Friday, February 13, 2009

O dia dos namorados havia chegado e, junto com ele, trouxe um clima de romantismo que tomava conta do castelo. A escola ofereceria um baile, como faz todo ano, e dessa vez contaria com a banda dos meninos do castelo para tocar ao vivo. E enquanto aguardavam o baile, os alunos do terceiro ano em diante poderiam aproveitar o dia em Paris. O barco já aguardava no cais e o zelador ia conferindo as autorizações dos alunos, liberando a entrada de um de cada vez. Marcel foi o último a entrar, ladeado por seus seguranças, e encontrou um lugar vazio ao lado de Olívia, que olhava distraída para a água, alheia as brincadeiras dos amigos em volta.

Assim que o barco ancorou no porto embaixo da Pont Neuf, o grupo se dispersou. Saíram tão apressados que Marcel não conseguiu ver a direção que seus amigos seguiam ao atravessar a barreira mágica e ficou esperando Olívia desembarcar, consultando o relógio.

- Para onde foram todos? – perguntou curioso quando a garota saiu e parou ao seu lado – Acho que ficamos de fora dos planos de hoje.
- É dia dos namorados, Marcel – Olívia respondeu entediada – Bianca está com Philipe e Danielle com Henri, vão passar o dia juntos.
- Mas e os outros?
- Kwon e Nani iam almoçar com a mãe deles e depois ele ia levá-la para conhecer a cidade, já que ela não conhece nada. E meu irmão saiu com Kalani, Anabela, Edmond e Enrico. Mas não faço idéia do que foram fazer.
- Melhor nem saber mesmo... – Marcel riu e Olívia o olhou desconfiada, mas não perguntou – E você? O que vai fazer?
- Nada. Odeio dia dos namorados, nunca tem nada pra fazer – ela respondeu azeda e Marcel riu outra vez, mas parou quando ela o olhou atravessado.
- Ainda não entendi porque você recusou o convite dele para fazer parte da novela – os dois começaram a caminhar para fora da barreira e os dois seguranças os seguiam de perto – Vocês iam passar mais tempo juntos!
- Marcel, já pedi que não entre nesse assunto, não quero falar sobre isso.
- Ok, ok, parei. Eu tenho que encontrar meus pais e meus irmãos pra almoçar, quer ir também? Não tem graça você ficar sozinha o dia inteiro.
- Almoço de família e eu de intrusa? Que graça isso.
- Bobagem, minha mãe adora você, sem contar Charlotte e Remy. E se você não for vai me fazer perder o compromisso, não vou deixá-la vagando sozinha por Paris.
- Mas vou ficar sem graça...
- Olívia, nos conhecemos desde que tínhamos 3 anos, freqüentamos a casa um do outro desde então, é impossível isso.
- Tudo bem, eu vou com você. Você não vai desistir mesmo... – disse sorrindo e ele estendeu o braço para ela segurar.

Os dois atravessaram a barreira juntos e os seguranças empurraram os dois para dentro de um carro preto que já os aguardava na saída. Entraram logo depois e fecharam a porta, um deles falou algo para o motorista e o carro seguiu viagem.

- E a sua irmã? – Olívia perguntou quando não viu Charlotte no veiculo – Ela não ia também?
- Charlie está em outro carro, nunca andamos juntos – Marcel explicou pacientemente – Tem um carro para cada um de nós, assim caso algum atentado aconteça, sempre vai ter alguém pra assumir o lugar no trono.
- Ai, credo, parece até que alguém vai jogar uma bomba na gente.
- Nunca se sabe... Precaução acima de tudo.

Marcel sorriu desviando o olhar para a janela e Olívia sentiu o estomago embrulhar. Era verdade que estava acostumada a andar com Marcel e todas as medidas de segurança que o acompanhavam, mas eram sempre em Mônaco, onde as pessoas estavam acostumadas a ter a presença dele e dos outros membros da família nas ruas. Nunca lhe ocorreu a idéia de que havia pessoas que poderiam querer derrubar toda a família e, consequentemente, poderiam derrubar também que estivesse no lugar errado e na hora errada.

- Chegamos – ela sentiu a mão dele bater em sua perna e saiu do transe.

