Wednesday, January 28, 2009

Depois da explosão da Millie para cima de mim e do AJ, nós procuramos conversar com ela com calma, mas ela nos ignorava, evitando até ficar no mesmo ambiente. O gelo durou uns três dias, e logo depois disso ela passou a responder nossos cumprimentos, e até mesmo esboçava um sorrisinho quando ouvia alguma de nossas brincadeiras.
Pisávamos em cima de ovos, para não irritá-la e parecia estar funcionando, porque aos poucos ela estava voltando a ser a mesma Millie de sempre. Outro dia a vi verificando o trabalho de latim do AJ, não que ele não soubesse a matéria, mas ele tinha mania de esquecer de revisar e verificar acentos, e como o professor Chevalier que achava que Latim era a coisa mais importante do mundo, mais até que o ar que respirávamos, isso era fatal. Por sorte, eu tinha facilidade com línguas estrangeiras, e me saia bem, mas em Botânica eu penava, e com o humor que Millicent andava, eu não tinha a quem recorrer, senão aos livros e algumas vezes ao AJ, mas ele andava diferente... Talvez fosse a preocupação com as esquisitices do irmão, mas havia algo mais, ele andava reflexivo demais.

Era o ultimo tempo de aula de Historia da Magia e a professora após nos dizer a matéria do dia, nos mandou abrir os pergaminhos para anotar suas palavras. AJ estava atrasado, o que não era comum.
- Que cheiro é este?- perguntei quando vi AJ sentando do meu lado, quando entrou na sala escorregando devagar sem ser notado, pois nossa carteira era a última e a porta havia ficado aberta.
- Nada. - ele respondeu sem me olhar nos olhos.
Aproximei-me dele e aspirei atentamente:
- Isso é perfume!- falei um pouco alto e alguns colegas nos olharam e a professora Cordelia Blanchard, fez um hein, hein na frente da sala, para que ficássemos quietos, enquanto a lousa ia se enchendo magicamente com as anotações sobre Barbero Bragge, chefe do Conselho de Bruxos que, em 1269, ofereceu um prêmio de cinquenta galeões ao bruxo que capturasse um Pomorim Dourado durante uma partida de Quadribol.
- Você vai se encontrar com alguém? - perguntei baixo.
- Estou ocupado...
- Você me contaria se tivesse um encontro não é? Eu sei que sim... Vai me conta, quem é a gatinha?- insisti.
- Não estou a fim de receber uma detenção com a Cordélia hoje, deixa para nos falarmos depois. - disse sério e isso foi um balde água fria em mim.
AJ e eu dividíamos segredos e aventuras desde quando entramos na escola e nos tornamos tão amigos que eu o considerava meu irmão, e após alguns dias Millie se juntou a nós, ela era a outra parte do trio de esquisitos que achou um lugar naquela escola, o que estava diferente agora?
Ao final da aula ele saiu da carteira rápido, sem me esperar e se aproximou da Millie que conversava com a Jude, e falou alguma coisa no ouvido dela e ela sorriu como antes para ele e saíram da sala juntos. Ele segurava o material dela, e saíram sem nem olhar para mim, pareciam mais próximos que nunca, pareciam...
Um casal!
Eu deveria ficar feliz se meus melhores amigos formassem um casal não é? Isso seria o correto, mas porque eu não me sentia assim? Porque eu queria que ela voltasse a ser a Millie de sempre, que me ouvia, dava bronca quando necessário, ria das minhas brincadeiras e quando alguma coisa ruim acontecia comigo, ela estava ao meu lado, mesmo que derramasse algumas lágrimas. Eu odiava vê-la chorando ¬¬...
E porque eu sinto vontade de arrebentar a cara do AJ por ver a forma que ele toca nela, ele é muito assanhado, Millie não é uma qualquer, ela é... Especial.
Observei-os andarem na minha frente e pela primeira vez desde que a conheci, eu me dei conta de que nunca parei para ver o que devia ter visto: Millicent ela era uma garota que me atraia e se não fosse a nossa amizade, eu já teria saído com ela. O que me preocupa agora é que meu melhor amigo está saindo com ela.

