Friday, August 28, 2009

“Eu não podia chorar na frente dos meus irmãos. Quando eles choravam, era eu que os consolava até que parassem. Mas e quando eu chorava também? Quem ia me consolar?”

A madrugada passou sem noticias de meu avô. Henri e a Sra. Perrineau ficaram comigo o tempo inteiro, mas depois que amanheceu ambos tinham coisas a resolver em casa e precisaram sair. Henri esperou até que o Sr. Delacroix trouxesse meus irmãos de La Roche e desaparatou, dizendo que voltaria logo. Frederic e Thomas voltaram eufóricos de La Roche, falando sem parar sobre tudo que viram e fizeram na companhia de mais de 10 garotos de 11 anos. Achei ótimo que estivessem com as cabeças a mil, assim não perceberam a preocupação que transparecia pelo meu rosto.

Mandei que os dois fossem tomar banho e desfazer as mochilas e eles sumiram entre quarto e banheiro por mais de uma hora. Tentei me tranqüilizar durante esse tempo, pensar que vovô tinha apenas perdido a hora e adormecido na casa de algum amigo, era mais reconfortante pensar assim. Thomas apareceu na cozinha depois de estar limpo, procurando algo para comer. Fiz o almoço dos dois e quando coloquei a mesa e chamei Frederic para comer, eles perceberam a ausência do vovô. Menti dizendo que ele havia saído e eles não voltaram a perguntar, mas quando o dia começava a terminar e o céu escurecia aos poucos, as perguntas voltaram.

Insisti em dizer que ele havia saído e consegui distraí-los com as listas de materiais que haviam chegado naquela tarde, de Beauxbatons. Eles estavam eufóricos por finalmente começarem os estudos de magia e se ocuparam em imaginar que tipos de feitiços aprenderiam no 1º ano. Havia conseguido me distrair também com as perguntas deles sobre Beauxbatons, quando o telefone tocou. A tranqüilidade evaporou no mesmo instante e num único salto agarrei o aparelho.

- Alô? – falei com urgência.
- Danielle? – reconheci a voz do Sr. Delacroix na linha.
- Teve noticias do meu avô? - perguntei ansiosa, esquecendo que meus irmãos não sabiam de nada.
- Danille, você vai ter ser forte – sua voz falhou rapidamente e senti meu estomago afundar – Charles faleceu.

Foi um baque. Meu coração falhou e senti as pernas tremerem, mas meus dois irmãos estavam bem na minha frente e já sabiam que algo errado tinha acontecido. Estavam ansiosos por noticias, aguardando minha reação. Se eu chorasse e desabasse ali, eles desabariam também.

- Ok, obrigada tio – foi tudo que consegui dizer e desliguei o telefone.
- O que houve, mana? Cadê o vovô? – Thomas perguntou ansioso, e sua expressão dizia “O que a gente faz? Se você chorar, a gente chora”
- Esta tudo bem, ok? Daqui a pouco vamos ter noticias dele. Eu só vou ali na casa do Kalani porque esqueci uma coisa la, mas já volto. Está tudo bem.

Deixei os dois em casa e sai depressa, não queria saber se tinham ou não acreditado em mim. Minha mão tremia, mas não ia desabar na frente deles. Atravessei a rua sem prestar atenção nos carros que passavam e desci os sete quarteirões que separavam minha casa da casa da família Perrineau e bati na porta deles. Foi um dos empregados deles que atendeu.

- Oi, boa noite – percebi ao falar que minha voz já estava falhando – A Sra. Perrineau está? É que meu avô morreu.
- O que?

A empregada dela se assustou e, ao dizer em voz alta, meu chão sumiu. Cai sentada chorando compulsivamente e ela me ergueu, me levando para dentro de casa. A Sra. Perrineau ouvira o que eu dissera e já vinha correndo ao meu encontro, me abraçando de um modo maternal. Afundei meu rosto em seu ombro e não consegui mais controlar as lágrimas.

ººº

Voltei para casa já de manhã, com Henri me ajudando a andar com medo de que desabasse. A Sra. Perrineau havia ligado para o Sr. Delacroix e ele havia ido pegar meus irmãos e os levar para passar a noite em sua casa. Ele se oferecera para contar a eles que vovô tinha falecido, mas agradeci e disse que podia fazer isso eu mesma, depois que me acalmasse.