Estavam em frente à Torre Eiffel. Embora frio, o dia estava ensolarado e fazia com que muitos parisienses circulassem pelo jardim que cercava a torre, aproveitando o que poderia ser o único dia de sol até o fim do inverno descansando deitados na grama. Mas os dois não saíram do carro. Permaneceram sentados, sem que ela soubesse o porquê, até que um dos seguranças saiu primeiro e abriu a porta. Marcel foi o primeiro a sair e assim que Olívia pisou no chão, se viu cercada por homens usando terno preto que formavam uma barreira entre Marcel e as pessoas na rua. Muitos curiosos levantaram para olhar e ela pode ver de relance, enquanto era empurrada pelos homens e tentava não soltar da mão do amigo, flashes de câmeras os seguindo. Olívia sentiu um enorme alivio quando entraram no elevador da torre e um dos funcionários o fechou apenas para eles e mais dois seguranças.

- Se assustou, não foi? – Marcel perguntou rindo, enquanto caminhavam pelo andar do restaurante.
- Sim! Achei que fossem carregar você embora! – respondeu ainda assustada
- Estou acostumado, já não me impressiono mais. Ah, lá estão eles.

Marcel apontou para uma mesa perto da janela e seus pais acenaram, sorrindo. Os dois caminharam até lá e sua mãe levantou depressa, abraçando Olívia primeiro, para só depois falar com o filho. Charlotte chegou logo em seguida e sorriu ao ver que a amiga do irmão estava na mesa. Ela era uma das poucas pessoas que Charlotte realmente gostava e que não a achava fútil. E Olívia, que achava que se sentiria deslocada, sequer percebeu o dia passar na companhia do amigo e de sua família. Somente quando o sol começou a se pôr a garota percebeu que o dia havia ido embora. Os seguranças novamente se postaram ao lado de Marcel e Charlotte e os escoltaram de volta para os carros que os levariam ao barco da escola.

- Ei! – Andreas, Anabela e Kalani entraram por último no barco e se atiraram nos bancos vazios atrás de Marcel e Olívia – Fizeram algo de bom hoje?
- Ollie almoçou comigo e meus pais, já que vocês a largaram sozinha hoje – Marcel respondeu brincando com o amigo.
- É, por onde vocês andaram hein? – Olívia virou para trás zangada – Nem mesmo se despediram.
- Fomos mostrar Paris para o Kalani, ele não conhece – Anabela respondeu depressa, mas não soou convincente.
- E Edmond e Enrico também não conhecem Paris? – Olívia insistiu
- Gente, vocês não vão acreditar no que aconteceu! – Bianca e Danielle chegaram correndo com Philipe e Henri atrás, interrompendo o papo.

Andreas, Anabela e Kalani trocaram um olhar aliviado e Olívia não teve mais chance de questionar o paradeiro dos três, pois as meninas levaram toda a viagem para relatar uma confusão ocorrida na Champs-Elyisée e assim que desembarcaram, os três correram para dentro do castelo. Bianca desceu do barco puxando a amiga pela mão e voltaram com Danielle para começarem a se arrumar para o baile, que começaria em duas horas.

- Ah, achei que nunca iam descer – Marcel comentou com Philipe quando viram Bianca, Olívia e Danielle descendo as escadas do dormitório.
- Você está linda, amor – Philipe beijou a mão de Bianca e ela sorriu apaixonada – Vamos?
- Henri está lhe esperando lá fora, Dani – Marcel avisou quando Bianca passou com Philipe e Danielle sorriu agradecendo, saindo com os dois
- E você? – Olívia ficou sozinha e encarou o amigo – Está esperando quem?
- Você – respondeu já estendendo o braço, mas ela não o segurou.
- Eu? – se espantou – Você não tem par?
- Não convidei ninguém. E como você também não tem par – ela o olhou de lado, mas ele não deixou que ela interrompesse – Não adianta olhar assim, você não tem. Vou fazer companhia a você. Vamos?

Olívia ainda pensou alguns segundos, mas acabou cedendo e segurando o braço do amigo, saindo com ele para o baile. O salão estava todo decorado com panos de cor rosa claro, balões em forma de coração, cupidos encantados que flutuavam de um lado para o outro e algumas bolhas de sabão entre eles. No palco havia alguns instrumentos e um dos garotos da banda já afinava sua guitarra e testava os microfones. Ao canto do salão, uma enorme mesa havia sido montada com um banquete e do outro lado, algumas mesinhas para as pessoas sentarem. No centro, uma enorme tábua de madeira lisa demarcava a pista de dança.