Esperei por AJ no corredor pouco usado pelos alunos, que levava à Lux, e ele apareceu caminhando tranqüilo, parou quando me viu e sorriu:
- Hey Tristan, me esperando aqui a esta hora? Deve ter bolado alguma coisa...
- Cadê a Millie?- perguntei seco.
- Está no dormitório dela, acabamos de nos despedir e...
- Você a beijou?- perguntei me aproximando dele de forma ofensiva, AJ que me conhecia bem o bastante, se preparou:
- Porque quer saber?
- Responde logo: você a beijou ou não?
- Beijei!
Pow!
Foi o barulho do soco que dei nele, e logo estávamos rolando no chão trocando socos e ficamos nos batendo por um tempo, e embora cansados não desistíamos. Mal sentimos dois pares de mãos nos puxarem e nos afastarem um do outro, eram Derek e Marcel, que lutaram para nos separar.
- Vocês beberam?
- Brigando no corredor, querem ser expulsos?
Eu e AJ ficamos nos encarando ofegantes e ele disse:
- Não sabia que você gostava dela a este ponto.
- Você não sabe do que fala... Você estava se aproveitando dela...
- Não fiz nada de que me envergonhar. Eu quero minha amiga de volta, tão difícil entender? Nós saímos como amigos. - e eu comecei a me acalmar, Marcel e Derek nos olhavam com atenção achando que íamos voar no pescoço um do outro se nos soltassem. Quando viram que estávamos mais calmos nos largaram e ficaram esperando nossas explicações:
- Ela gosta de você? E você gosta dela a sério?- perguntei e Derek zombou:
- Falei que era por causa de mulher, pode ir pagando, Marcel. - e mais ouvi do que vi o som de uma moeda sendo passada de um para o outro.
- Eu me sinto atraído por ela, ela é minha melhor amiga e eu a acho muito bonita, você sabe disso... - rosnei, mas ele me ignorou e continuou:
- Se você ia ficar com todo este ciúme, porque não saiu com ela antes?
- Porque eu não pensei nisso, mas agora é tarde ela está com você eu não vou disputar uma garota com o meu melhor amigo.
- Deixa de ser idiota, aqui não tem disputa nenhuma, ela gosta de outro.
- De quem? Do Dubois? Não vai durar, ele é patético.
- Não, seu lesado, ela já terminou com ele, porque gosta de outra pessoa, ficamos o tempo todo conversando sobre isso. - ele disse e eu passei a mão no rosto para ver se sangrava, ou era apenas o suor da luta, e comentei:
- Seu 'Jab' ta mais forte, quase me rasga o supercílio.
- Não virei o pulso para ter maior impacto, porque não queria estragar sua carinha bonita. - ele zombou e eu ri, parecia que a briga nunca havia acontecido.
- Eu perdi alguma coisa aqui? Vocês estavam se espancando, e agora são amiguinhos? Cadê o sangue? Cadê o drama? - perguntou Derek, nós rimos e eu olhei para AJ e perguntei:
- Este cara que ela gosta...Ele é legal? Tipo, não vai fazer ela sofrer não é?- e AJ depois de olhar para Derek e Marcel, disse sacudindo a cabeça:
- Depende de você.
- Como?- perguntei confuso e Derek perguntou a Marcel:
- É este o cara que é a minha maior concorrência com as gatinhas? Um tanto devagar não é?
- As pancadas afetaram o cérebro dele, vamos dar um desconto. - e AJ depois de rir disse:
- A Millie gosta de você Tristan, e pelo jeito você é o único nesta escola que não sabia disso. E se você gosta dela, devia abrir os olhos e tomar uma atitude, porque ela não vai esperar para sempre. Venha, vamos à cozinha pegar uns bifes para por nestes machucados, porque já estão começando a arroxear. - e Marcel e Derek nos acompanharam e enquanto eu os ouvia conversando e rindo, eu pensava no que acabava de descobrir e senti um certo medo me invadir.
Será que eu seria bom o bastante para fazer Millie feliz sem estragar nossa amizade? E será que ela gostava de mim o suficiente para acreditar que eu levaria isso a sério?

When a boy like me meets a girl like you
Then I must believe wishes come true
I just look at you and I touch your hand
And this ordinary world becomes a wonderland

There are many girls I have met before
But I pass them by because I knew
There would be this magic moment,
One to last a lifetime through
When a boy like me meets a girl like you

N.Autora: A boy like me, a girl like you, Elvis Presley.

Thursday, January 15, 2009

"Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa."

-- Antoine de St. Exupéry


O relógio de parede pendurado em cima da lareira do salão comunal da Lux marcava 2 horas da manha e apenas uma pessoa ainda mantinha a luz do lampião acessa. Marcel apoiava a cabeça com uma das mãos, e a outra se mantinha ocupada escrevendo em um rolo de pergaminho. Ao lado dos livros espalhados pela mesa, uma caneca com café e uma caixa de sapos de chocolate. Seus olhos começaram a fechar lentamente e seu queixo escorregou da mão, fazendo o garoto saltar da cadeira assustado quando sua testa bateu com força na mesa.

- Machucou? – a voz de Olívia o fez olhar pra trás assustado – O que foi?
- Você me assustou – disse com um ar cansado, e voltou a se virar para frente.
- Desculpe, não era a minha intenção – ela riu, se aproximando. Usava um robe de cetim vermelho por cima do pijama – Sai para ir ao banheiro e vi que ainda tinha luz aqui embaixo. O que faz acordado essa hora?
- A velha cachaceira passou dever extra pra mim, por ter dormido na aula – Marcel respondeu fazendo careta e indicou os livros na mesa – Tenho que entregar amanha um resumo sobre a Revolução dos Gigantes de 1473.
- A revolução que ocorreu em Reims? – Olívia puxou um dos livros pra si e abriu, interessada – Foi um grande acontecimento, realmente... Os gigantes dizimaram quase toda a população da cidade. Saíram das montanhas quando anoiteceu e pela hora em que o sol saiu outra vez, já quase não restavam sobreviventes – ela parou de falar quando percebeu que ele a fitava com uma expressão perplexa – O que foi?
- Você gosta de História da Magia – ele dizia como se constatasse que ela tinha uma doença grave – Você sabe tudo sobre essa revolução, não sabe?
- Sim, eu gosto de História – respondeu um pouco ofendida pelo tom que ele usou – Não é tão ruim assim, talvez se experimentasse não dormir em aula, aprendesse a gostar também.
- Duvido muito – ele fez outra careta e ela riu – Ollie, me ajuda, por favor! Se ler mais uma linha desses livros, vou dormir! Mas se você me contar a história dela, vou conseguir escrever esse resumo ainda hoje.
- Não sei, Marcel... – ela devolveu o livro à mesa – Está tarde, e é uma história muito longa. Você já está sonolento, vai acabar dormindo e me deixar irritada.
- Não, eu não vou dormir – ele agarrou as mãos dela, desesperado – Juro pra você que vou prestar atenção! Não posso tirar nota baixa, meu pai come o meu fígado. E a velha cachaceira está só esperando por essa oportunidade! Por favor, Olívia. Se você for minha amiga de verdade, não vai me deixar na mão!
- Chantagem barata, boa jogada, Grimaldi – Olívia riu balançando a cabeça e tornou a pegar o livro – Ok, vamos lá. Mas se você dormir...

Marcel sorriu fazendo uma cruz com os dedos e beijando-os em seguida, e se ajeitou na cadeira para ouvi-la contar a história da Revolução dos Gigantes de 1473. Quando Olívia terminou, meia hora depois, Marcel conseguiu começar seu resumo. Terminou quase 4 horas da manha, sob a supervisão da amiga, e foram dormir sabendo que restavam apenas duas horas para levantarem, mas ele estava satisfeito. Ainda não era dessa vez que Cordelia Blanchard ia derrubá-lo.

