Friday, December 26, 2008

Mônaco, 25 de Dezembro de 1958

Residência dos Delacroix


- Vamos, abra o meu presente – Johnny estendeu um embrulho muito bem feito para Bianca
- O que é isso? – Bianca pegou o embrulho sorridente e sacudiu de leve, rasgando o papel em seguida – Um kit de manutenção para vassouras? – Disse um pouco desapontada – Obrigada, maninho, agora só preciso de uma vassoura para poder usá-lo...
- Ah, desculpe, esse era só uma parte do presente – Johnny sorriu e assobiou alto – Eugene, vai buscar o outro presente da Bia!

O garoto levantou do sofá e subiu as escadas correndo. Voltou segundos depois com um embrulho dourado no formato de uma vassoura e atirou no colo do irmão, voltando a abrir o resto de seus presentes.

- Feliz natal, mana – Johnny esticou o pacote para Bianca, que dessa vez não precisou sacudir e arrancou o papel depressa
- Johnny!! – Bianca abraçou o irmão – É uma Comet 180! Deve ser o último modelo lançado!
- Eu sei, é o modelo que o nosso time vai usar esse ano. É para você treinar e conseguir aquela vaga no time da Lux.
- Charleston nunca vai permitir um time misto em Beauxbatons – Pierre, que abria um de seus presentes perto dos irmãos, se meteu na conversa – Quadribol é um esporte violento, se um balaço arranca a cabeça de uma das garotas, é ele quem vai responder a um processo.
- A Bia joga melhor que os garotos do meu time – Eugene comentou do outro lado da sala e Bianca sorriu para o irmão mais novo
- Claro! No seu time só tem um bando de pirralhos de 10 anos!
- Se você não tem nada de útil pra falar, Pierre, então cale a boca – Johnny defendeu a irmã – Bia é perfeitamente capaz de se cuidar e jogar naquele time.
- Não me mande calar a boca, super astro do quadribol! Eu tenho o direito de expressar a minha opinião e papai concorda comigo!
- Parem vocês dois! – Bianca disse irritada, evitando uma possível briga – Hoje é natal, não vamos recomeçar essa discussão!
- Bia, eu ganhei uma goles do Johnny, quer treinar comigo? – Eugene parou ao lado da irmã com a goles debaixo do braço
- Claro, vamos lá pra fora.

Levantou do chão com sua vassoura nova na mão e deixou os irmãos para trás, ainda se encarando, indo para o quintal coberto de neve jogar quadribol com o irmão de 10 anos. A opinião de Pierre sobre ela poder jogar com garotos não importava. Para Bianca, ter o apoio de seu irmão mais velho e também melhor amigo já era o suficiente.

ººº

Palácio de Mônaco

A sala de estar do palácio estava repleta de bruxos e trouxas bebendo e celebrando o natal, mas do lado de fora, nos jardins, três figuras circulavam sob os olhares atentos dos guardas. Charlotte estava sentada no banco e enquanto alisava o filhote de gato que ganhara de natal, observava os irmãos. Marcel, que havia presenteado Remy com uma vassoura feita sob encomenda, tentava ensinar o irmão a voar.

- Marcel, e se eu cair? – Remy falou preocupado, suas mãos pálidas suando ao segurar o cabo da vassoura
- Você não vai cair – Marcel montou em sua própria vassoura e bagunçou o cabelo do irmão – E se cair, eu pego você. Agora dê um impulso.

O garoto olhou para o irmão ainda inseguro, mas decidiu confiar e deu um impulso com toda força que conseguiu reunir. A vassoura começou a levantar vôo e os guardas se adiantaram, preocupados. Marcel os deteve com um simples aceno e voou atrás do irmão.

- Muito bem, Remy! – Marcel o encorajou – Está voando melhor que a Charlie!
- Ei, eu ouvi isso! – Charlotte gritou do chão e os dois riram

Marcel agora ensinava Remy a fazer curvas com a vassoura e ganhar velocidade, mas à medida que a brincadeira tornava-se perigosa para Remy, um dos guardas resolveu alertar o Rei. Voltaram ao jardim às pressas e Marcel-Louis V tinha a face vermelha de raiva.

- DESÇAM JÁ! – O Rei gritou, furioso, e assustou seus três filhos – MARCEL, TIRE SEU IRMÃO DESSA VASSOURA IMEDIATAMENTE!
- Eu sei descer sozinho! – Remy gritou de volta, ofendido, já inclinando a vassoura
- Remy, cuidado! – Marcel deitou o corpo na vassoura para alcançar o irmão, mas foi tarde demais. Remy perdeu o equilíbrio e a vassoura tombou para o lado, deixando o garoto pendurado

Suas mãos suadas escorregaram e Remy soltou o cabo da vassoura, batendo forte no chão. Por sorte estava a poucos metros do gramado, mas a pouca altura não evitou que quebrasse o pulso. Seu pai correu para socorrê-lo, mas apesar da dor, o garoto não chorava.

- Olhe o que você fez, seu irresponsável! – O Rei gritou com Marcel quando o garoto se aproximou correndo – Remy não pode voar, ele é frágil!
- Talvez se parassem de tratá-lo como se fosse de louça, ele não se machucasse tanto! – Marcel gritou de volta
- Não fale comigo nesse tom! – o homem levantou do chão, encarando o filho mais velho
- Falo como quiser! – Marcel também ficou de pé para encarar o pai no mesmo nível
- Parem! – Remy gritou do chão e Charlotte o ajudou a se levantar – Hoje é natal, por que vocês estão brigando?
- Vamos, Remy – Charlotte olhou para o pai e o irmão e balançou a cabeça – Mamãe pode dar um jeito no seu pulso.

A garota guiou o irmão de volta para o palácio e a Rainha, que era uma Curandeira, cuidou da fratura do filho mais novo. Marcel permaneceu nos jardins, sozinho, por um longo tempo. Só levantou quando viu que as luzes do quarto de Remy haviam se apagado e foi direto até ele. Abriu a porta devagar e a luz do corredor fez Remy se virar na cama. Ele apanhou os óculos em cima da mesa e sentou na cama.

- Como você está? – Marcel perguntou preocupado, sentando na ponta da cama
- Meu pulso dói um pouco, mas nada demais. Papai exagerou na reação.
- Ele só ficou preocupado – Marcel justificou o pai – Também fiquei, a culpa foi minha.
- Você não faz nada além de me dar o melhor presente de natal que já ganhei.
- A vassoura? – Marcel riu – Você já teve outras, mas menores.
- Não, você me ensinou a voar – Remy sorriu – Você não me tratou como um doente que não pode fazer nada que os outros fazem e me deixou ser um garoto normal por 5 minutos.
- Mas eu devia ter tomado mais cuidado! Você caiu e se machucou, podia ter sido grave.
- Eu já estive bem pior. Vai, você tem que admitir que foi engraçado o jeito que eu cai!
- Não teve graça, Remy – Marcel se manteve firme, mas a risada do irmão quebrou o ar sério – Ok, foi um pouco engraçado. Você parecia uma peça de roupa pendurada no varal.
- Vou precisar de outras lições antes que você volte pra escola.
- Ok, mas vamos voar sobre a piscina, ao menos se você cair, não se machuca.
- Fechado – Remy estendeu a mão e Marcel a apertou, sorrindo.

Passaram o resto da noite de natal conversando sobre táticas de vôo e Marcel prometeu levá-lo a alguns jogos de quadribol durante as férias de verão. Tudo que Remy queria era se sentir como uma criança normal e ao menos nisso Marcel poderia ajudar o irmão.

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