A banda não demorou a começar o show. A pista logo se encheu, e uma relutante Olívia aceitou dançar as músicas lentas impostas pelo diretor. E enquanto dançava com Marcel, observava os demais casais na pista. Philipe e Bianca dançavam de olhos fechados, sem se importar com mais ninguém em volta. Danielle e Henri não estavam muito diferentes, mas conversaram entre si e trocavam sorrisos cúmplices. Kalani, Anabela e Andreas, que não haviam convidado ninguém, não saíram da mesa. Mantinham as cadeiras viradas para a pista e conversavam apontando para os casais, enquanto davam risadas.

- O que foi? – Marcel perguntou vendo Olívia olhar distraída para os lados
- Nada – respondeu vaga e o encarou – Me distrai com a música.
- Também não vi Kwon no salão – ele respondeu como se pudesse ler a mente dela
- Quem disse que estou procurando ele? – Olívia se afastou aborrecida
- Ninguém, só a sua testa.
- Não me amole! – Olívia respondeu na defensiva e se irritou ainda mais quando Marcel riu – Vou voltar pra mesa!

Olívia se soltou das mãos de Marcel e virou de costas, mas congelou. Kwon estava a menos de 10 passos dela, e beijava uma menina loira que ela reconheceu como aluna da Nox, do mesmo ano que eles. Era como se alguém a tivesse jogado um balde de água fria. Não conseguia se mover, nem tampouco esboçar reação. Continuou parada encarando os dois e sentiu uma mão apertar seu ombro.

- Sinto muito – ela ouviu a voz de Marcel e se virou para ele, abraçando o amigo e escondendo o rosto em seu ombro. Ele passou a mão nos cabelos da garota e a abraçou apertado. Ela não percebeu, mas Marcel não conseguiu evitar sorrir ao ver Kwon com outra garota e Olívia recebendo consolo em seus braços. Na verdade, nem mesmo Marcel percebeu o que estava sentindo naquele momento.


Everybody finds somebody someplace
There's no telling where love may appear
Something in my heart keeps saying
That my someplace is here

Frank Sinatra – Everybody Loves Somebody

Friday, February 06, 2009

- Olívia! – A garota ouviu seu nome no meio das pessoas no salão comunal e parou, olhando para trás. Logo avistou Kwon com a mão erguida, chamando por ela – Espera!
- Oi Kwon, não vi você ai. Não devia estar na radio? – A garota sorriu para o amigo.
- O salão está cheio mesmo, acho que a neve espantou todo mundo dos jardins – Ele ajeitou os livros na mão e sorriu de volta – E sim, deveria estar lá, mas precisava falar com você antes.
- Claro. O que é?
- Fico meio sem graça em te pedir isso, mas é que... – Marcel, que estava deitado na poltrona lendo um livro sobre quadribol, sentou atento – Bom, queria saber se você quer me ajudar na rádio.
- Como é? – Olívia, que havia ficado esperançosa, quase não conseguiu disfarçar a decepção.
- É que está faltando uma menina pra fechar o elenco da rádio novela e pensei que você talvez fosse gostar de ajudar. Tudo que tem que fazer é ler o texto no ar. Ensaiamos algumas vezes antes, mas nada demais.
- Ah Kwon, obrigada pelo convite, mas não dá – Olívia respondeu desanimada e Marcel arregalou os olhos no sofá – O jornal tem consumido demais o meu tempo, não vou me dedicar como deveria e acabar prejudicando vocês. Desculpe.
- Tudo bem, não precisa se desculpar – ele sorriu pra ela, sem parecer desapontado – Só ofereci a vaga pra você porque pensei que pudesse querer, mas vou encontrar outra pessoa então. Agora tenho que ir, Jude está sozinha lá.

Kwon se despediu da amiga sumindo pela multidão que ocupava o salão comunal e não viu quando Marcel levantou indignado do sofá e foi questionar Olívia, e tampouco quando a garota fez um gesto impaciente e repeliu o amigo, subindo as pressas para o dormitório.

*****

- E terminamos a transmissão de hoje atendendo ao pedido de alguns ouvintes, com a música I Wak the Line, do Johnny Cash. Boa noite e até amanha!

