- Algum problema, Bacellar? – Philipe encarou o colega curioso.
- Sim, Perrineau! – Alphonse respondeu irritado, lançando um olhar rápido a mesa da Sapientai – O diretor vai anular a partida contra a Sapientai, vão tirar os nossos pontos e passar pra eles!
- O QUE? – Marcel ficou de pé na mesa, irritado – Que história é essa? Por que isso agora? A partida foi em Janeiro!
- Mas só agora eles caíram pra terceiro na tabela – Philipe comentou balançando a cabeça – Isso tudo por que escalei Bianca?
- Parece que sim. O capitão deles foi reclamar que a partida estava fora das regras da escola.
- Eu vou arrebentar a cara daquele idiota do Derkier! – Marcel ameaçou ir até a mesa da Sapientai, mas Kwon e Andreas o seguraram.
- Você não vai fazer nada, Marcel – Philipe também levantou e falou em tom de aviso – Vou conversar com o diretor, tentar encontrar outra forma de punição, mas não vamos partir pra ignorância.
- Já estou arrependida de ter aceitado jogar – Bianca disse desanimada e Philipe segurou seu queixo, forçando-a a olhar para ele.
- Não se culpe, a decisão foi minha e não me arrependo, faria outra vez se tivesse a chance.
- Esse seu namoradinho, hein Dani? – Marcel cutucou a amiga, encarando a mesa da Sapientai de lado.
- Não meta o Henri nessa confusão, ele não é o capitão do time e não foi dele a decisão de reivindicar os pontos! – Danielle defendeu o namorado, olhando feio para Marcel.
- Mas aposto que está adorando isso tudo e apoiando o capitão de meia tigela.
- Parem os dois – Philipe olhou severo para os amigos – Nossa situação já não está boa, vai piorar se começar a ter briga entre nós.
- Meu irmão está certo, não precisamos começar a brigar, não é assim que vamos resolver as coisas – Kwon apoiou Philipe e olhou com reprovação para Marcel e Danielle.
- Desculpa Dani – Marcel desfez a cara de irritação e sorriu para a amiga – Sei que a culpa não é do Renoir. Exagerei um pouco – Danielle sorriu de volta e ele pegou a mochila na mesa – Mas isso não vai ficar assim, não vou deixar que a casa perca os pontos.
- O que vai fazer, Marcel? – Philipe segurou o braço do amigo, o impedindo de sair – Nada de brigar.
- Não vou brigar, relaxa – Marcel sorriu maroto – Confiem em mim.
Philipe soltou seu braço e deixou que o amigo saísse, mas não o perdeu de vista até que tivesse certeza que não iria até a mesa da Sapientai. Se bem conheciam Marcel, sabiam que ele ia aprontar alguma coisa muito em breve.
*****
O dia de aulas já estava quase no fim e Marcel ainda não dava pistas do que estava aprontando para evitar que a Lux perdesse os pontos da partida contra a Sapientai. Cada movimento seu era observado com atenção pelos amigos e todos ficaram apreensivos quando ele se levantou de repente no meio da aula de poções, mas relaxaram ao perceberem que ele só pretendia usar o banheiro. Já estavam no 5º tempo de aula, História da Magia Francesa, e Anabela convencera a todos que Marcel já havia esperado demais, se pretendesse fazer qualquer coisa ainda naquele dia já teria feito. Convencidos de que Marcel não faria nada, se dividiram em prestar atenção a aula, dormir ou simplesmente conversar em voz baixa. Mas 30 segundos de distração era tudo que Marcel precisava.
O garoto se levantou e, rápido como um gato, subiu na mesa, sentando de pernas cruzadas por cima do pergaminho que deveria estar sendo usado para copiar a matéria. Os olhares de toda a turma se voltaram para ele e se dividiam entre observá-lo sentado em cima da mesa e observar a professora Cordelia de costas para a turma, alheia a novidade. Mas as conversas paralelas e as risadas que aos poucos se formavam logo chamaram sua atenção. Ela se virou irritada com o falatório e seus olhos pararam em Marcel. Ele sustentou o olhar da professora, sem se abalar.
- Monsieur Grimaldi, o que pensa que está fazendo? – perguntou em tom de irritação – Desça já dessa mesa. Defossez não ensinou que lugar de sentar é na cadeira?
- Estou protestando contra o time da Sapientai – Marcel respondeu tranqüilo.
- Perdão? – Cordelia cruzou os braços, impaciente.
- Querem anular uma partida porque uma garota jogou no nosso time. Não aceitam terem perdido para uma mulher e querem anular o jogo.
- E o que a minha aula tem a ver com isso?
- Nada, mas achei o momento propicio, já que ninguém estava mesmo prestando atenção – a turma inteira riu e Cordelia bufou.
- Saia daí agora ou irei chamar o diretor! – ameaçou
- Faça esse favor, sim? Quero que ele venha até aqui!
- Não reivindicamos os pontos por termos perdido para uma garota! – Erik Derkier, capitão da Sapientai, se levantou ofendido – As regras são claras, garotas não podem jogar.
- Então por que demoraram 2 meses para reclamar isso? – Alphonse também ficou de pé e subiu na mesa – Também vou protestar.
- Acho que as garotas deveriam ter o mesmo direito dos garotos. Se elas quiserem jogar no time das casas, deviam ter permissão – Anabela também se levantou e ficou de pé na mesa – Chega dessa ditadura machista!
- Direitos iguais sim – Bianca também se sentou em cima da mesa – Quero poder jogar no time da minha casa, tenho capacidade para jogar de igual pra igual com os garotos, acho que já pude provar isso.
