Nani respondeu com um tom desanimado na voz – É tudo muito diferente pra mim, as pessoas me olham de lado por não falar francês fluente, não consigo entender todas as aulas e sinto falta das minhas amigas.
- Quando entrei em Beauxbatons algumas pessoas também me olhavam de lado, para mim e Philipe, por sermos irmãos e não nos parecermos em nada. Preconceito idiota, mas não dê importância. Você é uma garota legal, quando te conhecerem melhor, vão se arrepender. Mas não se feche tanto. Pode sempre contar comigo, Philipe e seu irmão, mas você precisa de amigos da sua idade também.
- Eu sei, eu tento, mas me incomodam os olhares. É tão patético ver as meninas da turma babando em cima da tal Charlotte, só porque ela é uma princesa. Ficam bajulando ela o dia inteiro.
- Charlotte não gosta que a bajulem, pode ter certeza – Kwon riu outra vez – Ela acha que não tem nenhuma amiga de verdade na escola, porque não sabe se estão sendo legais com ela porque gostam dela de verdade ou se é porque é uma princesa. Tenta conversar com ela, acho que se dariam muito bem.
- Duvido muito disso – Nani respondeu descrente – E também tem esses créditos. A diretora disse que preciso deles pra me formar, mas não entendi muito bem como funcionam.
- Os créditos não são necessariamente obrigatórios, mas se você quiser um bom estágio quando se formar, sem eles é impossível conseguir um – Kwon explicou pacientemente, e já chegavam ao corredor que dava acesso ao salão comunal da Fidei – Tem varias atividades que dão créditos, mas as melhores são o jornal, a rádio e o quadribol.
- Não sou boa escritora e muito menos sei jogar quadribol.
- Bom, tem uma vaga na rádio, se quiser – Kwon disse animado – Precisamos de uma menina pra completar o elenco da novela, tudo que tem que fazer é ler suas falas no ar.
- Acho que consigo fazer isso... – Nani sorriu mais animada
- Ótimo! Amanha de manha falo com a Jude, ela é a responsável pelo elenco e vai te procurar pra conversar sobre a personagem.
Os dois pararam em frente ao quadro da fada e Nani disse a senha, fazendo a passagem secreta ser revelada. Ainda era possível ouvir o barulho das conversas animadas lá dentro, embora passasse das 22hs.
- Obrigada Kwon – Nani abraçou o irmão e beijou seu rosto – Estava mesmo precisando conversar um pouco.
- Sempre que quiser conversar, pode me procurar. Irmão mais velho serve pra isso também.
- Vou cobrar isso – ela disse sorrindo e sumiu pelo buraco do quadro.
Kwon continuou parado encarando o lugar por onde Nani havia acabado de desaparecer, sem perceber que sorria. Mas quando percebeu, fechou a cara e sacudiu a cabeça. Por um momento, ele se vislumbrou abraçado a ela, acariciando seus cabelos. E aquela imagem o assustou mais que tudo.
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