Lembranças de Anabel Damulakis McCallister
- Já disse: é uma surpresa. Para de me perguntar. Não vou te responder.
- É sério, Bê. Não queria ter que sair de Beauxbatons. Agora que as investigações sobre o Grimoire estão chegando a alguma coisa concreta e...
- Alguns meses. – ele sorriu satisfeito me oferecendo o braço. Aceitei. Caminhamos em direção à recepção.
- Você é maluco! Uma água aqui deve custar o olho da cara.
- Como você é romântica, Anabel! – ele riu e deu um beijo na minha testa. – Vamos.
- Melhor não corrermos riscos. Já vou ter que deixar meu rim aqui, por causa do jantar. Se tiver que deixar um fígado por causa dos prejuízos...
- Ah, isso foi muito romântico! Muito mesmo! Estou impressionada. – disse sarcástica e ele me puxou para um beijo longo.
Tudo estava indo maravilhosamente bem. Pedimos as bebidas, e uma entrada maluca, mas até saborosa. Bernard e eu ríamos e comentávamos dos outros casais ao nosso lado. As mulheres cheias de jóias e maquiagens, os homens pomposos.
- Assim como? – Bernard perguntou beliscando a entrada.
- Assim... cheia de... estilo. Entende? Como a Isabel. Posso até implicar, mas tenho que assumir: ela tem estilo. Ela sabe se comportar em lugares como esse. Sabe se vestir.
- Nada. Só estou registrando esse momento de você elogiar a Isa.
- Estou falando sério, Bê!
- Eu também! Do que afinal você está falando? Você também é cheia de “estilo”. Só conheço uma pessoa igual a você, e essa pessoa está sentada na minha frente, nesse exato momento! Não precisa usar saltos, nem marcas, nem ser a melhor aluna da turma de etiqueta. Você é ótima do jeito que é.
- Você sabe muito bem que eu sou VEGETARIANA! – disse elevando a voz. Alguns casais nos olhavam assustados, mas minha raiva estava incontrolável.
- Sei. Por quê?
- Se sabe, por que pediu um prato cheio de CARNE pra mim?
- Carne? Bel, isso não é carne. O meu é igual, olha. – ele apontou para o próprio prato, assustado. A voz controlada no mesmo tom. – São moluscos.
- Alguma coisa errada?
- Meu namorado. Pode trocar para mim, por favor? – perguntei com raiva, mas o garçom continuou imóvel. – Esse maldito prato. Não quero isso. Tira.
- A comida não está temperada ao seu gosto? – o garçom insistiu, mas Bernard o olhou definitivo e ele retirou nossos pratos. – Posso lhes servir outro jantar então?
- Acho melhor trazer a conta. – Bernard disse seco e o garçom concordou. Quando ele se afastou, nos encaramos. – Melhor assim? Irmos embora?
- É. Muito melhor. – respondi azeda.
- Eu estrago! Pode terminar a frase. Pode dizer que eu acabei com todos os seus brilhantes planos para um dia dos namorados romântico. Mas será que eu tenho direito de não comer carne e não gostar de frutos do mar? – perguntei irritada. Nos calamos.
- É óbvio: nós dois, eu e você, não podemos mais comemorar NADA em restaurantes! Nunca mais. Sempre sai alguma coisa errada.
- Tudo bem. Desculpa ter feito aquele escândalo. Acho que depois dessa, você não consegue reserva lá nem com anos de antecedência.
- Ah, não ia tentar outra de qualquer maneira...
- Eu também.
- No apartamento de vocês já tem fogão? – perguntei zombadora e ele levantou a sobrancelha.
- Ta brincando? Claro que temos. Inutilizado, mas temos. Podemos improvisar alguma coisa... – ele sugeriu.
- Sem carnes e moluscos?
- Fechado.
Depois de termos “improvisado” uma lasanha congelada no sabor quatro queijos, fomos para o quarto de Bernard. Estava atualizando-o sobre as novidades do Grimoire e ele escutava com atenção.
- Ainda temos bastante tempo. – ele insistiu me puxando novamente, dessa vez para cima dele. Escapei.
- Não. Melhor eu voltar agora. Você vai me levar?
- Qual é o problema?
- Problema?
- De nós dois. Já estamos juntos há mais de um ano, Bel. Nós nunca... você sabe. Qual o problema? É comigo?
- Depois de mais de um ano eu ainda não te convenci que eu realmente gosto de você? Bel, eu te amo. Acredite, eu nunca disse isso pra ninguém! – ele falou sério segurando minha mão e eu senti todo o meu corpo amolecer.
- Eu preciso entrar.
- Eu acabo de te dizer que te amo e você diz que precisa entrar? – ele se afastou incrédulo.
- Desculpa. Eu preciso de um tempo. – entrei no castelo. Comecei a caminhar me afastando do portão, mas sabia que ele ainda estava lá, me observando.
- Vou esperar o tempo que você achar necessário, então. – gritou. Parei de andar. Virei para encará-lo, mas antes que conseguisse, ouvi um estalo. Desapareceu. Encarei a estrada deserta um bom tempo me sentindo adormecida.
As semanas seguintes correram pacatas. Entre aulas e deveres, os alunos do 7° ano agora tinham uma nova “preocupação” na cabeça: a viagem de formatura. Não demorou muito e ela nos alcançou.
Na véspera do dia 7 de março, Máxime despachou todas as nossas bagagens e distribuiu os horários que cada chave de portal sairia. Não se falava de mais nada.
Na manhã da viagem, desci para tomar café da manhã com Brenda e Anne. Isa e Dora não demoraram a se juntar a nós, ambas vestidas com grandes botas de couro e roupas camufladas.
- Oras. Estamos indo para um lugar cheio de matas, desertos, safáris e sabe-se lá o quê mais. Temos de nos vestir adequadamente, não é? – Isa respondeu com simplicidade. Anne riu e Brenda concordou com ela. Não respondi.
- Se estão dizendo... Que hora vocês vão?
- Dentro de 1 hora, 23 minutos e 46 segundos, exatamente. – Dora consultou o relógio de pulso. – Brendan e os outros meninos do time da Fidei vão conosco. Eles também estão camuflados. – ela completou empolgada apontando para outros cinco ou seis garotos na mesa da Fidei com as mesmas roupas das duas. Eu e Anne trocamos um olhar mudo.
- Que gracinha. Todos em perfeita harmonia. – Ironizei e Anne caiu na risada. Isa sorriu.
- E vocês? Quando saem? – ela perguntou sem responder à provocação.
- Em 25 minutos. – Brenda respondeu empolgadíssima.
- Desculpa Bella. Não percebi que ainda estávamos de mãos dadas. – ele respondeu animado. Fechei a cara. – Essa viagem promete ser ótima, não acha?
- Se você manter uma distância considerável de mim, sim, vai ser ótima.
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