*****

As aulas de quinta-feira já haviam terminado e os alunos aguardavam famintos que o jantar fosse servido. Olívia conversava com Danielle na mesa da Lux sobre a aula de botânica que tiveram horas antes quando Marcel apareceu ao seu lado. Tinha um sorriso de satisfação estampado no rosto e abriu a pasta, tirando um pergaminho de dentro e entregando a amiga.

- “O”! – Olívia olhou para o pergaminho e sorriu radiante para o amigo – Marcel, você tirou “O”! Parabéns!
- Graças a você – ele sentou no banco ao seu lado e lhe deu um beijo no rosto – Você é a melhor, Olívia. A cachaceira gostou tanto do resumo que chegou a achar que havia colado, de “tão perfeito que está” – as garotas riram – Palavras dela.
- Uau Ollie, você conseguiu fazer o Marcel entender História da Magia! – Danielle falou chocada – Deve ser mesmo uma professora e tanto!
- A melhor do mundo, Dani – ele falou sorrindo e ela corou – Sem ela, estaria perdido.
- Não seja exagerado, Marcel – Olívia falou sem graça – Tudo que fiz foi contar a história da revolução e impedir que você dormisse.
- Mesmo assim, fez um excelente trabalho – ele parou de rir e encarou-a sério – Estava pensando, se você quiser e não for dar muito trabalho, será que poderia me dar umas aulas? História da Magia e Literatura, meus dois pontos fracos. Sei que são suas matérias favoritas e com o simulado dos NOMs cada vez mais próximo, preciso começar a entender o que é dito em sala.
- Já tentou prestar atenção? – Danielle sugeriu, rindo.
- Já, mas não deu certo – ele sacudiu a cabeça, dramático – É muita gente na sala, qualquer coisa me distrai.
- Tudo bem, não vejo problema nisso – Olívia respondeu sorrindo – Vai ser até bom, assim reviso a matéria enquanto ensino a você. Depois vemos um horário vago pras aulas, nada de estudar de madrugada como ontem.
- É por isso que eu te amo, Olívia – ele beijou outra vez seu rosto e saltou da cadeira, saindo do salão apressado.
- Dar aula ao Marcel... – Danielle comentou vendo o amigo correr para fora do salão – Boa sorte! – e as duas riram, enquanto Olívia balançava a cabeça, se perguntando se aquilo realmente daria certo.

*****

- Marcel! – Olívia fechou o livro com violência e o garoto olhou distraído – Você não está prestando atenção!
- Desculpa, estou sim – ele sorriu e se sentou direito no chão – Estava só copiando os horários do simulado. Estou ficando sem tempo entre as aulas, o quadribol, a rádio e nossos estudos.
- Por que mesmo você está na rádio? – Olívia ajeitou a almofada nas costas para ficar mais confortável – Você não precisa dos créditos.
- Ah, o Andy e a Frida queriam companhia, acabei topando – ele deu de ombros, mexendo no cabelo – Mas está sendo divertido, o japa fica doido quando começamos a rir nos ensaios, morre de medo de termos um acesso de riso no ar.
- Vocês não deviam judiar tanto assim do Kwon – Olívia não riu – Coitado, ele trabalhou muito ano passado pra conseguir arrumar a rádio, se esforça pra manter programas de qualidade e vocês levam tudo na brincadeira. Pode ser piada pra vocês, mas pra ele é coisa séria.
- Nossa, calma, também não é pra tanto – Marcel se espantou com a reação dela – Só nos divertimos na rádio-novela, mas não achamos que o trabalho do Kwon é bobagem. Sei que ele batalhou pela rádio durante todo o último ano.
- Bom, pois não parece. Vocês falam tudo em tom de deboche e ele sente isso, mas não fala.
- Olívia... – Marcel encarou a garota, rindo – Você gosta do japa?

Olívia abaixou a cabeça rápido demais, evitando o olhar de Marcel, e aquele gesto foi a confirmação que ele precisava. O garoto jogou o corpo pra trás rindo alto, caindo por cima dos livros. Olívia puxou a almofada em que estava apoiada e atirou nele, que desviou sem parar de rir.

- Para com isso, não tem graça – Olívia reclamou, incomodada com a risada do amigo.
- Não acredito nisso! – Marcel sentou outra vez, e controlou os risos – Ele sabe? Ah, que pergunta idiota, Marcel. É claro que não! – ele mesmo respondeu – Kwon é muito lesado pra isso.
- Ele não é lesado – ele defendeu o amigo, o que causou mais risadas de Marcel – Eu que nunca demonstrei, não teria como ele saber.
- E por que não? – Marcel parou de rir, embora o sorriso debochado continuasse estampado em seu rosto – Vocês fariam um par perfeito.
- Ah, não sei... Não acho que ele goste de mim do mesmo jeito e prefiro não estragar nossa amizade, caso tentássemos e não desse certo. Nunca voltaria a ser como antes e não quero isso.
- Prefere ficar o resto da vida sem descobrir? Que absurdo!
- Falou o romântico a moda antiga... – ela riu debochada – O que você entende sobre isso? Só vejo você trocando de namorada todo mês. Você chega a decorar o nome delas, ou não dá tempo?
- Esse sarcasmo não vai resolver seu problema. E pro seu governo, eu entendo muito mais do que pensa – Marcel disse convencido – E quanto às garotas, não são namoradas, são casos. Vou me preocupar em lembrar o nome quando encontrar a garota certa.
- Quem não te conhece, pode até acreditar nisso tudo, mas comigo não cola.
- Ah é assim? – Marcel ficou de pé, fingindo estar ofendido – Pois bem, vou ajudá-la a conquistar o Samurai, quer você queira ou não – Olívia abriu a boca pra falar, mas ele não deixou que ela interrompesse – E por hoje podemos encerrar os estudos, tenho uma novela para ajudar a colocar no ar. Sugiro que vá dormir e tenha uma boa noite de sono. Se acordar com olheiras, pode prejudicar o andamento das coisas. Kwon tem suas esquisitices, mas duvido que se sinta atraído por guaxinins.

