Janeiro de 1960
Após umas férias de final de ano agitadas, era hora de voltar para a escola e continuar com a nossa rotina de estudos para os NIEM’s. AJ demorou a voltar e todos estávamos preocupados com ele, claro Alice estava mais, mas Tristan estava tenso, com a demora de nosso amigo, eu era a única dos três a tentar manter a calma, mas estava ficando dificil. Não poderia dizer a eles que eu mantinha a calma, porque meu cunhado Kyle, de uma forma que ele não havia me explicado, tentava monitorar a segurança dos Chronos, e ele apenas me dizia que AJ e a mãe estavam bem, que logo eles estariam em casa. E com o estado delicado de Alice, eu não queria assusta-la, não quando nem eu conseguia entender direito, que tipo de auror era o meu cunhado.
Cada um de nós, tinha seus próprios problemas para resolver e eu não era uma exceção, já que eu também era a editora do jornal da escola e tinha muitas coisas para decidir e fazer, antes de nos formarmos.
- Ok, já temos a matéria de capa, e preciso colocar um aviso para os alunos do sétimo ano, que na próxima semana faremos as fotos para o anuário...- eu disse enquanto riscava mais um item da agenda e engolia um pouco de suco de abóbora do jantar.
- De novo? Mas já nos fotografaram a semana passada. – remungou Andreas e eu respondi:
- Agora serão as fotos individuais, onde cada um de nossos amigos poderá assinar e deixar uma dedicatória, algo mais descontraído... Nada parecido com um selo comemorativo.- provoquei:
- E ela era tão quietinha quando chegou aqui...É...más companhias fazem isso.- ele respondeu e
ele e Tristan bateram as mãos no ar, trocando cumprimentos.
- Sabe poderíamos fazer uma edição especial, com a foto de todos os colunistas no final do ano letivo o que acham?- sugeriu Olivia.
- É, ai poderemos conhecer a tão famosa ‘Shirley’, até agora não entendo como somente a Millie e a professora Molineux sabem quem ela é? Aposto que é uma gatinha. - disse Yanic e eu disse rindo:
- Bom, eu acho que uma matéria com os colunistas ficaria ótima, e espero que a Shirley aceite fazer a foto, aposto que será memorável. Talvez ela seja uma das poucas, que ainda não sucumbiu ao seu charme Yanic...
- Quer apostar que eu a conquisto??- e os meninos começaram a se mexer para formar um bolão de apostas, dando seus palpites.
- Mesmo que ela seja um trasgo? Tenha pernas cabeludas?- e Yanic respondeu rindo:
- Não existe mulher feia, você apenas bebeu pouco.- e rimos com ele.
Nos despedimos de Kwon, Andreas, Anabela e Jude, pois iriam colocar a rádio no ar e ficamos conversando e rindo e de repente ouvimos o bater de asas, tão conhecido indicando o correio coruja.
Estranhamos, pois normalmente elas apareciam de manhã e uma assim, à noite devia ser muito urgente. Todos no salão observaram a coruja vir diretamente até a nossa mesa e pousar na minha frente, e percebi uma carta trouxa amarrada em sua pata.
Peguei a carta e dei a ela um pedaço de maçã e ela levantou vôo. Meus amigos estavam tão apreensivos quanto eu, então abri logo a carta. Minha expressão devia estar mudando rapidamente à medida que eu ia lendo, que Alice perguntou preocupada:
- Aconteceu alguma coisa séria Millie?
- É uma carta de uma editora querendo publicar minhas estórias infantis e quer usar minhas ilustrações... - e fui levantando a vista e encarando cada um de meus amigos, que pareciam tão espantados quanto eu.
- Estórias Infantis? Mas você não escreve con...quer dizer, artigos para o jornal?- perguntou AJ, mas não respondi, voltei a olhar para a carta e ao final, a editora se dizia encantada pelo meu estilo de escrever e pelos desenhos cheios de vida das figuras...
- Ela diz que leu “O esquilo Trica-nozes”...- e nessa hora a rádio começou a a transmitir a nova novela, e todos fizeram silencio, enquanto eles começavam a falar, segurei a carta na mão e comecei a ouvir os anúncios e depois o nome da novela, “Os ricos também choram...”mas quando eles começaram a transmissão, levantei derrubando a cadeira:
- O que foi isso Millie?- quis saber Derek assustado, enquanto eu sacudia as mãos desesperada:
- Eles precisam parar de transmitir isso... Eu não autorizei... - e nesta hora caiu de dentro do envelope, um cartão de agradecimento. Peguei o cartão e depois de ler, me lembrei que meu namorado, era o único a não demonstrar espanto por causa da carta.