A noite havia sido longa. Depois de conseguir avisar a Henri, ele foi me encontrar na casa dos Perrineau e descobri que vovô havia sido encontrado em um hospital fora de Mônaco. Ninguém sabia o que ele estava fazendo fora da cidade, mas os médicos disseram que ele deu entrada no hospital amparado por um desconhecido que o encontrou passando mal na rua. Depois que deu entrada no hospital, começou a sentir fortes dores no peito e suar frio, então sofreu um infarto-fulminante, ainda na recepção. Henri e a Sra. Perrineau me acompanharam até o hospital para que eu pudesse reconhecer o corpo.

Sai do hospital passando mal ao ver meu avô deitado em uma maca, pálido, coberto por um lençol. Depois disso ninguém me deixou ir para casa no meio da madrugada e fiquei na casa dos Perrineau até estar completamente calma. Cheguei à minha casa com Henri quase 8 horas da manhã e foi extremamente doloroso pisar ali outra vez, sabendo que vovô jamais estaria presente outra vez. Henri esperou até que eu tomasse banho e parecesse mais bem disposta, para me acompanhar até a casa dos Delacroix. Já passava das 9hs quando chegamos. Bianca ainda estava em Saint-Tropez com Kalani e provavelmente não faziam idéia do que estava acontecendo. Fui recebida por sua mãe, que me olhava com tanto pesar que só fez com que doesse mais.

Meus irmãos já estavam acordados quando cheguei e soube que não haviam dormido direito a noite toda, preocupados comigo. Agradeci outra vez por terem ficado com eles aquela noite e Henri me ajudou a levá-los embora por aparatação. Ele ainda insistiu em estar comigo quando conversasse com os meninos, mas pedi para que ficasse sozinha. Já ia ser difícil de qualquer forma, queria dar a eles um pouco de privacidade.

- Vamos lá, Dani, o que está acontecendo? – Frederic falou de braços cruzados assim que Henri desaparatou – Estamos esperando.
- Onde está o vovô, mana? – Thomas foi mais delicado ao falar, mas também estava decidido a obter uma resposta.

Encarei os dois sentados lado a lado no sofá, os braços cruzados e expressões sérias me encarando. Frederic estava impaciente e Thomas aparentava estar receoso do que eu pudesse lhe dizer. Respirei fundo e me agachei junto a eles, apoiando as mãos em um joelho de cada.

- Não há um modo mais fácil de dizer isso – respirei fundo outra vez e os encarei – O vovô morreu.

Eles trocaram um olhar incrédulo e depois voltaram a me encarar, sem dizer nada. Frederic assumiu uma expressão dura e Thomas procurou em meu olhar por uma confirmação de que ouvira isso mesmo. Quando teve a confirmação, se atirou em meus braços caindo no choro. Dessa vez não consegui segurar as lágrimas e chorei abraçada a ele no chão da sala. Estiquei a mão para procurar por Frederic e ele se ajoelhou ao nosso lado, ainda muito sério. Seus olhos estavam vermelhos e podia ver o quanto de força ele fazia para não chorar.

- O que vai acontecer com a gente agora? – ele perguntou quase trincando os dentes para prender as lágrimas e sua voz saiu rouca.
- Nada vai mudar, nós vamos continuar aqui e eu vou cuidar de vocês – tentei soar o mais confiante que pude, queria passar confiança a eles naquele momento.
- Eles vão deixar a gente morar com você? – Thomas perguntou com a voz chorosa – Não vão nos mandar pra um orfanato?
- Eu não vou pra orfanato nenhum! – Frederic falou com raiva e uma lágrima solitária caiu, mas ele rapidamente secou.
- Vocês não vão pra nenhum orfanato, eu não vou permitir! – embora soubesse que não seria assim tão simples, jamais deixaria que me separassem de meus irmãos.
- Promete que vamos ficar juntos? – Frederic perguntou me encarando, os olhos ainda mais vermelhos.
- Nós nunca vamos nos separar – segurei seu rosto com firmeza ao falar – É uma promessa.

Frederic fechou os olhos e quando os abriu outra vez, já não conseguia mais controlar as lágrimas. Ele se aproximou mais e se aninhou no meu colo, afundando a cabeça em meu ombro e me abraçando com toda força que tinha enquanto chorava. Sabia que qualquer juiz iria tentar arrumar famílias capazes de criar meus irmãos e os mandar para elas, mas eu faria o possível e o impossível para impedir que isso acontecesse. Thomas e Frederic eram o que restavam da minha família e ia lutar para mantê-la unida, não importava a que preço.

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