Em 1958, muita coisa aconteceu. O Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo, o primeiro satélite americano foi mandado para o espaço, o Papa Pius XII faleceu... Mas o ano de 1958 também foi marcado como o ano do recomeço. Foi em Setembro de 1958 que Kalani embarcou pela primeira vez, aos 16 anos, para a Academia de Magia Beauxbatons.
O mundo mágico era novo para ele e sua irmã mais nova, Nani. Haviam sido tirados do mundo onde cresceram e conheciam e jogados em um outro totalmente desconhecido em muito pouco tempo. Em um mês, Kalani ganhara uma casa nova, pais novos, dois irmãos e se esforçava para aprender uma nova língua. Ganhara também meia dúzia de amigos novos, dos quais ele ainda tinha uma visão diferente da que seus irmãos tinham.
Enquanto aguardavam a hora de embarcar para a escola, observava as pessoas que atravessavam a barreira do porto. A primeira dos novos amigos a passar foi Bianca. Vinha abraçada a um rapaz muito parecido com ela, mas mais velho, e que recebia a atenção de muitas pessoas. ‘Johnny Latour, irmão mais velho da Bia. É o astro dos Quiberon Quafflepunchers!’, Kwon comunicou e Kalani sorriu, embora não soubesse o que eram os Quiberon Quafflepunchers. E não importava o que vinham a ser, pois sua atenção estava em Bianca. Ela, como Kalani descreveu para si mesmo, tinha olhos tão azuis que ele poderia passar horas apenas os admirando, perdido no tempo. E ela, como Kalani também logo descobriu, era namorada de seu irmão Philipe.
Philipe era o atleta da turma. Muito simpático e brincalhão, estava sempre de bom humor. Kalani tinha certeza que Philipe era capaz de competir e se dar bem em qualquer modalidade esportiva sem se tornar arrogante por isso. Era alto para a idade, mas não mais que Kwon, o que deixava Philipe inconformado. Os dois estavam sempre implicando um com o outro por causa da diferença de altura. Mas diferente de Philipe, Kwon era mais reservado. Gostava de praticar esportes tanto quanto o irmão, mas não fazia disso prioridade em sua vida. Kwon só se deixa relaxar e desfaz a expressão séria que carrega o tempo todo quando está com os amigos. Torna-se uma pessoa completamente diferente daquela que comanda a rádio da escola e que tem como objetivo de vida comercializar varinhas, que já consegue fabricar, embora algumas ainda apresentem algumas falhas.
Kwon tinha uma admiradora secreta no grupo e não fazia idéia. Era Olívia, a garota que, segundo Kalani, era a mais doce e prestativa dos 8 amigos. Olívia vive sob a represália do pai e quer se tornar escritora, mesmo sabendo que terá que bater de frente com ele. Kalani achava Olívia um pouco atrapalhada, mas isso acabava tornando-a engraçada. Já o irmão gêmeo dela, Andreas, era o tranqüilo do grupo. Era a personificação do bom humor, não suportava ver os amigos desanimados ou sem nada para fazer. É o melhor amigo de Anabela, a garota de descendência alemã com espírito rebelde. Andreas contou que Anabela, em um surto de rebeldia e em uma tentativa bem sucedida de levar o pai à loucura, cortou os cabelos em casa na altura da orelha e jogou fora todos os sapatos de salto, adotando apenas botas de combate no guarda-roupa.
Já Danielle, a menina ruiva que trabalhava na lanchonete da cidade, era com quem Kalani mais se identificava. Sua família sempre foi pobre e Danielle havia perdido os pais aos 14 anos. Ela agora vivia com o avô e os irmãos, os gêmeos de 10 anos Frédéric e Thomás. Seu avô já era muito idoso e Danielle trabalhava escondida dele para ajudar nas despesas da casa quando estava de férias e sempre contou com a ajuda dos irmãos para que o avô não descobrisse. Ela namorava um garoto muito rico, mas era orgulhosa e não permitia que ele se envolvesse nos problemas que tinha em casa.
O último do grupo a atravessar a barreira foi Marcel. Vinha ao lado de uma garota com o uniforme da escola e um menino de óculos de 10 anos. Ele tinha uma aparência muito frágil, mas sorria conversando com Marcel. Os três irmãos vinham cercados por seis seguranças e chamavam a atenção por onde passavam. Kalani não acreditou que Marcel fosse um príncipe de verdade quando o conheceu, achou que fosse alguma brincadeira dos amigos. Apenas quando a lanchonete onde estavam foi invadida pela Guarda Real a procura do garoto, que havia fugido, foi que ele acreditou. Para ele, Marcel era um príncipe fora dos padrões. Era muito brincalhão e tinha certa admiração por Olívia, embora nem ela, ele, ou mais ninguém parecesse notar.
- Vamos, Kalani? – Philipe bateu em seu ombro e Kalani saiu do transe – O barco vai partir em 10 minutos.
- Não se preocupem, não é tão assustador quanto parece. – Caterine o abraçou se despedindo
- É, vocês vão gostar – Kwon sorriu para Nani, que ainda estava insegura – E vamos estar lá para ajudar.
- Vai dar tudo certo, Nani – Kalani estendeu a mão para irmã, que a segurou – Vai dar tudo certo.
A garota suspirou e acompanhou os irmãos para dentro do barco. Os novos amigos logo se acomodaram nas poltronas ao redor e deram inicio a um animado bate-papo. Logo o porto já estava fora do campo de visão. Kalani não sentiu o tempo passar, até que Bianca sentou ao seu lado e apontou para o lado esquerdo do barco. Kalani virou e se deparou com a silhueta de um enorme castelo em tom alaranjado graças ao sol que já começava a se pôr. Ao fundo dele, algumas balizas brilhavam com os poucos raios do sol e refletiam em um imenso lago.
- Lindo, não? – Bianca falou admirando a visão.
- Sim, lindo... – ele respondeu hipnotizado pelo cenário
- Seja bem vindo ao nosso lar – ele sentiu um tapa nas costas e viu o rosto de Marcel sorrindo - Bem vindo a Beauxbatons!
Kalani olhou outra vez para o castelo e sorriu também. Não sabia explicar, mas de alguma forma, sentia-se em casa.
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