- Não tem nada a ver isso que estão falando, só agimos de acordo com as regras e nela garotas não podem jogar! – Derkier tentou se defender mais uma vez, mas ouviu um coro de vaias da maioria das garotas.
- Vamos protestar pelo direito das garotas jogarem no time das casas! – Andreas ficou de pé com o braço erguido e se juntou aos amigos, sentando-se à mesa.
Philipe e Kwon se olharam rindo e também se levantaram, seguidos por Olívia e Danielle. Um a um, todos os alunos da sala foram levantando e ocupando suas mesas, até restarem apenas os jogadores do time da Lux. Danielle lançou um olhar de decepção para Henri que surtiu efeito, pois o garoto foi o primeiro do time adversário e se levantar e também sentar a mesa. Ao ver que seus amigos não fariam o mesmo, deu um soco de leve nos braços de Edmond e Enrico, que mesmo contrariados, também ficaram de pé. Cordelia saiu da sala irritada e voltou minutos depois arrastando o diretor pelo braço, apontando Marcel como o agitador do protesto.
- O que está acontecendo aqui? – o diretor perguntou mantendo a calma e todos começaram a falar ao mesmo tempo – Silencio! Monsieur Grimaldi, queira explicar-se, por obsequio.
- Queremos que garotas possam jogar no time das casas, elas têm o mesmo direito que nós temos – Marcel explicou em um tom de voz tranqüilo.
- As regras da escola são essas desde sua fundação – o diretor replicou – Por que deveria mudar agora?
- Porque os tempos estão mudando. Agora as garotas de Beauxbatons querem jogar e são impedidas por regras bestas.
- As regras não são bestas, foram feitas para manter a ordem.
- Bom, está claro que essa regra não está mantendo a ordem – Marcel disse sarcástico e alguns alunos sufocaram risadas.
- Monsieur Grimaldi, não pense que por ser filho do Rei de Mônaco será poupado de suas gracinhas. Posso lhe dar uma detenção pesada por esse comentário debochado.
- Jamais esperei imparcialidade por conta da minha posição na sociedade. Estou aqui, sentado em cima da mesa, lutando pela igualdade de direitos como um aluno qualquer. Que é o que sou nessa escola, um aluno como outro qualquer.
- Com licença, diretor. Posso falar? – Bianca levantou a mão e o diretor assentiu com a cabeça – Sou fascinada por quadribol, minha família inteira é envolvida com o esporte, e só queria o direito de poder mostrar que posso jogar pelo time da minha casa. Philipe me deu essa chance e provei que garotas podem sim jogar no meio de garotos e se sair muito bem. Não é justo que culpe o time por isso e tirem os pontos conquistados na partida.
- Pontos conquistados por mérito do time, diga-se de passagem – Marcel completou – Bianca jogou melhor que todos nós, deveria ter permissão de jogar. Derkier decidiu reclamar dos pontos 2 meses depois, porque seu time caiu para terceiro lugar na tabela.
- Isso não é verdade! – Derkier ficou de pé, irritado.
- Se não fosse verdade, teria reclamado logo que a partida terminou! – Philipe se irritou também e o acusou – Aceite que perderam para uma garota. Aceite que é contra times mistos por saberem que vão perder sempre – todas as meninas da sala aplaudiram Philipe e deram inicio a uma discussão cruzada com Derkier.
- Já chega! – o diretor falou com a voz grave e todos se calaram – Os pontos da Lux serão mantidos, se alegam injustiça na anulação da partida – os alunos comemoraram e ele pediu silencio outra vez – Quanto a garotas jogarem nos times, mantenho minha posição de não mudar as regras da escola.
- Mas isso é ridículo! – Marcel exclamou exaltado – Voltamos a 1920!
- Monsieur Grimaldi, é meu ultimo aviso, pare imediatamente! – ele olhou severo para Marcel, que se calou, mas manteve a expressão desafiadora – As regras não podem ser mudadas sem um consenso geral dos antigos diretores da escola e do Ministério da Magia. Não cabe somente a mim mudar uma regra imposta desde a fundação de Beauxbatons.
- Então convoque uma reunião com eles! – Marcel tornou a falar, inconformado.
- E não cabe ao senhor me dizer o que fazer, mas garanto que qualquer decisão tomada será comunicada a vocês. Por enquanto, as regras são mantidas. E esse protesto termina aqui. Quem permanecer em cima da mesa pelos próximos 30 segundos terá 20 pontos descontados. Assunto encerrado!
O diretor saiu da sala e rapidamente os alunos desceram das mesas, até mesmo Marcel. A aula já estava encerrada e Cordelia liberou a turma, saindo da sala impaciente com toda aquela confusão.
- Muito bom, Marcel! – Philipe deu três tapas em suas costas – Não perdemos os pontos, você conseguiu.
- É, mas ainda não consegui a permissão para que Bianca faça parte do time.
- Mas chegamos perto – Bianca animou o amigo – Ele deu a entender que vai haver uma reunião com o conselho. Quem sabe não nos liberam?
- Não temos nada a perder em ter esperança nisso, então vamos ficar confiantes, ok? – Anabela falou também animada – E se nada se resolver, podemos organizar outro protesto. Quem sabe até com a escola toda? Aposto que muitas garotas querem esse direito também.
- É, quem sabe... – Marcel falou pensativo, sorrindo mais animado.
O diretor agora sabia que muitos alunos eram contra a proibição de que garotas jogassem no time das casas e cabia a ele mudar isso. E aos interessados, só restava aguardar uma resposta.