Marcel sorriu catando a mochila do chão e jogou nas costas, saindo do salão comunal e largando Olívia sozinha, sem reação. Talvez as aulas particulares não tenham sido mesmo uma boa idéia.

Sunday, January 11, 2009

Algumas horas, após o jogo de Quadribol

-... Posso assegurar que Bianca não vai ser a única jogadora num time de homens. Várias meninas já foram atrás dos capitães dos times de suas casas, exigindo a abertura de testes... - dizia Andreas animado.
- Então já temos a matéria de capa da edição extra do jornal certo? - perguntou a professora Molineux, durante nossa reunião de emergência, após o jogo de quadribol entre Lux e a Sapientai. Onde tivemos a surpresa de ter Bianca jogando no time do namorado.
- Sim, já temos, professora, porque isso merece não só a capa, temos planos de fazer entrevistas com o capitão, com os colegas de time, enfim com todos que apóiam o movimento e também com quem é contra. Temos de ouvir os dois lados. Isso vai ser agitado. - disse Millie empolgada.
- Você é feminista? Vai odiar os homens??- perguntou Kalani, e me olharam curiosos.
- Não sou feminista, acho que devemos apoiar uma garota num momento importante da historia, porque isso vai fazer historia...
- Concordo com a Millie. Pensem nas possibilidades...Quem sabe um dia mulheres cheguem à lua. - disse Flora.
- Há, vai sonhando. - disse Leonard e as meninas protestaram.
Ficamos conversando por mais algum tempo, até que demos a reunião do jornal encerrada e cada um iria cuidar de seus artigos. Terminei de guardar minhas coisas, e saí da redação, quando passei por um corredor eu vi Tristan beijando uma garota da Nox. Senti que uma pedra caiu no meu estomago e me senti enjoada.
Conhecia aquela garota, era o que os meninos chamavam de ‘gatinha’, mas para mim não passava de uma oferecida. Mudei meu caminho e tentei chegar ao meu salão comunal, mas acabei me perdendo e indo para mais longe. Esbarrei num garoto, e derrubei meus livros...
- Desculpe, Von Griffin...
- Tudo bem Dubois, foi um acidente não o vi.
- Você esta indo para o seu salão comunal?
- Sim, estou.
- Posso acompanhá-la? Já esta tarde e não é bom, garotas bonitas andarem sozinhas por aí à noite...
- Não estou ‘andando por aí’, saí de uma reunião do jornal, com a professora Molineaux. E você qual sua desculpa? - como ele me olhasse espantado, continuei:
- Onde foi? Com quem? Tem algum álibi? Matou alguém? Isso pode sair no jornal hein? A imprensa é implacável. - disse rapidamente e ele depois de me olhar espantado, percebeu que eu estava brincando e começou a rir.
- Isso é um “sim, aceito sua companhia, François”.- e eu depois de olhar para ele e ver que ele me olhava simpático respondi, e tentando fazer charme:
- Millie aceita sua companhia François.
Ele pegou minhas coisas e enquanto andávamos até as escadas que levavam ao salão comunal da Lux, eu pensava que se Tristan podia matar seu tempo pelos cantos do castelo, sem se importar com as outras pessoas, eu também podia, afinal as mulheres também tinham direito à diversão não?

o-o-o-o-o-o-o

- Hey Tristan, acorda. Parece que passou a noite em claro. - disse AJ, para um Tristan sonolento na mesa do café da manhã. Nossos colegas em volta riram, e eu continuei tomando minha xícara de chá, quando Tristan disse:
- Não passei a noite em claro, passei a noite sonhando...E que noite! - e ele piscou de um jeito tão cafajeste que rangi os dentes por dentro. AJ riu junto com ele, mas de repente me olhou mais sério, pareceu prestar atenção em mim:
- O que você tem Millie? Parece um pouco irritada...
- Millie deve ter levantado com o pé esquerdo da cama, AJ. Sabe como as garotas são, quando alguma coisa dá errado pela manhã, como uma meia desfiada.... - provocou Tristan, e antes que eu respondesse, ouvi alguém atrás de mim.
- Millie, nossa aula de Zoologia vai começar, podemos ir?- e tive a satisfação de ver AJ e Tristan olhando de mim para François sem fala.
- Claro, prometi que faríamos esta aula juntos. - saí do salão conversando animadamente com François, e não olhei para trás, o mais estranho era que eu realmente o achava interessante.

No final do dia, após a aula de Literatura Mágica...