- Tristan... O que está acontecendo aqui?- eu perguntei tremendo e acho que minha voz devia estar um pouco esganiçada, porque as pessoas começaram a olhar:
- Ok, eu confesso: fui eu que enviei uma cópia do seu livro para esta editora, eu a conheci no restaurante onde eu trabalhei e pelo jeito eu tinha razão. Ela adorou suas estórias, e a novela da rádio, também fui eu, eles gostaram da sua novela romântica, então... Parabéns, agora você vai ser uma autora conhecida e publicada!- e sorriu, e nesta hora eu devo ter enlouquecido, porque saquei a varinha e apontei para ele e em minha mente eu gritei: estupefaça, e o joguei longe, e as pessoas gritaram assustadas.
- Hey, o salão não é lugar de duelos. O que está havendo aqui?- perguntou Philipe, enquanto Tristan levantava e me encarava pasmo, enquanto eu perguntava:
- Como você fez isso?? Ou melhor como você pode fazer isso comigo?
- Amorzinho, vamos conversar em algum lugar mais reservado...
- Por quê? Você não respeitou a minha privacidade, porque devo respeitar a sua?- perguntei tensa.
- Vocês aí circulando, ou vou descontar pontos de todos.- disse Philipe sério dispersando as pessoas que se juntavam ao nosso redor.- mas percebi que AJ, Alice, Derek, Dani e o próprio Philipe, continuavam perto de nós.
- Vocês sabiam?- olhei para eles rapidamente fizeram que não com as cabeças e voltei meu olhar para Tristan que começou a falar rápido:
- Millie você é uma escritora incrível, e quando vi o livros que você deu aos seus sobrinhos, os achei tão bons, que pensei que outras crianças também deveriam ter a oportunidade de ouvir estórias tão bonitas e de ver aquelas ilustrações... Eu sei que você, tímida do jeito que é, não procuraria alguém para publicar, então eu fiz cópias através da magia, e a mostrei para a senhora Markham.É uma editora pequena, mas muito responsável, e nunca a enganaria.Tanto que ela está te oferecendo um contrato não é?
- E a novela? Onde você a conseguiu?- perguntei friamente.
- Você me emprestou alguns livros e ela estava junto... Mostrei a Andreas, que achou a trama muito interessante e resolveu colocar no ar, ele queria falar com você sobre isso, mas eu não deixei. Eu disse a ele que seria uma ótima surpresa para você, não pensei que você fosse se chatear. - ele disse e tentou se aproximar de mim e eu novamente ergui a varinha, o mantendo afastado:
-Sabe, porque eu escrevo estes contos, as novelas, as estórias infantis...? Não é só porque eu amo escrever, mas foi a forma que encontrei de poder manter viva, a memória dos meus pais, e poder transmitir o amor que eles deram a mim e a minha irmã para os meus sobrinhos que nunca vão conhecer os avós, mas de alguma forma se sentiriam próximos por eles. Cada um dos livros que você viu, eram presentes pessoais.
- Descul...
- Ainda não acabei.- disse ríspida e ele se calou:
- Se eu não havia procurado uma editora, era porque eu não estava pensando em publicá-los, não agora. Qual é, eu sou a editora chefe do jornal da escola, não acha que eu poderia pedir para professora Cecile me ajudar? Ou então começar a publicar meus contos no jornal? Acha que eu não sou capaz de decidir por mim mesma, quando algo de minha autoria é bom? Você me acha tão estúpida assim? Não, não se incomode, eu respondo esta: Deve achar ou não teria tomado para si o poder de decidir expor algo que pertencia a mim.
- Millie, acalme-se... Deixe-explicar, por favor...- disse Tristan, e pensei sentir um pouco de apreensão em sua voz, mas ignorei:
- Mesmo que você passasse um ano se explicando, não adiantaria nada Tristan. Você traiu a minha confiança, e sinceramente eu não consigo mais olhar para você sem me perguntar como eu pude me enganar tanto com alguém. Agora sim, eu acabei... Ou melhor, acabamos.
Saí correndo do salão principal, deixando as pessoas chocadas para trás, e enquanto eu fazia o caminho para a Lux, ouvia nos auto falantes da escola, a minha primeira radio novela sendo transmitida e eu não estava me sentindo feliz.
If you knew just how I really feel
You might return and yet
There are so many times
That people have to love and then forget
Oh there might have been a way somehow
I have to force myself to say
It's over
Nota da autora:
A história infantil citada, é de autoria de Beatrix Potter, uma grande autora inglesa, que criou Peter Rabbit. E a novela citada "Os ricos também choram", foi uma novela exibida pelo SBT, que foi um sucesso mundial.Trecho da música, It’s Over, de Elvis Presley.
