O dia dos namorados havia chegado e, junto com ele, trouxe um clima de romantismo que tomava conta do castelo. A escola ofereceria um baile, como faz todo ano, e dessa vez contaria com a banda dos meninos do castelo para tocar ao vivo. E enquanto aguardavam o baile, os alunos do terceiro ano em diante poderiam aproveitar o dia em Paris. O barco já aguardava no cais e o zelador ia conferindo as autorizações dos alunos, liberando a entrada de um de cada vez. Marcel foi o último a entrar, ladeado por seus seguranças, e encontrou um lugar vazio ao lado de Olívia, que olhava distraída para a água, alheia as brincadeiras dos amigos em volta.
Assim que o barco ancorou no porto embaixo da Pont Neuf, o grupo se dispersou. Saíram tão apressados que Marcel não conseguiu ver a direção que seus amigos seguiam ao atravessar a barreira mágica e ficou esperando Olívia desembarcar, consultando o relógio.
- Para onde foram todos? – perguntou curioso quando a garota saiu e parou ao seu lado – Acho que ficamos de fora dos planos de hoje.
- É dia dos namorados, Marcel – Olívia respondeu entediada – Bianca está com Philipe e Danielle com Henri, vão passar o dia juntos.
- Mas e os outros?
- Kwon e Nani iam almoçar com a mãe deles e depois ele ia levá-la para conhecer a cidade, já que ela não conhece nada. E meu irmão saiu com Kalani, Anabela, Edmond e Enrico. Mas não faço idéia do que foram fazer.
- Melhor nem saber mesmo... – Marcel riu e Olívia o olhou desconfiada, mas não perguntou – E você? O que vai fazer?
- Nada. Odeio dia dos namorados, nunca tem nada pra fazer – ela respondeu azeda e Marcel riu outra vez, mas parou quando ela o olhou atravessado.
- Ainda não entendi porque você recusou o convite dele para fazer parte da novela – os dois começaram a caminhar para fora da barreira e os dois seguranças os seguiam de perto – Vocês iam passar mais tempo juntos!
- Marcel, já pedi que não entre nesse assunto, não quero falar sobre isso.
- Ok, ok, parei. Eu tenho que encontrar meus pais e meus irmãos pra almoçar, quer ir também? Não tem graça você ficar sozinha o dia inteiro.
- Almoço de família e eu de intrusa? Que graça isso.
- Bobagem, minha mãe adora você, sem contar Charlotte e Remy. E se você não for vai me fazer perder o compromisso, não vou deixá-la vagando sozinha por Paris.
- Mas vou ficar sem graça...
- Olívia, nos conhecemos desde que tínhamos 3 anos, freqüentamos a casa um do outro desde então, é impossível isso.
- Tudo bem, eu vou com você. Você não vai desistir mesmo... – disse sorrindo e ele estendeu o braço para ela segurar.
Os dois atravessaram a barreira juntos e os seguranças empurraram os dois para dentro de um carro preto que já os aguardava na saída. Entraram logo depois e fecharam a porta, um deles falou algo para o motorista e o carro seguiu viagem.
- E a sua irmã? – Olívia perguntou quando não viu Charlotte no veiculo – Ela não ia também?
- Charlie está em outro carro, nunca andamos juntos – Marcel explicou pacientemente – Tem um carro para cada um de nós, assim caso algum atentado aconteça, sempre vai ter alguém pra assumir o lugar no trono.
- Ai, credo, parece até que alguém vai jogar uma bomba na gente.
- Nunca se sabe... Precaução acima de tudo.
Marcel sorriu desviando o olhar para a janela e Olívia sentiu o estomago embrulhar. Era verdade que estava acostumada a andar com Marcel e todas as medidas de segurança que o acompanhavam, mas eram sempre em Mônaco, onde as pessoas estavam acostumadas a ter a presença dele e dos outros membros da família nas ruas. Nunca lhe ocorreu a idéia de que havia pessoas que poderiam querer derrubar toda a família e, consequentemente, poderiam derrubar também que estivesse no lugar errado e na hora errada.
- Chegamos – ela sentiu a mão dele bater em sua perna e saiu do transe.
Estavam em frente à Torre Eiffel. Embora frio, o dia estava ensolarado e fazia com que muitos parisienses circulassem pelo jardim que cercava a torre, aproveitando o que poderia ser o único dia de sol até o fim do inverno descansando deitados na grama. Mas os dois não saíram do carro. Permaneceram sentados, sem que ela soubesse o porquê, até que um dos seguranças saiu primeiro e abriu a porta. Marcel foi o primeiro a sair e assim que Olívia pisou no chão, se viu cercada por homens usando terno preto que formavam uma barreira entre Marcel e as pessoas na rua. Muitos curiosos levantaram para olhar e ela pode ver de relance, enquanto era empurrada pelos homens e tentava não soltar da mão do amigo, flashes de câmeras os seguindo. Olívia sentiu um enorme alivio quando entraram no elevador da torre e um dos funcionários o fechou apenas para eles e mais dois seguranças.
- Se assustou, não foi? – Marcel perguntou rindo, enquanto caminhavam pelo andar do restaurante.
- Sim! Achei que fossem carregar você embora! – respondeu ainda assustada
- Estou acostumado, já não me impressiono mais. Ah, lá estão eles.