- Desculpe a curiosidade, Millie, mas...Porque você está andando com o François? - perguntou AJ, enquanto Tristan se limitava a me encarar.
- Ora, porque ele é um rapaz gentil e nós descobrimos que temos coisas em comum. Até gostamos das mesmas músicas. Não vejo nada demais nisso. - respondi de forma simples.
- Mas ele é um dos amigos do Procy, até comentei isso com você... Um daqueles que andam sumindo com meu irmão, lembra? - disse AJ, como se estivesse me dando a cola numa prova importante. Olhei para ele de forma cética e perguntei:
- E?- antes que AJ respondesse, Tristan disse autoritário:
- E, que o cara é encrenca. Não sabemos o que o Procy e estes amigos dele fazem nestes sumiços, então até descobrirmos o que está acontecendo, é bom você não se envolver com este tipo de gente, você pode se machucar. - virei-me para ele e perguntei friamente:
- E o que te dá o direito de me ‘sugerir’ isso?- e meu tom parecia um tapa, Tristan recuou um pouco:
- Ora, Millie, somos seus amigos e queremos o seu bem...
- O meu bem...O meu bem???- e minha voz foi ficando mais alta:
- Calma, Millie não precisa gritar. - disse AJ espantado com minha reação. - respirei fundo e depois de olhar para eles como se eles fossem duas baratas cascudas eu disse:
- Escutem bem o que vou dizer, espero que tenham lavado suas orelhas: vocês não são meus amigos. - eles protestaram, mas eu disse:
- Calem a boca! Ainda não terminei: Vocês são dois neuróticos com mania de ‘conspiração’ e tempo de sobra. Quando você sai com alguma destas galinhas da escola Tristan, você não pergunta o que acho, até porque eu não sou boa o bastante para lhe dar opiniões sobre isso não é? Uma ‘encalhada’ não sabe o que falar sobre, ‘noites de sonhos’... - E você AJ, embora seja gentil comigo, nunca na sua vida me convidou a tomar um sorvete, ou elogiou minha roupa, que dirá me convidar para um encontro. Nenhum dos dois nunca viu que eu sou uma garota como outra qualquer, que quero alguém que goste de mim por mim mesma, que me convide para sair, e não porque eu sou ótima ajudando nos deveres ou sou a amiga que se preocupa quando vocês somem. Gosto de ser apreciada e se François sente interesse em mim, nenhum de vocês dois têm nada a ver com isso. Se não gostam da situação não posso fazer nada, sinto por vocês dois, porque isso vai continuar enquanto eu sair com François ou qualquer outro garoto, seja ele amigo do Procy ou não. E se não aceitarem, paciência. Nada dura para sempre mesmo, talvez nem nossa amizade. - sai dali pisando duro e fui para o meu quarto. Quando cheguei lá, comecei a chorar e a me perguntar:
- O que foi que eu fiz???

You love him too much,
you're too blind to see
He's only playing a game
But he's never loved you
He never will
And darling, don't you know he will never change

N.Autora: It Hurts me, Elvis Presley

Tuesday, January 06, 2009

As férias de fim de ano haviam chegado ao fim e, com isso, a rotina de aulas da Academia de Magia Beauxbatons voltara ao normal. E junto com a volta as aulas, o campeonato de quadribol também retornava. A partida da Lux contra a Sapientai, as duas equipes mais fortes do campeonato, se aproximava. E com ela, a carga de treinos. Philipe estava determinado a fazer a Lux esquecer a dolorosa derrota da última final contra a Sapientai e marcara treinos em todos os horários disponíveis durante a semana que antecedeu a partida. Seus companheiros de time, embora esgotados, não se atreviam a reclamar. Sabiam o quanto o garoto era competitivo e que teriam que aprender a conviver com isso quando decidiram nomeá-lo capitão do time.

O sábado havia finalmente chegado e depois do café, toda a escola se encaminhou para o campo de quadribol. Philipe pulou a refeição, estava sem fome, e as 9h o time se juntou a ele no vestiário.

- O estádio já está lotado – Alphonse, um dos batedores, disse ao entrar na tenda – A torcida da Sapientai está provocando a nossa com cartazes.
- Então vamos calar a boca deles em campo – Marcel falou ríspido
- É esse o espírito! – Philipe bateu no ombro do amigo – Levy, você está bem?

O garoto, um dos artilheiros do time, fez sinal positivo com a mão e sorriu, embora sua aparência indicasse o contrario. O instrutor de vôo apareceu no vestiário pedindo que ficassem preparados para o início da partida e os sete jogadores se alinharam. Quando o apito soou, montaram em suas vassouras e entraram em campo formando uma fila vermelha e prata. As arquibancadas vibravam, era a partida mais disputada. O instrutor chamou Philipe e Erik Derkier, capitão da Sapientai, e depois de passar alguns avisos, os dois apertaram as mãos. A goles foi lançada no ar e Henri Renoir, artilheiro da Sapientai, saiu na frente dos outros e a capturou.

- Renoir sai na frente e captura a goles, levando a torcida da Sapientai ao delírio – Andreas Casiraghi narrava a partida no megafone – Ele avança em direção as balizas e vai lançar. O goleiro da Lux se prepara para defender e, OUCH! Renoir é atingido por um balaço lançado por Boniface e Philipe Perrineau tem a posse da goles! – agora era a torcida da Lux que gritava empolgada – Ele avança em direção ao outro lado do campo e olhem como ele voa rápido! O goleiro da Sapientai parece perdido com a velocidade da vassoura de Perrineau! Ele vai lançar e... ELE MARCA! Gol da Lux, 10 x 0!

A torcida se agitou na arquibancada e o lado azul e amarelo vaiou quando Philipe voou perto deles, socando o ar. Edmond Lestel capturou a goles quando a partida recomeçou e em uma jogada rápida com Enrico Beltoise, empatou a partida para a Sapientai. A partida seguiu equilibrada por mais de meia hora e não havia sinal do pomo. Levy Castel voava com a goles na mão para colocar a Lux na frente do placar quando um balaço violento de Alain DeVille o pegou no meio do caminho. A goles escapou de sua mão e Levy perdeu o equilíbrio, caindo da vassoura. O instrutor de vôo conseguiu desacelerar a queda, mas Levy ainda se chocou com o chão e desmaiou. A partida foi interrompida e o garoto deixou o campo flutuando em uma maca.

- E agora? – Kwon atirou a vassoura no chão, irritado, quando o time entrou no vestiário – Como vamos continuar o jogo? Não podemos jogar com um a menos, ele vai dar a vitória a Sapientai.
- De jeito nenhum! – Marcel também estava nervoso – Não vou permitir isso, não suporto mais aquele sorrisinho besta na cara do namorado da Dani e se eles vencerem, vou quebrar a cara dele e daquele idiota do Beltoise!
- Você não vai quebrar a cara de ninguém, sossega, Marcel – Philipe entrou no vestiário por ultimo, descansando a vassoura no banco – Esperem por mim aqui, eu já volto. Já sei o que fazer.

Philipe deixou o vestiário as pressas, subindo as escadas que levavam as arquibancadas onde estava a torcida da Lux. Encontrou quem procurava roendo as unhas de preocupação enquanto procurava sinais dos jogadores da Lux na porta dos vestiários.