Tuesday, January 19, 2010
Monday, January 18, 2010
Janeiro de 1960
- Bati! – Danielle abriu as cartas na mesa e puxou toda minha pilha de fichas.
- Dê as cartas outra vez – respondi sério, devolvendo as minhas.
Já passava da meia noite e não havia uma alma viva acordada na Lux, exceto por Danielle e eu. Preocupado com Remy, que havia se sentido mal durante o dia e precisado passar um bom tempo na enfermaria, perdi o sono e ganhei a companhia de Danielle, que não conseguia dormir por estar com coisas demais na cabeça. Segundo ela, pensar muito às vezes atrapalhava.
- Tem certeza? Podemos pular toda a burocracia de ter que jogar e você podia me dar logo o dinheiro, já perdeu cinco partidas mesmo – ela zombou – O que há com você, afinal? Nunca te vi perder tantas partidas de Snap Poker seguidas.
- Estava um pouco distraído, só isso. Vamos, dê logo as cartas, não vou perder pela 6ª vez.
- E o que te distrai? Por acaso está pensando na namorada? – ela perguntou em tom de deboche, distribuindo as cartas mais uma vez.
- É, mas não do modo que está pensando – ela me olhou intrigada – Ela está tentando me tirar do sério.
- Sinto um desequilíbrio entre Fred Astaire e Ginger Rogers – ela zombou outra vez, mas continuei sério e ela parou – Ok, o que eu perdi?
- Ela não para de falar no Kwon! – explodi, atirando as cartas na mesa – O tempo todo, tudo é o Kwon! Que ele é isso e aquilo, e que não sabe como fazer para que ele a note, blá, blá, blá. Não sei se ela já notou que gosto dela e está fazendo isso para me irritar ou se não percebeu nada mesmo.
- A Olivia que conheço jamais faria isso sabendo que você gosta dela – Danielle a defendeu – Ela não deve ter percebido nada, ela nunca percebe as coisas.
- Que seja, mas está me tirando do sério de qualquer jeito. Preciso acabar com isso, antes que acabe comigo.
- E o que você pretende fazer? Quer que eu converse com ela e tente contornar isso?
- Não, obrigado, posso cuidar disso sozinho – recolhi as cartas da mesa e distribui entre nós dois – Vamos jogar outra vez, não vou deixá-la bater de novo.
Danielle ficou me encarando com ar de curiosidade e preocupação, mas não perguntou o que eu tinha em mente e continuamos a jogar Snap Poker. Não tinha um plano elaborado, mas sabia que precisava tirar Kwon do meu caminho, e a qualquer preço.
A jogatina com Danielle no salão comunal da Lux durou toda a madrugada. Sem sono nenhum, viramos a noite jogando todos os tipos de jogos de carta que conhecíamos, tanto trouxas quanto bruxos, e colocamos a conversa em dia. A correria diária do 7º ano, os treinos de quadribol e a preocupação constante com Remy não me deixavam tempo para saber, por exemplo, que Danielle vinha sendo atormentada pela irmã gêmea de Henri, Estelle, e que tentava sobreviver à perseguição dela sem terminar o dia com uma passagem só de ida para Azkaban. Boa parte da madrugada insone foi dedicada a insultos a Estelle e demos boas risadas, o que acabou por tirar um pouco do peso de tudo que Danielle vinha enfrentando.
Mas se a noite foi de risadas e disposição, o dia seguinte foi exatamente o contrario. Graças à noite em claro, as aulas da terça-feira não renderam em nada. Danielle e eu passamos o dia inteiro nos escorando pelos cantos, cochilando enquanto os professores falavam e na hora do almoço, enquanto nossos amigos tagarelavam animados do nosso lado. Olivia até esqueceu sua obsessão por Kwon, curiosa para saber por que estávamos tão cansados. Havíamos optado pela tortura e não contamos a ele que havíamos passado a noite batendo papo, deixando todos com suas teorias furadas e a curiosidade em alta.
Danielle lutava para não dormir em sua aula favorita, Botânica, e eu já cochilava escondido atrás de algumas mudas de Bubotúberas quando Andreas me cutucou e acordei assustado, derrubando os vasos no chão e chamando a atenção de toda a turma.
- O que? – perguntei mal humorado e ele me ajudou a recolher os vasos.
- Sério, o que você e Dani andaram fazendo essa noite? Nunca vi você cochilar em DCAT e aposto que nem sabe sobre o que foi a aula de hoje.