Kwon apertou o botão para colocar a música no ar e desligou o microfone, girando na cadeira e parando de frente para Jude, que arrumava o seu lado da mesa e desligava seu microfone. Ficaram conversando sobre a programação do dia seguinte e desligaram os aparelhos quando a música chegou ao fim, saindo da rádio. Jude voltou logo para o salão comunal da Sapientai e Kwon ficou para trás trancando a porta. Já as guardava no bolso quando saltou assustado ao sentir uma mão segurando seu braço, deixando cair o que tinha na mão. Nani recuou alguns passos, também assustada com a reação dele.

- Desculpa! – a garota falou arrependida de ter o abordado daquela forma – Não tinha a intenção de assustar você.
- Tudo bem, Nani, calma – ele riu dela – É que não é normal alguém além de Jude e eu estar fora dos dormitórios até essa hora. O que faz aqui tão tarde?
- Estava no escritório da diretora, conversando sobre minha adaptação aqui.
- E como está indo? – Kwon finalmente guardou as chaves no bolso e caminhava com a irmã adotiva pelo corredor – Não temos nos visto muito e até peço desculpas, porque é minha culpa. O quadribol e a rádio tomam todo o meu tempo, mas devia encontrar um espaço para ajudar você com o que precisasse.
- Ainda não me acostumei bem – Nani respondeu com um tom desanimado na voz – É tudo muito diferente pra mim, as pessoas me olham de lado por não falar francês fluente, não consigo entender todas as aulas e sinto falta das minhas amigas.
- Quando entrei em Beauxbatons algumas pessoas também me olhavam de lado, para mim e Philipe, por sermos irmãos e não nos parecermos em nada. Preconceito idiota, mas não dê importância. Você é uma garota legal, quando te conhecerem melhor, vão se arrepender. Mas não se feche tanto. Pode sempre contar comigo, Philipe e seu irmão, mas você precisa de amigos da sua idade também.
- Eu sei, eu tento, mas me incomodam os olhares. É tão patético ver as meninas da turma babando em cima da tal Charlotte, só porque ela é uma princesa. Ficam bajulando ela o dia inteiro.
- Charlotte não gosta que a bajulem, pode ter certeza – Kwon riu outra vez – Ela acha que não tem nenhuma amiga de verdade na escola, porque não sabe se estão sendo legais com ela porque gostam dela de verdade ou se é porque é uma princesa. Tenta conversar com ela, acho que se dariam muito bem.
- Duvido muito disso – Nani respondeu descrente – E também tem esses créditos. A diretora disse que preciso deles pra me formar, mas não entendi muito bem como funcionam.
- Os créditos não são necessariamente obrigatórios, mas se você quiser um bom estágio quando se formar, sem eles é impossível conseguir um – Kwon explicou pacientemente, e já chegavam ao corredor que dava acesso ao salão comunal da Fidei – Tem varias atividades que dão créditos, mas as melhores são o jornal, a rádio e o quadribol.
- Não sou boa escritora e muito menos sei jogar quadribol.
- Bom, tem uma vaga na rádio, se quiser – Kwon disse animado – Precisamos de uma menina pra completar o elenco da novela, tudo que tem que fazer é ler suas falas no ar.
- Acho que consigo fazer isso... – Nani sorriu mais animada
- Ótimo! Amanha de manha falo com a Jude, ela é a responsável pelo elenco e vai te procurar pra conversar sobre a personagem.

Os dois pararam em frente ao quadro da fada e Nani disse a senha, fazendo a passagem secreta ser revelada. Ainda era possível ouvir o barulho das conversas animadas lá dentro, embora passasse das 22hs.

- Obrigada Kwon – Nani abraçou o irmão e beijou seu rosto – Estava mesmo precisando conversar um pouco.
- Sempre que quiser conversar, pode me procurar. Irmão mais velho serve pra isso também.
- Vou cobrar isso – ela disse sorrindo e sumiu pelo buraco do quadro.

Kwon continuou parado encarando o lugar por onde Nani havia acabado de desaparecer, sem perceber que sorria. Mas quando percebeu, fechou a cara e sacudiu a cabeça. Por um momento, ele se vislumbrou abraçado a ela, acariciando seus cabelos. E aquela imagem o assustou mais que tudo.