- Venha comigo – Philipe agarrou a mão de Bianca e a assustou – Agora.

A garota olhou assustada para o namorado, mas levantou sem questionar e o seguiu escada abaixo, até entrarem no vestiário da Lux. Os outros se espantaram ao ver a garota entrar, mas Marcel logo sorriu. Havia entendido.

- Speaker, dê um uniforme a Bia, ela vai jogar no lugar do Levy – Philipe ordenou e Bianca arregalou os olhos
- Como é? – a garota se espantou – Não posso jogar, Phil! É contra as regras!
- Não me importo com as regras – respondeu espantando a todos – Se você não jogar, vamos perder a partida. Não temos nada a perder, então vista o uniforme e pegue a vassoura que ganhou do Johnny, hoje você faz parte do time.

Bianca ainda estava surpresa, mas não pode evitar abrir um enorme sorriso ao pegar o uniforme vermelho e prata das mãos de Thomas Speaker. Os garotos saíram do vestiário para que ela pudesse se trocar e em menos de cinco minutos, Bianca saiu usando as vestes do time. Seus olhos brilhavam ao se ver usando as vestes que seu pai e seus dois irmãos mais velhos usaram, especialmente Johnny, seu maior ídolo. Kwon sorriu para a amiga e lhe entregou a vassoura nova.

- Vamos voltar ao campo! – Philipe beijou a namorada sorrindo e montou em sua vassoura, liderando a fila.

A torcida da Lux toda se levantou gritando quando viu o time voltar a campo, sob as vaias da torcida adversária. Quando reconheceram Bianca entre os jogadores, muitos começaram a sussurrar. O instrutor de vôo olhou espantado, mas permitiu que ela jogasse.

- E a goles é novamente lançada e Bianca Delacroix sai na frente! – Andreas narrava empolgado – É uma novidade no time da Lux, uma garoto jogando. E não é qualquer garota. Bianca é irmã do grande astro do Quiberon Quafflepunchers, Johnny Latour! E parece que o quadribol está no sangue, pois ela avança com tudo em direção as balizas da Sapientai e... ELA MARCA! GOL DA LUX! Que braço, senhoras e senhores. Ela lançou quase do meio do campo!

Bianca socou o ar em comemoração e suas amigas da arquibancada vibraram com a mesma empolgação. Surpreendidos pela força que a garota tinha, os jogadores da Sapientai se desconcentraram e a Lux se aproveitou disso para reagir. Philipe e Kwon voavam em sintonia, deixando todos os passes para serem finalizados por Bianca, que por sua vez, não desperdiçou nenhum sequer e marcou 14 gols seguidos. A Lux já liderava por uma boa vantagem quando o pomo finalmente apareceu. T. J. Speaker e Erik Derkier voavam emparelhados, mas o apanhador da Lux tinha a vantagem de ser mais alto e alcançou o pomo primeiro. Ele desceu ao encontro dos companheiros de time com a bolinha dourada presa entre os dedos e a torcida pulava enlouquecida.

- O pomo do jogo é seu – Speaker estendeu o pomo de ouro a Bianca, que o segurou radiante.

Philipe observava a namorada sorrindo ao seu lado, segurando o pomo, e teve certeza que fez a escolha certa. Tinha certeza que enfrentaria problemas por tê-la escalado para o jogo, mas estava determinado a lutar ate o fim para mantê-la no time. E com o gesto de Thomas, agora sabia que teria o apoio do resto do time nessa luta.

Saturday, January 03, 2009

A Profecia

Há séculos lutam.

Há séculos caçam.

Há séculos destroem as trevas, sendo a luz na escuridão.

Avatares de seu Antepassado, alguns mais poderosos que os demais, os Chroni.

Dos Chroni surgirá o poder. Dos Chroni surgirá o exército.

De um deles, surgirão seres poderosos, nem vivos, nem mortos, mas poderosos.

Usarão as trevas como arma, usando-a para a guerra.

Mais poderosos que humanos, mais temidos que vampiros.

De um deles, surgirá a luz plena e pura, terna e destruidora.

Como o Sol, queimará os malignos, deixando apenas suas cinzas.

E o mal sucumbirá ao seu poder.

E o mundo não será o mesmo após sua chegada.

Pois eles são os Chronos.

- Mestre, conseguimos a profecia que o senhor ordenou.

- A Profecia dos Chronos?

- Sim, milorde. O vampiro Hellion a conseguiu, imaginamos que a profecia diz respeito a qualquer vampiro e também às trevas em geral.

- Ah, Hellion, um aliado muito útil. Finalmente posso ver o conteúdo dessa profecia. Quem mais a conhece?

- A líder da família Chronos, Rigel, conhece a profecia, mas apenas ela.

- Aquela mulher, ousa tentar lutar contra mim, o Lorde das Trevas! Ela sucumbirá ao meu poder e pagará pelos meus servos que prendeu e matou.

- Ela já está dando início a criação de uma poderosa instituição antitrevas, milorde. Ela fala contra as trevas, dizendo que devem eliminar os Comensais. E alguns já a seguem, os Ministérios da Inglaterra, França, Alemanha, e em breve, de toda a Europa, dão a ela seu apoio.

- Ela deverá ser silenciada, o mais rápido possível! Não permitirei que uma mulher destrua o meu poder, coloque em risco o mundo que pretendo criar.Não. Não só ela, todos os Chronos devem ser eliminados. Mas não devemos atacar diretamente, isso faria o mundo bruxo se virar contra nós. Precisamos de alguém que pague por nós. Chame os aspirantes a Comensais, já me decidi pelo que fazer.

O Lorde das Trevas riu, já preparando todos os detalhes de sua ação. Seja lá qual for a arma que surgiria dos Chronos, ele impediria. Os Chronos não iriam sobreviver por mais um ano sequer. Era chegado o fim deles.

Eu acordei no meio da noite, suando frio.