- Me acordou só pra testar minha memória?
- Não, só pra lembrá-lo de que hoje temos radio novela às 20h. Jude quer revisar o texto já que a novela é nova, então temos que chegar lá às 18h.
- Estarei lá.
Terminamos de recolher as plantas e remendei os vasos quebrados, recolocando todos no lugar e voltando ao meu cochilo. Nunca um dia se arrastou tanto e quando o sinal anunciando o fim das aulas finalmente tocou, me arrastei sozinho até a rádio enquanto o resto do elenco ia jantar. Nani era a única pessoa na rádio, encarregada de colocar as primeiras músicas do dia no ar e já com um grosso caderno na mão, que reconheci de imediato como o script da novela.
- Largaram você sozinha aqui? Isso é trabalho escravo, você pode denunciar o Kwon – brinquei entrando na sala e ela riu.
- Jude pediu que viesse mais cedo porque ela precisava terminar um trabalho de Literatura Mágica pra amanhã antes de vir pra cá – sentei ao seu lado na mesa e ela me estendeu um pedaço solto do caderno – Sua parte, se quiser começar a estudar.
- Os ricos também choram – li o nome na capa do script – É a novela da Millie, não é?
- É sim, Kwon e Jude trabalharam a semana toda para transformar ela em radio novela, ficou muito legal.
- Bom, então vamos começar a trabalhar.
Espantei o sono e Nani começou a me ajudar a passar o texto do dia, mas logo Kwon chegou e nos fazer companhia. Vê-lo entrando na rádio me fez lembrar o tormento que Olivia estava me fazendo passar e não consegui mais me concentrar na passagem de texto. Enquanto ele e Nani liam o roteiro diversas vezes, ficava martelando na cabeça uma maneira de afastar da cabeça dela a idéia de que Kwon poderia notá-la. A única solução que voltava sempre a mente era que, se ele tivesse uma namorada, ela talvez desencanasse, mas Kwon era a pessoa mais introspectiva da face da Terra, quem ia namorá-lo?
A resposta me atingiu como uma estrela cadente, até pude sentir o brilho daquele plano. A única pessoa no mundo, além de Olivia, que parecia achar a nerdice de Kwon interessante estava sentada na cadeira ao meu lado, e parecia facilmente manipulável. Eu iria transformar Kwon e Nani no casal sensação de Beauxbatons, ou não me chamo Marcel!
- Bati! – Danielle abriu as cartas na mesa e puxou toda minha pilha de fichas.
- Dê as cartas outra vez – respondi sério, devolvendo as minhas.
Já passava da meia noite e não havia uma alma viva acordada na Lux, exceto por Danielle e eu. Preocupado com Remy, que havia se sentido mal durante o dia e precisado passar um bom tempo na enfermaria, perdi o sono e ganhei a companhia de Danielle, que não conseguia dormir por estar com coisas demais na cabeça. Segundo ela, pensar muito às vezes atrapalhava.
- Tem certeza? Podemos pular toda a burocracia de ter que jogar e você podia me dar logo o dinheiro, já perdeu cinco partidas mesmo – ela zombou – O que há com você, afinal? Nunca te vi perder tantas partidas de Snap Poker seguidas.
- Estava um pouco distraído, só isso. Vamos, dê logo as cartas, não vou perder pela 6ª vez.
- E o que te distrai? Por acaso está pensando na namorada? – ela perguntou em tom de deboche, distribuindo as cartas mais uma vez.
- É, mas não do modo que está pensando – ela me olhou intrigada – Ela está tentando me tirar do sério.
- Sinto um desequilíbrio entre Fred Astaire e Ginger Rogers – ela zombou outra vez, mas continuei sério e ela parou – Ok, o que eu perdi?
- Ela não para de falar no Kwon! – explodi, atirando as cartas na mesa – O tempo todo, tudo é o Kwon! Que ele é isso e aquilo, e que não sabe como fazer para que ele a note, blá, blá, blá. Não sei se ela já notou que gosto dela e está fazendo isso para me irritar ou se não percebeu nada mesmo.
- A Olivia que conheço jamais faria isso sabendo que você gosta dela – Danielle a defendeu – Ela não deve ter percebido nada, ela nunca percebe as coisas.
- Que seja, mas está me tirando do sério de qualquer jeito. Preciso acabar com isso, antes que acabe comigo.
- E o que você pretende fazer? Quer que eu converse com ela e tente contornar isso?
- Não, obrigado, posso cuidar disso sozinho – recolhi as cartas da mesa e distribui entre nós dois – Vamos jogar outra vez, não vou deixá-la bater de novo.