Marcel apontou para uma mesa perto da janela e seus pais acenaram, sorrindo. Os dois caminharam até lá e sua mãe levantou depressa, abraçando Olívia primeiro, para só depois falar com o filho. Charlotte chegou logo em seguida e sorriu ao ver que a amiga do irmão estava na mesa. Ela era uma das poucas pessoas que Charlotte realmente gostava e que não a achava fútil. E Olívia, que achava que se sentiria deslocada, sequer percebeu o dia passar na companhia do amigo e de sua família. Somente quando o sol começou a se pôr a garota percebeu que o dia havia ido embora. Os seguranças novamente se postaram ao lado de Marcel e Charlotte e os escoltaram de volta para os carros que os levariam ao barco da escola.
- Ei! – Andreas, Anabela e Kalani entraram por último no barco e se atiraram nos bancos vazios atrás de Marcel e Olívia – Fizeram algo de bom hoje?
- Ollie almoçou comigo e meus pais, já que vocês a largaram sozinha hoje – Marcel respondeu brincando com o amigo.
- É, por onde vocês andaram hein? – Olívia virou para trás zangada – Nem mesmo se despediram.
- Fomos mostrar Paris para o Kalani, ele não conhece – Anabela respondeu depressa, mas não soou convincente.
- E Edmond e Enrico também não conhecem Paris? – Olívia insistiu
- Gente, vocês não vão acreditar no que aconteceu! – Bianca e Danielle chegaram correndo com Philipe e Henri atrás, interrompendo o papo.
Andreas, Anabela e Kalani trocaram um olhar aliviado e Olívia não teve mais chance de questionar o paradeiro dos três, pois as meninas levaram toda a viagem para relatar uma confusão ocorrida na Champs-Elyisée e assim que desembarcaram, os três correram para dentro do castelo. Bianca desceu do barco puxando a amiga pela mão e voltaram com Danielle para começarem a se arrumar para o baile, que começaria em duas horas.
- Ah, achei que nunca iam descer – Marcel comentou com Philipe quando viram Bianca, Olívia e Danielle descendo as escadas do dormitório.
- Você está linda, amor – Philipe beijou a mão de Bianca e ela sorriu apaixonada – Vamos?
- Henri está lhe esperando lá fora, Dani – Marcel avisou quando Bianca passou com Philipe e Danielle sorriu agradecendo, saindo com os dois
- E você? – Olívia ficou sozinha e encarou o amigo – Está esperando quem?
- Você – respondeu já estendendo o braço, mas ela não o segurou.
- Eu? – se espantou – Você não tem par?
- Não convidei ninguém. E como você também não tem par – ela o olhou de lado, mas ele não deixou que ela interrompesse – Não adianta olhar assim, você não tem. Vou fazer companhia a você. Vamos?
Olívia ainda pensou alguns segundos, mas acabou cedendo e segurando o braço do amigo, saindo com ele para o baile. O salão estava todo decorado com panos de cor rosa claro, balões em forma de coração, cupidos encantados que flutuavam de um lado para o outro e algumas bolhas de sabão entre eles. No palco havia alguns instrumentos e um dos garotos da banda já afinava sua guitarra e testava os microfones. Ao canto do salão, uma enorme mesa havia sido montada com um banquete e do outro lado, algumas mesinhas para as pessoas sentarem. No centro, uma enorme tábua de madeira lisa demarcava a pista de dança.
A banda não demorou a começar o show. A pista logo se encheu, e uma relutante Olívia aceitou dançar as músicas lentas impostas pelo diretor. E enquanto dançava com Marcel, observava os demais casais na pista. Philipe e Bianca dançavam de olhos fechados, sem se importar com mais ninguém em volta. Danielle e Henri não estavam muito diferentes, mas conversaram entre si e trocavam sorrisos cúmplices. Kalani, Anabela e Andreas, que não haviam convidado ninguém, não saíram da mesa. Mantinham as cadeiras viradas para a pista e conversavam apontando para os casais, enquanto davam risadas.
- O que foi? – Marcel perguntou vendo Olívia olhar distraída para os lados
- Nada – respondeu vaga e o encarou – Me distrai com a música.
- Também não vi Kwon no salão – ele respondeu como se pudesse ler a mente dela
- Quem disse que estou procurando ele? – Olívia se afastou aborrecida
- Ninguém, só a sua testa.
- Não me amole! – Olívia respondeu na defensiva e se irritou ainda mais quando Marcel riu – Vou voltar pra mesa!
Olívia se soltou das mãos de Marcel e virou de costas, mas congelou. Kwon estava a menos de 10 passos dela, e beijava uma menina loira que ela reconheceu como aluna da Nox, do mesmo ano que eles. Era como se alguém a tivesse jogado um balde de água fria. Não conseguia se mover, nem tampouco esboçar reação. Continuou parada encarando os dois e sentiu uma mão apertar seu ombro.
- Sinto muito – ela ouviu a voz de Marcel e se virou para ele, abraçando o amigo e escondendo o rosto em seu ombro. Ele passou a mão nos cabelos da garota e a abraçou apertado. Ela não percebeu, mas Marcel não conseguiu evitar sorrir ao ver Kwon com outra garota e Olívia recebendo consolo em seus braços. Na verdade, nem mesmo Marcel percebeu o que estava sentindo naquele momento.
Everybody finds somebody someplace
There's no telling where love may appear
Something in my heart keeps saying
That my someplace is here
Frank Sinatra – Everybody Loves Somebody
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