Eu não tenho dons de premonição, mas tenho certeza que sonhei com algo, era um sonho perigoso, maligno e destrutivo e no momento em que acordei, um calafrio tomou o meu corpo, e meus instintos me diziam: cuidado! Porém por mais que tentasse, não conseguia me lembrar do sonho, só sabia que devia ter medo, pois algo muito ruim estava para acontecer. Era algo inexplicável, como quando meus cães de caça, que antes do relâmpago, levantam a cabeça, reconhecendo o perigo à frente. Era assim que eu me sentia, o perigo estava a caminho.

- O que foi, AJ? Ta tudo bem? – Tristan falou sonolento, acordando com um susto que eu levei. Mesmo sonolento, ele sacou a varinha e olhou ao redor, preocupado.

- Foi um sonho. Estou com um péssimo pressentimento. – Eu falei enquanto apertava meus olhos, tentando lembrar.

- Como era o sonho?

- Ai que está, eu não consigo lembrar...Mas era algo ruim.

- Devia ser apenas um pesadelo, vamos voltar a dormir?

Ele já deitava novamente em sua cama, esquecendo do susto que eu levei. Dormíamos no meu quarto, pois era véspera de Natal e eu convidei o Tristan para passar o Natal conosco, e ele ficou muito feliz em aceitar, podendo fugir do orfanato e finalmente visitar a casa dos Chronos. Meus pais adoraram a idéia, pois também tinham vontade de conhecer o famoso TnT, de tanto que eu falava de nossa amizade, e principalmente de tanto que eles já receberam corujas do diretor falando de nossas detenções. Isa também gostou do convite e passava o dia conosco conversando ou me ajudando a ensinar a Tristan as artes da caça, e ele se dava muito bem, principalmente com a falcoaria. O único que não gostava do convite era o Procyon, mas ele não gostava de nada.

Na verdade, o Procyon tem andado estranho. Ele tem evitado falar conosco mais do que o necessário e evita a qualquer custo o olhar de meus pais. Ele está estranho assim desde o dia em que, em Beuaxbatons ainda, eu o encontrei conversando aos sussurros com outro aluno da Nox nos jardins. Eles pareciam nervosos e excitados ao mesmo tempo, mas com uma excitação mórbida, que fez meus instintos ficarem prontos para o ataque. Assim que eles me viram, eles mudaram de assunto e saíram dos jardins, mas pude ver que ainda sussurravam algo. Desde então eu o via andando com cada vez mais garotos e algumas garotas estranhas, de diversas casas, sempre sussurrando, e passaram a ficar meio metidos, como se soubessem de algo que nós não, como se fossem melhores ou superiores.

Durante o feriado de Natal, ele saia todos os dias e passava o dia todo fora, voltando apenas no final da tarde, parecendo cansado, apenas para jantar rapidamente e se trancar em seu quarto. Eu falei sobre isso com meus pais e com minha irmã, mas acharam que eu devia estar imaginando coisas, e que era bom o Procyon ter achado algo que gostasse de fazer. Tristan era o único que concordava comigo, e também achava que Procyon estava mais estranho que o normal e disse que me ajudaria a descobrir o que era.

Em um desses dias, eu e TnT decidimos segui-lo, e fomos até Londres, porém o perdemos de vista no Beco Diagonal, mas eu podia jurar que ele havia tomado a direção da Travessa do Tranco. Infelizmente, Millie não concordava comigo e dizia que eu e TnT já estávamos indo longe demais com a implicância com meu irmão mais velho. Eu adormeci pensando nesses fatos todos e acabei sonhando com Millie, porém não me lembro exatamente, pois logo em seguida o sonho mudou para um sonho de nós três juntos andando pelos jardins de Beauxbatons.

Na manhã de Natal, acordei animado, mais ainda sentia um frio no peito pelo pesadelo da noite anterior, mas esse frio logo desapareceu quando vi os presentes ao pé de minha cama, e acordei Tristan alegre, mostrando que ele também tinha uma pilha enorme. Ele parecia não acreditar e peguei o primeiro pacote que eu encontrei e taquei para ele, ele abriu um largo sorriso bobo, pois era um presente de minha irmã, Isa. O TnT acha minha irmã linda, mas não sei se por respeito a mim ou porque ela é mais velha ele evita tocar no assunto. Ele abriu o presente animado e ganhou uma lanterna mágica, encantada para emitir um raio de luz que era invisível para todos que não fosse o dono da lanterna e quem ele permitisse. Eu abri o presente de Isa também, e ganhei uma lanterna idêntica, e nós dois rimos com o recado dela: “Agora vocês podem andar pela escola à noite sem chamar a atenção”.

- Abra esse agora! – Eu falei animado, entregando o meu presente.

- AJ! Você não precisava!

- Deixa de bobeira, TnT, abre logo! – Ele abriu o presente animado e olhou surpreso para uma luva de falcoaria, que incluía uma venda para falcões.

- Uau! Isso é lindo cara! Vou usar na escola, imagina a cara das pessoas quando me verem com uma luva dessas! E vou amarrar essa venda em minha mochila.

- Acho que não vai precisar. – Eu sorri e ele ficou sem entender. Peguei então o maior embrulho e ele notou que haviam diversos furos.

- O que tem ai dentro?

- É dos meus pais, abra!

Ele retirou a fita vermelha que prendia a caixa e a caixa caiu no chão, aberta. E então ele realmente pulou de surpresa. Porque diante dele um falcão o encarava, os olhos poderosos e brilhantes fixos nos olhos de TnT. Ele ficou completamente sem fala, apenas encarando o pássaro, até este piar alto e ele saltar.

- Eu não posso acreditar! E não posso aceitar isso, Alderan!!

- Foi idéia do meu pai, ele viu que você se interessava pela falcoaria, então meus pais decidiram lhe dar um dos falcões da ninhada de Cronos. É uma fêmea de falcão, e agora ela é sua!!

- Você só pode ta brincando comigo não pode?! – Ele falou com a emoção nos olhos e tentou esconde-la.