Danielle ficou me encarando com ar de curiosidade e preocupação, mas não perguntou o que eu tinha em mente e continuamos a jogar Snap Poker. Não tinha um plano elaborado, mas sabia que precisava tirar Kwon do meu caminho, e a qualquer preço.
ººººº
A jogatina com Danielle no salão comunal da Lux durou toda a madrugada. Sem sono nenhum, viramos a noite jogando todos os tipos de jogos de carta que conhecíamos, tanto trouxas quanto bruxos, e colocamos a conversa em dia. A correria diária do 7º ano, os treinos de quadribol e a preocupação constante com Remy não me deixavam tempo para saber, por exemplo, que Danielle vinha sendo atormentada pela irmã gêmea de Henri, Estelle, e que tentava sobreviver à perseguição dela sem terminar o dia com uma passagem só de ida para Azkaban. Boa parte da madrugada insone foi dedicada a insultos a Estelle e demos boas risadas, o que acabou por tirar um pouco do peso de tudo que Danielle vinha enfrentando.
Mas se a noite foi de risadas e disposição, o dia seguinte foi exatamente o contrario. Graças à noite em claro, as aulas da terça-feira não renderam em nada. Danielle e eu passamos o dia inteiro nos escorando pelos cantos, cochilando enquanto os professores falavam e na hora do almoço, enquanto nossos amigos tagarelavam animados do nosso lado. Olivia até esqueceu sua obsessão por Kwon, curiosa para saber por que estávamos tão cansados. Havíamos optado pela tortura e não contamos a ele que havíamos passado a noite batendo papo, deixando todos com suas teorias furadas e a curiosidade em alta.
Danielle lutava para não dormir em sua aula favorita, Botânica, e eu já cochilava escondido atrás de algumas mudas de Bubotúberas quando Andreas me cutucou e acordei assustado, derrubando os vasos no chão e chamando a atenção de toda a turma.
- O que? – perguntei mal humorado e ele me ajudou a recolher os vasos.
- Sério, o que você e Dani andaram fazendo essa noite? Nunca vi você cochilar em DCAT e aposto que nem sabe sobre o que foi a aula de hoje.
- Me acordou só pra testar minha memória?
- Não, só pra lembrá-lo de que hoje temos radio novela às 20h. Jude quer revisar o texto já que a novela é nova, então temos que chegar lá às 18h.
- Estarei lá.
Terminamos de recolher as plantas e remendei os vasos quebrados, recolocando todos no lugar e voltando ao meu cochilo. Nunca um dia se arrastou tanto e quando o sinal anunciando o fim das aulas finalmente tocou, me arrastei sozinho até a rádio enquanto o resto do elenco ia jantar. Nani era a única pessoa na rádio, encarregada de colocar as primeiras músicas do dia no ar e já com um grosso caderno na mão, que reconheci de imediato como o script da novela.
- Largaram você sozinha aqui? Isso é trabalho escravo, você pode denunciar o Kwon – brinquei entrando na sala e ela riu.
- Jude pediu que viesse mais cedo porque ela precisava terminar um trabalho de Literatura Mágica pra amanhã antes de vir pra cá – sentei ao seu lado na mesa e ela me estendeu um pedaço solto do caderno – Sua parte, se quiser começar a estudar.
- Os ricos também choram – li o nome na capa do script – É a novela da Millie, não é?
- É sim, Kwon e Jude trabalharam a semana toda para transformar ela em radio novela, ficou muito legal.
- Bom, então vamos começar a trabalhar.
Espantei o sono e Nani começou a me ajudar a passar o texto do dia, mas logo Kwon chegou e nos fazer companhia. Vê-lo entrando na rádio me fez lembrar o tormento que Olivia estava me fazendo passar e não consegui mais me concentrar na passagem de texto. Enquanto ele e Nani liam o roteiro diversas vezes, ficava martelando na cabeça uma maneira de afastar da cabeça dela a idéia de que Kwon poderia notá-la. A única solução que voltava sempre a mente era que, se ele tivesse uma namorada, ela talvez desencanasse, mas Kwon era a pessoa mais introspectiva da face da Terra, quem ia namorá-lo?
A resposta me atingiu como uma estrela cadente, até pude sentir o brilho daquele plano. A única pessoa no mundo, além de Olivia, que parecia achar a nerdice de Kwon interessante estava sentada na cadeira ao meu lado, e parecia facilmente manipulável. Eu iria transformar Kwon e Nani no casal sensação de Beauxbatons, ou não me chamo Marcel!
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