- Não, não estou. E se o problema é onde deixa-la, ela pode ficar aqui e sempre que quiser visitá-la, esteja à vontade! Vamos pegue-a!

Ele me abraçou com força e tremendo de emoção esticou a mão com a luva que acabara de ganhar. O falcão piou para ele, porém dessa vez de forma mais carinhosa e subiu em sua mão, olhando-o com curiosidade.

- Viu? Falcões são bichos inteligentes, eles reconhecem o dono deles, e são fiéis. Ela já vê você como parceiro e estará sempre ao seu lado. Ela precisa de um nome!

- AJ, vocês realizaram um sonho meu sabia? Ela vai se chamar Athena.

- Belo nome! Vamos, onde está meu presente? – Falei rindo e ele também riu, fazendo Athena se assustar um pouco, mas logo ela se acostumou a sua risada. Ele pegou um pacote no pé de minha cama e me estendeu.

- Perto disso, o meu não é nada. – Ele falou enquanto eu abria o pacote, e foi minha vez de ficar surpreso, porque dentro havia um amuleto em forma de lobo feito de prata e uma lata que quando vi o que era comecei a rir. – Eu achei esse pingente dia desses em uma loja de Paris e achei a sua cara. E a lata é tintura mágica quando quiser pintar esse cabelo esquisito seu. É só uma lembrança. – Ele falou rindo enquanto bagunçava meu cabelo.

- Eu adorei o presente, Tristan, adorei mesmo. E pode deixar que um dia eu uso isso pra pintar o cabelo! Que cor é?

- Rosa! Olha é um recado da Millie, ela diz que vem nos visitar na hora do almoço, ela aceitou seu convite!! – Ele falou pegando uma carta da Millie que estava no topo de seus presentes.

- Que ótimo! Então vamos estar os três reunidos no Natal!

- AJ, me conta uma coisa? Você é gamado na Millie não é?

- Ei TnT! Dá pra parar com a bobeira? Não, não sou não! – Respondi, ficando vermelho.

- Ta bem, vou fingir que acredito.

- Vamos descer para o café, e temos que avisar que teremos visitas. – Desconversei já indo para o primeiro andar, sendo seguido por um risonho Tristan e uma silenciosa Athena.

O café da manhã foi ótimo, e até Procyon parecia de bom humor, conversando mais amigavelmente. Tristan agradeceu o presente de todos e disse que ficou emocionado com o presente de meus pais, que sorriram e disseram que ele merecia. Quando falei para mamãe que teríamos visitas, ela sorriu e ficou alegre.

- Ah, que ótimo! Então o almoço será bem cheio essa tarde! – Toda a família almoçava junto no dia do Natal e conseguíamos chegar facilmente a cem pessoas.

- Sim, a Millie Von Griffin, vai vir nos visitar e passar o dia conosco, ela disse que passará a tarde aqui. Imagino que sua irmã e seu genro também venham.

- E vamos ter outros convidados. Os Oceanborn virão nos visitar e almoçarão conosco também. – Os Oceanborn eram nossos vizinhos, e sua filha mais velha, Alice Oceanborn, estudava comigo em Beauxbatons e tinha a mesma idade que eu. Raramente conversávamos, pois ela era da Sapientai, e quase não nos víamos.

- Uau, realmente o almoço vai ser lotado... – Tristan comentou. – Sra. Chronos, por acaso é outra pretendente para o Alderan? – Ele perguntou com um sorriso maroto.

- Tristan eu vou fazer você engolir essa luva!

- Bem, quem sabe, não? – Papai respondeu rindo, me dirigindo um olhar alegre, deixando-me extremamente vermelho.

Passamos o resto da manhã preparando a imensa mesa para o almoço, e como toda a família estava reunida, era uma barulheira só e todos nos divertíamos juntos. Tristan adorava minha família, e algumas vezes eu sentia como se ele fosse mais meu irmão que o Procyon. No final da manhã, os Oceanborn chegaram e sua filha Alice estava de cabelo curto e tenho que admitir que estava bonita. Ela nos cumprimentou alegre e pisei no pé do Tristan quando ele cutucou meu braço. Logo em seguida Millie chegou acompanhada de seu genro, que foi saudado com um grande abraço de meu pai. Eu e Tristan corremos para nossa amiga e consegui ser o primeiro a abraça-la, tirando-a do chão, e derrubando os presentes. Ela riu e brigou comigo, mas retribuiu o abraço e depois abraçou com força Tristan. Ela nos deu nossos presentes e depois foi cumprimentar minha mãe, dizendo estar feliz em conhece-la. Enquanto elas conversavam, mamãe trocou um olhar com Tristan e os dois sorriram, e novamente eu pisei em seu pé.

Eu, Alice, Millie e Tristan nos sentamos próximos na mesa e conversávamos animadamente sobre a escola. Depois de algum tempo, eu lembrei que queria mostrar para Millie minha Cronos e Tristan ficou todo animado em mostrar Athena e nós quatro nos levantamos, indo para os fundos da casa para visitar o criadouro de animais. Eu e Alice ficamos um pouco atrás, propositalmente, e conversei muito com ela, e descobri que ela era uma boa pessoa, além de inteligente, forte e bonita. Ela chamou minha atenção. Quando chegamos nos criadouros, Tristan tentava fazer uma hesitante Millie calçar as luvas de falcoaria e pegar Athena. Eu me animei e emprestei minhas luvas a ela, ajudando-a a colocar e peguei Cronos sem luvas, colocando-a na mão de Millie. Depois peguei Athena também sem luvas e coloquei nas mãos de Alice. As duas ficaram maravilhadas com as aves e depois ficamos o resto da tarde brincando com os nossos cães de caça, que adoraram as novas presenças, pedindo e ganhando carinho. Esse dia ficaria marcado em minha memória, pois era um de meus mais felizes...E algo me dizia para aproveitar...Mas um sorriso de Millie e o som da voz de Alice me fizeram esquecer esses pensamentos obscuros.